Cláudia Abreu
São Paulo – Maria Cecília Machado tem o dom da criatividade. Olha para materiais comuns e logo imagina um acessório. Foi assim com a taboa, planta de mais de dois metros de altura que cresce em abundância nos brejos do interior de Minas Gerais. O capim, ao qual ninguém da região dava muita importância, foi rapidamente usado por Cecília para fazer bolsas e sandálias. Também virou parceiro inseparável do couro. O resultado: peças coloridas e refinadas que neste mês colocam os "pezinhos", como diriam os mineiros, no exterior, quando a artista-empresária embarcará 30 bolsas para uma rede de lojas na Alemanha.
A história de Cecília com o artesanato brasileiro começou há alguns anos, quando era supervisora de vendas de uma fábrica de bolsas em São Paulo. No entanto, ganhou força em 2003, quando ela decidiu procurar uma alternativa às importações que lojas brasileiras faziam de bolsas de palha fabricadas na Indonésia e na China. Rodou por vários estados do país procurando mão-de-obra e matéria-prima para confeccionar as peças que tinha em mente. Estava quase desistindo quando recebeu um chamado do prefeito da pequena cidade de Nova Resende, no Sul de Minas. Encontrou mão-de-obra e começou o seu projeto.
"O início não foi fácil", diz Cecília. "Apesar de ter gente com vontade de trabalhar e da taboa, as pessoas não sabiam trançar palha, muito menos fazer bolsas", completa. A região é produtora de café, portanto os trabalhadores eram aptos a cuidar das lavouras e da colheita do fruto. Mas Cecília não desistiu. Treinou quem quis aprender, chamou artesãos de outros estados para ensinar os mineiros e montou um grupo. Para ganhar a confiança dos moradores, ela começou a comprar toda a produção deles, mesmo quando não atendia às suas expectativas. Hoje 30 artesãos trabalham com Cecília. A produção – em geral – é de 300 bolsas por mês.
Como o material era novo, a empresária também teve de resolver problemas técnicos. "Tivemos de descobrir o tempo de secagem, a tinta ideal", explica. Depois de colhida, por exemplo, a taboa leva entre sete a 10 dias secando. Só depois desse período é que está pronta para ser trabalhada. Cecília também procurou solução para um problema característico das bolsas de palha: a boca mais larga do que o fundo. Era feito desse modo para que a peça não rasgasse na hora em que fosse tirada da forma. "Fiz vários testes e descobri que podia usar bolas de encher como formas, depois, é só murchar a bola para tirar a bolsa. Aí a boca fica do tamanho que você quiser", conta ela.
Oito meses depois, resolvidos os principais imbróglios e com as primeiras bolsas prontas para serem apresentadas ao mercado, Cecília partiu para São Paulo e Rio de Janeiro. Conseguiu clientes importantes de cara. Vendeu as bolsas para marcas como Blue Man e Lenny e para as boutiques Daslu e Clube Chocolate. O sucesso da primeira empreitada deu mais asas à imaginação de Cecília. Além da palha, ela passou a trabalhar também com couro. "Desse modo, consigo ter peças também para a coleção de inverno", explica Cecília.
E.V.A
Para este ano, a novidade é um material chamado E.V.A, um emborrachado usado muito em tapetes para banheiro, que tem uma infinidade de cores. As peças ainda estão sendo fabricadas, mas Cecília gostou dos primeiros resultados. O material é misturado com palha, couro ou sozinho. "Acho que vai ser a sensação do próximo verão. Tem mil cores e várias possibilidades. É mais caro, mas vale a pena", afirma. Os preços das bolsas de Cecília variam entre R$ 20 – a mais barata – e R$ 300, a mais custosa. O E.V.A também será usado na confecção de chinelos. "A idéia é que seja uma alternativa bonitinha às Havaianas", conta.
Outra idéia que Maria Cecília está estudando é usar crochê na fabricação das bolsas. "Descobri que a região é rica em crocheteiras, pretendo usar essa mão-de-obra também e integrá-las à produção das peças", conta. No entanto, ao invés de linha, Cecília quer fazer crochê com couro. "Cortei o material em tiras bem finas e dei para as mulheres, vamos ver o que elas conseguirão fazer", explica.
Social
O trabalho com as bolsas também ganhou uma razão social. Cecília passou a contar com a mão-de-obra de presos da cadeia local. Um deles trabalha no escritório da artista plástica, é fixo, ganha um salário e, dessa forma, abate sua pena. Mas sua principal contribuição à cidade, acredita Cecília, é a distribuição de renda. "Estou trazendo dinheiro novo, de São Paulo, do Rio, e até do exterior para o interior do país, para uma cidade que jamais pensava em fazer bolsas", completa.
Contato
Site: www.ceciliamachado.com.br