São Paulo – Em comemoração aos dez anos de estreia do documentário Constantino, a Câmara de Comércio Árabe Brasileira exibiu o filme na noite desta quarta-feira (02), em São Paulo. “Este é o primeiro evento do estilo na atual sede da Câmara Árabe. Agora, esperamos realizar muitas outras exibições de filmes como esta”, afirmou Silvia Antibas, diretora cultural da entidade.
O longa foi dirigido por Otavio Cury (foto do alto), que viajou a Síria, terra natal de seu bisavô, em busca de uma identidade que ele descreve como ‘fragmentada’ pela língua que se tornou incompreensível, e um oceano e um século que o separavam de suas raízes. “Lá em casa sempre ouvi falar ‘nós árabes somos assim’, mas o que é isso? Então para mim, [o documentário] era uma ponte que talvez alimentasse meu desejo de identidade”, revelou Cury em bate-papo com a plateia, após a exibição.
O filme está disponível na plataforma iTunes e, dez anos depois do lançamento, o diretor acredita que pode ver com mais clareza a própria obra. “Fico muito feliz com a oportunidade porque nós diretores, quando lançamos, não pensamos o suficiente sobre o filme ainda. Começamos a pensar quando o filme vai a público, aí ele passa a existir. E esse filme é de muita complexidade, inclusive com o que aconteceu com a Síria. Ter a chance de exibir aqui em um ambiente árabe-brasileiro, em um lindo anfiteatro, com pessoas realmente interessadas e que conhecem muito da história que está sendo contada, para mim é uma sensação de muito afeto”, declarou Cury à ANBA.
Reinventando o passado
O avô de Cury migrou para o Brasil e na família ninguém mais fala a língua árabe. O documentário surgiu justamente em meio à busca pela tradução de um livro que narra a história do bisavô, Daud Constantino Al-Khoury. O documento foi descoberto pela família em uma visita à Síria, em 2001. Anos mais tarde, em 2007, o cineasta decidiu se dedicar ao achado e aos vestígios da vida de Daud. “Mais do que descobrir, eu tive a liberdade de reinventar meu bisavô”, afirmou o diretor.
Foi em viagens do bisneto às cidades de Homs e Damasco que se revelaram os trabalhos que Daud desenvolveu em áreas como o teatro. “Sabíamos apenas que ele foi um professor. E ele foi o principal colaborador do cara que veio a ser o pai do teatro árabe. O filme faz um pouco esse caminho de volta. Essa é uma história completamente diferente de imigração. De alguém que vai atrás do passado – inacessível porque é passado – através de um livro de teatro e poesia como guia, e existe então a busca por essa imagem, poesia”, explicou Otavio.
O livro “Obras completas do mestre Daud Constantino Al-Khoury”, encontrado por Otavio, está sendo digitalizado pela Câmara Árabe. O diretor, agora, se dedica a novos projetos de audiovisual. “Depois desse filme, eu me envolvi com o universo dos povos indígenas brasileiros. Fiz dois filmes e agora estou fazendo um terceiro, que é a biografia de um ex-presidente da Funai, que dedicou a vida a indígenas isolados. Tem a ver com a origem de alguma maneira. Constantino era um pouco a minha origem e minha identidade. Nesses próximos projetos estou falando de Brasil”, concluiu.