São Paulo – A construção civil é um dos setores brasileiros que vai estar no centro das atenções em 2010. Segundo previsão da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Produto Interno Bruto (PIB) do setor deve crescer 8,8% no próximo ano, enquanto a estimativa do Banco Central sobre o aumento do PIB como um todo é de 5%. Expansão do crédito imobiliário, aumento dos investimentos e o déficit habitacional do país deverão puxar o crescimento.
“Em 2010, os investimentos estrangeiros diretos devem ser bastante favoráveis para esses fatores”, afirmou Luis Afonso Lima, presidente da Sociedade Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica (Sobeet). A previsão é de que os investimentos estrangeiros em 2010 somem US$ 40 bilhões, saindo de US$ 25 bilhões desse ano. “O setor da construção civil deve receber uma boa fatia desses investimentos”, acrescentou Lima.
De janeiro a outubro de 2009, o setor da construção recebeu US$ 1,2 bilhão em investimentos estrangeiros, o que representou 5,4% do total que entrou no país. O segmento mais representativo foi o de construção de edifícios, com investimentos da ordem de US$ 608 milhões. Em seguida está o das atividades imobiliárias, que inclui a compra de imobiliárias por estrangeiros, como ocorreu com a incorporadora Abyara no início de 2009, comprada por um empresário espanhol. O segmento teve investimentos de US$ 455 milhões.
Outras duas atividades que receberam investimento externo dentro do setor da construção foram as de obras de infraestrutura, com US$ 106 milhões, e serviços de engenharia e arquitetura, com US$ 49 milhões. De acordo com Lima, os principais investidores são grupos dos Estados Unidos e da Europa.
“A expulsão de investimentos em países mais adiantados, como Estados Unidos e Europa, a expansão do crédito imobiliário e o déficit habitacional tornam o Brasil um gigantesco atrativo no setor”, afirmou o presidente da Sobeet. A última estimativa da FGV aponta que o país tem um déficit habitacional de 5,5 milhões de moradias.
Um exemplo concreto de que o Brasil já está despertando o interesse de investidores estrangeiros no setor, inclusive de árabes, é o caso do projeto residencial e turístico Termas de Tabuleiro, em Santo Amaro da Imperatriz, perto de Florianópolis, capital de Santa Catarina. O resort, de propriedade da empresa catarinense Baden Baden Turismo é fruto de uma parceria com um investidor do Kuwait, que juntos aplicaram R$ 90 milhões.
De acordo com o proprietário da empresa catarinense, Bassan Giorge Necola Hanna, os árabes estão demonstrando muito interesse no setor de construção no Brasil. Recentemente, um grupo de investidores da Arábia Saudita esteve em Santa Catarina para checar as oportunidades de investimentos e demonstraram interesses nas áreas turísticas e de infraestrutura. Segundo Hanna, os sauditas pretendem investir cerca de US$ 2 bilhões no Brasil. Em janeiro, o grupo já tem encontros marcados no estado.
No inicio do ano, também esteve no Brasil um representante do Grupo Jumeirah, maior rede hoteleira de Dubai, nos Emirados Árabes. O grupo ainda não anunciou nenhum investimento no país, mas está de olho no Nordeste.
Esportes
Um dos fatores que também deve impulsionar investimentos estrangeiros no país é a Copa do Mundo, em 2014, e as Olimpíadas, em 2016. Segundo dados do Ministério do Turismo, cerca de 600 mil estrangeiros devem visitar o país apenas nos 30 dias da Copa. Com as Olimpíadas, o governo estima um crescimento de 10% a 15% no volume de turistas.
Um estudo encomendado pelo Ministério do Esporte mostra que os jogos olímpicos devem gerar na economia o triplo do que for investido. Esse efeito multiplicador deve se dar sobre uma previsão de R$ 28,8 bilhões em investimentos públicos e da iniciativa privada.
Um milhão de moradias
De acordo com o presidente do Sinduscon-SP, Sergio Watanabe, em nota divulgada pela entidade, o crescimento da construção em 2010 será comandado pela ampliação dos investimentos públicos e privados. Espera-se uma taxa total de investimento na economia brasileira em torno de 20% do PIB. Segundo Watanabe, somente no ramo imobiliário os investimentos devem passar de R$ 170 bilhões em 2009 para R$ 202 bilhões em 2010.
Entre esses investimentos estão R$ 34 bilhões do governo federal para a construção de um milhão de moradias. A construção dos imóveis faz parte do programa “Minha Casa, Minha Vida”, criado para diminuir o déficit imobiliário no Brasil. As famílias que ganham até 10 salários mínimos (R$ 4,65 mil) terão direto de fazer o financiamento.
Com essa previsão de boom do setor de construção, o grupo Camargo Corrêa, por exemplo, investirá recursos na compra de terrenos para o desenvolvimento de futuras unidades imobiliárias, principalmente nos segmentos de baixa renda e econômicos, “onde a demanda está explosiva, respaldada por condições sociais e macroeconômicas favoráveis pelo Programa Minha Casa, Minha”, informou a empresa por email. Ao todo, está previsto o lançamento de aproximadamente 11 mil unidades em vários projetos.
Segundo a companhia, este ano ela lançou 3.045 unidades imobiliárias, que corresponderam a um valor de vendas de R$ 551 milhões. Para 2010, além das moradias populares, o grupo pretende investir em empreendimentos comerciais e residências de luxo.
Maior gerador de empregos
A construção civil é o setor com maior expectativa de contratação de funcionários para o primeiro trimestre de 2010 no Brasil. A afirmação é da Pesquisa de Expectativa de Emprego da Manpower, empresa de recursos humanos.
Segundo a pesquisa, o Brasil é o país da América mais otimista quanto ao aumento de contratações. Na construção civil, a expectativa líquida de emprego pulou de 7% no último trimestre de 2009 para 46% no primeiro de 2010. De acordo com o ministro do Trabalho e Emprego, Carlos Lupi, os setores de serviços e da construção civil serão os principais responsáveis pela geração de empregos no próximo ano. A Copa do Mundo e as Olimpíadas, para o ministro, vão fazer com que esses setores tenham forte expansão.
Em novembro de 2009, a construção civil gerou 17,8 mil novos postos de trabalho. No acumulado do ano, o setor gerou mais de 228 mil novos postos de trabalho. Segundo estudo da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção (Abramat), elaborado pela FGV, o setor da construção deve contratar em 2010 mais 180 mil trabalhadores, o que será um aumento de 8% na oferta de vagas com carteira assinada.
Com esse boom do setor e a expansão da mão-de-obra, o desafio agora é não deixar faltar trabalhadores qualificados para acompanhar o ritmo da construção.