Isaura Daniel
isaura.daniel@anba.com.br
São Paulo – “O Brasil é um país que não dirige a própria economia. Quando o mundo vai bem, o Brasil vai bem”. A afirmação foi feita pelo consultor Walter Brasil Mundell ontem (16) durante a palestra “O segundo mandato à luz do cenário global: mais do mesmo?”, na sede da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, em São Paulo. “O Brasil está surfando na economia mundial”, disse Mundell, defendendo a tese de que o momento vivido pelo país é reflexo de um movimento mundial, principalmente da economia dos Estados Unidos.
Os países emergentes, afirma Mundell, estão se beneficiando do crescimento do preço das commodities e das matérias-primas, desencadeado, por sua vez, pelo aumento de consumo entre os norte-americanos. O Brasil é um grande exportador de commodities e matérias-primas. Os norte-americanos, lembra o economista, começaram a consumir mais no início da atual década justamente pela queda da taxa de juros, determinada pelo Federal Reserve (FED), banco central dos Estados Unidos para conter o início de uma crise mundial.
O economista questionou, porém, durante a palestra, a continuidade desse consumo acelerado nos Estados Unidos e falou sobre os reflexos que isso traria para o Brasil. “Se houver uma crise externa vamos crescer menos ainda do que hoje”, afirmou Mundell. Para o consultor, as chances de ocorrer uma recessão mundial são “razoáveis”. O FED já aumentou a taxa de juros. Os norte-americanos estão com a poupança bastante negativa em função do preço dos imóveis, o grande investimento deles, que estão caindo.
“Se os imóveis caem de preço, os norte-americanos consomem menos. Vinte por cento da renda dos norte-americanos está comprometida com dívidas e os empreendimentos imobiliários respondem por 76% desse endividamento. Os norte-americanos fizeram operações fantásticas para extrair renda dos seus imóveis, que agora estão caindo de preço. Os bancos dos Estados Unidos já começam a segurar o crédito”, afirma. Os preços dos produtos importados estão subindo e o uso da capacidade industrial instalada no país também está elevada. Isso indica que para conter a inflação, os EUA devem aumentar ainda mais os juros e assim reduzir o crédito e consumo.
E como isso chega ao Brasil? “Eles vão consumir menos. São eles que sustentam o preço das commodities”, diz Mundell. Ele lembra ainda que quando a produção industrial dos Estados Unidos cai, também cai o preço dos metais no mundo. “O que vai ocorrer se nossa economia continuar sendo ditada pelo preço das commodities?”, perguntou o economista para o público que compareceu à palestra. “Quanto mais sobe o preço das matérias-primas, mais o real se valoriza frente ao dólar. A inflação cai porque o real se valoriza”, explica.
Mundell prega uma diminuição do tamanho do governo no Brasil para que o país possa estar mais forte frente a uma possível crise mundial com a execução de reformas. Uma menor carga tributária, mais gastos com infra-estrutura e menos com previdência são defendidos pelo consultor. Segundo Mundell, 60% do gasto social do governo atualmente é com benefícios previdenciários e metade do Produto Interno Bruto (PIB) do país é informal.
O economista lembrou também os acontecimentos econômicos de outros períodos da história, como a década de 90, que trouxeram o Brasil e o mundo ao seu atual estágio econômico. Mundell falou para uma platéia de cerca de cem pessoas no Espaço Câmara Árabe. É a segunda vez que o economista faz uma palestra na entidade. A anterior havia ocorrido em outubro de 2005. Compuseram a mesa, durante a palestra, também o vice-presidente de Relações Internacionais da Câmara Árabe, Helmi Nasr, o presidente do Conselho Superior de Administração da entidade, Willian Adib Dib, e o diretor cultural, Mário Rizkallah.