Alexandre Rocha
São Paulo – O Brasil tem todas as condições para conseguir atrair investimentos externos, como quer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva – inclusive dos países árabes – , porque tem um mercado grande, diversificado e com boas possibilidades de retorno, conta com uma condução "responsável" de sua economia e goza de estabilidade política.
Essa pelo menos é a avaliação de Maria Helena Zockun, pesquisadora da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet).
"O Brasil tem uma política macroeconômica responsável, um mercado grande e estabilidade política. E isso está de bom tamanho, o governo não precisa oferecer mais nenhum incentivo", afirmou Maria Helena.
A capacidade de investimento de algumas nações árabes tem despertado o interesse de diversos países. Estima-se que investidores árabes retiraram só dos Estados Unidos, após os atentados de 11 de setembro de 2001, algo em torno de US$ 300 bilhões.
Um exemplo de país que está correndo atrás desse dinheiro é a Rússia. Segundo reportagem publicada na segunda-feira (29) pela ANBA, os russos esperam conseguir US$ 60 bilhões em investimentos da Arábia Saudita, principalmente no setor de energia.
Segundo Maria Helena, os investimentos externos no Brasil hoje correspondem a 15% do Produto Interno Bruto (PIB) do país. "Precisamos de mais 10% ao ano no mínimo", afirmou.
Para ela, o Brasil oferece opções nos mais variados setores, pois é um país "complexo e completo", com um amplo espectro de oportunidades. "Há muita coisa para ser vista por aqui, depende da vocação do investidor. Todo tipo de investimento é bem-vindo", afirmou ela.
Maria Helena reconhece, porém, que o Brasil necessita muito de investimento em infra-estrutura.
Sob esse ponto de vista, o economista e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (Ipea), Armando Castelar Pinheiro, diz que o país precisa oferecer algo a mais para os investidores. "Se um empresário da Arábia Saudita decidir investir, não será como operador do negócio, mas como sócio de capital. Para isso ele precisa de rentabilidade, segurança e um mínimo de liquidez", afirmou ele.
Segurança
Segurança para Castelar é a "segurança jurídica", ou seja, uma certa limitação à possibilidade de o governo poder fazer modificações contratuais de uma hora para a outra.
No tocante à liquidez, o economista recomenda a criação de um "mercado secundário" que consiste na permissão para o empresário poder negociar sua participação no empreendimento, por meio da venda de títulos, ou algo do gênero.
"Para um investidor estrangeiro, não-operacional, é ruim ter seu capital amarrado por 30 ou 40 anos", declarou ele, referindo-se ao fato de que os investimentos em infra-estrutura são de longo prazo e muitas vezes implicam outorgas estatais válidas por vários anos.
O pesquisador do Ipea lembra ainda que, para atrair capital externo, é preciso mostrar um quadro macroeconômico saudável, além de um "bom marco regulatório". Desse segundo ponto o Brasil padece um pouco no momento, pois há uma indefinição por parte do governo de como será o novo modelo de regulação, principalmente no que diz respeito às agências como a Agência Nacional do Petróleo (ANP), Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) e a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
"As novas regras ainda não estão claras, o que gera uma atitude de espera por parte dos investidores", disse Castelar.
Quem também fala em maior clareza nas regras para setores regulados da economia é o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento da Indústria (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida. Para ele, o Brasil já tem instituições econômicas sólidas e operadores treinados e competentes, mas o governo precisa definir melhor suas estratégias para atrair dinheiro estrangeiro.
Energia
Na área de infra-estrutura, Almeida cita o setor de energia e derivados como um bom campo para investimentos dos árabes, aí incluídos os ramos de energia elétrica, petróleo, gás e indústria petroquímica. "Esses são os setores nos quais eu vejo mais espaço para investimentos árabes", afirmou ele.
Almeida acredita que é possível uma maior aproximação entre os países do Oriente Médio e o Brasil. "Os investimentos árabes no Brasil ainda não são muito grandes. Mas a privatização, das teles principalmente, mostrou que é possível uma aproximação com novos parceiros, como ocorreu com a Espanha e Portugal", afirmou ele.
Como ponto de partida para alavancar esse investimentos, Almeida diz que o país deve fomentar o desenvolvimento de fundos de investimentos, participações em empresas emergentes e em projetos específicos.
No entanto, segundo sua avaliação, o Brasil necessita promover algumas alterações macroeconômicas, principalmente reduzir a taxa básica de juros, para que isso se torne viável. "Senão, todo mundo vai continuar a preferir apenas vir aqui para comprar títulos públicos", declarou.
Ele acha importante também, para os investimentos em infra-estrutura, a fixação das regras para as Parcerias Público-Privadas (PPP), que estão em estudo pelo governo.
Agronegócio
Além da área de energia, Almeida cita como foco em potencial de investimentos externos, principalmente dos árabes, o ramo do agronegócio. "Esse é um setor que está em franca expansão no Brasil", disse ele.
Na mesma linha, Castelar acrescenta que os países árabes são grandes importadores de alimentos. "A Arábia Saudita, por exemplo, importa muitos alimentos e o Brasil tem um enorme front agrícola ainda a ser explorado e recebe pouco dinheiro estrangeiro para investimento nessa área", afirmou o pesquisador do Ipea.
Segundo ele, a mineração também pode ser um atrativo em potencial e o setor do aço serviria para eventuais interessados apenas em investimentos de capital. "O Brasil tem bons operadores nessa área", disse.
Castelar acredita que o turismo também tem muito potencial de crescimento e pode ser chamativo para o dinheiro de fora, assim como a indústria em geral, "selecionando um pouco".
Maria Helena, por sua vez, cita a indústria de bens de consumo e operações financeiras, ambas voltadas para pessoas de renda mais baixa. "Talvez seja necessária uma criatividade maior para alcançar esse público, que os estrangeiros podem ter", declarou. Ela ainda citou o setor de serviços.
Para Maria Helena, o governo tem de investir no "marketing" do país lá fora para poder atrair estes investimentos. "O Brasil ainda é pouco conhecido, é confundido com resto da América, e precisa de promoção", afirmou.