Alexandre Rocha
São Paulo – Quem viaja a negócios sabe que para não perder tempo e dinheiro é bom verificar se no meio da estadia no exterior não há nenhum feriado, data nacional ou religiosa que possa inviabilizar os contatos empresariais. Com os países muçulmanos, incluindo os árabes, não é diferente, afinal por lá eles não adotam o calendário gregoriano e sim o islâmico. É bom saber as diferenças para não errar nos negócios.
Pelo calendário islâmico nós estamos no ano de 1427, contado a partir da hégira, como é chamada a migração do profeta Muhammad de Meca para Medina. "A partir daí foi criado o Estado Islâmico", disse o xeque Jihad Hassan Hammadeh, vice-presidente da Assembléia Mundial da Juventude Islâmica.
Como no Ocidente, o ano pelo calendário dos muçulmanos tem 12 meses, mas a semelhanças param mais ou menos por aí. Como ele é regido pelas fases da lua, cada mês tem entre 29 e 30 dias, o que faz com que o ano islâmico tenha cerca de 10 dias a menos. Portanto as datas de importância religiosa mudam todos os anos em comparação com o calendário gregoriano.
"A duração dos meses oscila de acordo com o ciclo completo da lua, por isso não dá para prever com antecedência. Os árabes estão acostumados a visualizar a lua, é o que faz com que os muçulmanos tenham um conhecimento profundo da astronomia", disse Hammadeh.
Mas calma, isso não quer dizer que você não vai conseguir marcar seus compromissos com antecedência. O próprio xeque Hammadeh explica que para o bom andamento da economia e de outras atividades extra-religiosas, os países islâmicos adotam um calendário fixo, baseado na previsão das fases da lua.
Ficam de fora apenas os períodos religiosos mais importantes, que são o nono mês do calendário, mais conhecido como Ramadã, e o 12° mês, quando ocorre o Hajj, a peregrinação a Meca. Como para determinar estas datas os muçulmanos ainda se fiam na observação direta da lua, o início e o fim de tais períodos podem variar de um país para o outro.
Ramadã
Para especialistas ouvidos pela ANBA, o Ramadã é o principal período que deve ser evitado se o assunto for fechar negócios. "Normalmente nesta época as pessoas estão mais voltadas para a religião, fazer negócios não é a prioridade", disse o secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Michel Alaby.
Este ano o Ramadã deverá começar no dia 22 de setembro e terminar em 21 de outubro, lembrando que o início e o fim podem variar dependendo do país. De acordo com Hammadeh, foi durante o nono mês que foram escritos os livros sagrados de todas as grandes religiões, não só o Alcorão, mas as escrituras cristãs e o Torá judeu. "Deus estabeleceu que todos os muçulmanos deveriam jejuar todos os dias deste mês", disse o xeque.
O jejum, que envolve comidas e bebidas, é praticado do nascer até o pôr do sol. "As pessoas trabalham durante o Ramadã, mas como não comem durante o dia ficam menos dispostas", disse a diretora do Banco ABC Brasil, Angela Martins, que acumula anos de experiência em viagens aos países árabes. "É um período complicado para os negócios porque as pessoas estão ocupadas com suas tarefas religiosas", acrescentou Luis Rota, trader do frigorífico Friboi para o Oriente Médio, que já viajou para a maioria dos países da região.
Mas isso não quer dizer que o Ramadã seja ruim para os negócios, muito pelo contrário. Embora as pessoas permaneçam em jejum durante o dia, elas comem à noite, e como a atividade comercial diminui, é costume fazer estoques nos meses que o antecedem. Além disso, é preciso atender à demanda do Eid Al-Fitr, feriado que ocorre logo após o fim do Ramadã e que é marcado por grandes festividades.
"No período de cinco meses antes do Ramadã as compras dos atacadistas e distribuidores são mais constantes, por causa da formação de estoques de alimentos, brindes e presentes", disse Alaby. No Eid Al-Fitr é costume trocar presentes, assim como os cristãos fazem no Natal.
Outra data religiosa importante é o Hajj. Mesmo que nem todo mundo esteja em peregrinação a Meca, ao final do Hajj há a Festa do Sacrifício, que é um feriado importante em todos os países islâmicos e lembra a passagem em que Abraão ia sacrificar seu filho, Ismael, em obediência a Deus, mas Deus decide poupar a vida de Ismael e manda sacrificar um carneiro em seu lugar. Este ano o Hajj vai ocorrer no final de dezembro.
Quem está acostumado a fazer negócios com os países árabes desaconselha também o verão, não por ser um período religioso, mas porque muita gente tira férias. "Julho, agosto e até a primeira semana de setembro é o período de férias de verão", disse Michel Alaby. "Nesta época o calor é muito forte na região e muitas pessoas viajam, você acaba não encontrando ninguém", disse Angela Martins.
Para Alaby, as melhores épocas para fazer negócios no mundo árabe, quando ocorrem os grandes eventos, feiras e missões comerciais, são de janeiro a junho, de setembro até o início do Ramadã e após o mês sagrado.
Finais de semana
Outra diferença entre os calendários ocorre nos dias da semana. Para os muçulmanos a sexta-feira é o dia de descanso e oração, como o domingo é para os católicos. Em diversos países islâmicos o final de semana ocorre na quinta e na sexta-feira.
"Sexta-feira é o dia em que Deus criou o ser humano, foi a última criatura a ser criada na última hora antes do pôr do sol", disse o xeque Hammadeh. No calendário islâmico a noite precede o dia, então o novo dia começa após o pôr do sol. Os muçulmanos acreditam também que o Dia do Juízo Final vai ocorrer em uma sexta-feira, assim como a ressurreição de todos para o julgamento perante Deus.
"O ideal é chegar num sábado, que é o início da semana, para aproveitar melhor a estadia", recomendou Luis Rota. No entanto, neste caso também existem variações de país para país que devem ser verificadas antes da viagem. Alaby diz, por exemplo, que na Tunísia, Marrocos e Líbano adota-se o fim de semana ocidental no que diz respeito a negócios. Angela Martins acrescenta que no Bahrein e no Kuwait o final de semana é na sexta e no sábado. "É bom verificar se o tipo de instituição com a qual você está negociando vai funcionar naquele dia ou não", afirmou ela.
Para quem vai viajar a negócios, a executiva do banco ABC dá uma dica: "Entre em contato com a sua contraparte na região, fale do período que você pretende viajar e veja se há algum problema." Afinal, além das datas religiosas, cada país tem suas peculiaridades, feriados nacionais e etc. Os hotéis e a internet também podem ser boas fontes de informação. "É só ficar de olho, existem diferenças em todos os lugares, em alguns países europeus, por exemplo, a segunda-feira após a Páscoa é feriado", acrescentou
Serviço
Veja o Calendário Islâmico no link abaixo
http://www.ccab.org.br/download/Calen_islamico06.pdf