Débora Rubin
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São Paulo – As mãos que entrelaçam a lã produzem o cachecol, o manto, o tapete. As mãos que trabalham a fibra fazem cestas, vasos e bandejas. Juntas, elas dão vida à cooperativa Mão Gaúcha, que reúne atualmente 132 artesãos de todas as partes do Rio Grande do Sul. E cada um com sua respectiva especialidade. "A idéia é unir o que há de melhor no artesanato gaúcho, utilizando técnicas antigas e tradicionais, mas com novos materiais, novas idéias", explica Brunhild Fristsch, vice-presidente da cooperativa. Além da lã e da fibra, a Mão Gaúcha oferece produtos em cerâmica, couro e semi-jóias feitas com prata e pedras abundantes na região, como a ametista.
O grupo tem como origem uma cooperativa de artesãos criada nos anos 80 cujo enfoque era somente o trabalho com lã. Em 1989, ela cresceu e se tornou a Cooperativa dos Artesãos do Rio Grande do Sul (Cooparigs). Durante os anos 90, com uma diminuição do frio na região, a demanda pelos produtos de lã caíram muito. A solução foi diversificar. A Cooparigs buscou ajuda do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) para cursos de capacitação e para se firmar como uma marca. Novos artesãos, com produtos alternativos à lã, se somaram ao grupo. Em 1998, foi criado o selo Mão Gaúcha. "Depois da criação da marca, passamos a ter uma identidade única. Ficou muito mais fácil comercializar”, diz Brunhild.
Hoje, os principais clientes são a loja Tok Stok, o grupo Pão de Açúcar e algumas lojas de decoração de São Paulo. "No Rio Grande do Sul, a marca poderia ser bem mais conhecida do que é", explica a vice-presidente. A marca também chegou a ter duas lojas em Porto Alegre, mas ambas fecharam recentemente porque não se auto-sustentavam. "Hoje, só fazemos vendas diretas."
Mercado externo
A exportação já faz parte da história da cooperativa. Nos anos 80, quando o enfoque ainda era a lã, algumas peças foram vendidas para os Estados Unidos. Logo após o lançamento da marca Mão Gaúcha, no final dos anos 90, um italiano de Bolzano descobriu o trabalho dos artesãos e virou o principal comprador. Chegou a montar um showroom com as peças gaúchas em Milão. No ano passado, no entanto, ele montou seu próprio grupo de produção e, além de deixar de comprar da cooperativa, levou com ele grande parte das artesãs do núcleo têxtil – que era o principal segmento da Mão Gaúcha.
"Foi um baque", lembra Brunhild. "Mas já virou passado. Agora é buscar novos canais de exportação e investir na cestaria, que está tendo uma demanda enorme." Atualmente, a marca faz vendas pontuais para lojas que vendem "artigos de terceiro mundo" em Luxemburgo e na Alemanha.
O artesão filiado à cooperativa ganha por produção. Muitas vezes ele representa toda uma família que ajuda na confecção das peças. Calcula-se que mais de 400 pessoas estejam trabalhando nos produtos. Ao todo, a cooperativa reúne 35 núcleos produtivos do estado. Desde 2002, o trabalho da Mão Gaúcha leva o selo da Unesco, que a reconhece como projeto social.
Brunhild diz que está cada vez mais difícil comercializar artesanato, tamanha a oferta disponível. "Virou moda e ocupação para desempregados e idosos", atesta. Por isso, explica, o grupo está sempre de olho no aperfeiçoamento, na mistura entre técnicas antigas e novas e diferentes materiais. A Mão Gaúcha faz, por exemplo, cestas com restos de couro que a indústria calçadista do estado descarta. O couro é entrelaçado junto com a fibra, dando ainda mais resistência à peça. "É uma peça ecologicamente correta, pois usamos o que antes era jogado fora. E é único. Até onde eu sei, só se faz isso aqui no Rio Grande do Sul", diz Brunhild.
Mão Gaúcha
+55 (51) 3374-3382
www.maogaucha.com.br