São Paulo – O paulista descendente de libaneses, Alvaro Razuk, tem o olhar tranqüilo, atento e a conversa boa. Não daquelas mansas, simplesmente boa e interessante. Uma palavra perdida no meio da frase, um livro espalhado na mesa de trabalho, um quadro na parede é sempre a “deixa” para uma história pitoresca. De trabalho ou de vida. Como a sua harmoniosa parceria com o MIS (Museu da Imagem e do Som) de São Paulo, que Razuk reformou recentemente, criando espaços para novas tecnologias, e onde também realiza exposições de diversos artistas. “Gosto muito de museu. É um dos lugares onde me sinto bem”, conta ele.
Arquiteto de formação, Razuk começou a montar e planejar mostras quase por acaso, em 1996. O que era uma espécie de “passeio por uma outra área” logo virou profissão. “As pessoas acabaram por me especializar nisso”, diz ele. Hoje, Razuk realiza eventos em diversos espaços culturais Brasil afora e é quem dá uniformidade às exposições realizadas no MIS, por exemplo. Todas as mostras montadas lá passam pelo seu crivo, mas as conversas não têm ruídos. “A relação entre arquiteto e artistas funciona muito bem, falamos a mesma linguagem”, diz Razuk.
Fato comprovado pelas peças penduradas na parede do arquiteto, que abrigam obras do internacionalmente conhecido fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado e de profissionais como Cristiano Mascaro e Claudia Jaguaribe, entre outros. Razuk já trabalhou com todos eles. Para Salgado, por exemplo, realizou duas mostras importantes: a Êxodos, em 2000, no Sesc Pompéia, em São Paulo, e Gênesis, em 2005, no MAO (Museu de Artes e Ofícios) de Belo Horizonte, Minas Gerais, e também na Marquise do Ibirapuera, em São Paulo. Sucesso de público e de crítica, garantido por alguns pontos fundamentais considerados na hora da execução do projeto.
Na cartilha de Razuk, primeiro é preciso “entender o conceito do artista”. Depois, levar em consideração o espaço expositivo e a natureza do trabalho. “A partir daí, proponho um desenho para a mostra”, explica e completa: “O desenho tem de valorizar o trabalho e entender o lugar onde ele está sendo exposto.”
Paisagens do Líbano e o Pequeno Príncipe
Para 2009, Razuk está trabalhando num projeto que retorna às suas origens árabes, o Outro Líbano, que traz para o Brasil o trabalho do francês Pascal Beaudenou. Apesar de ainda não ter viajado aos países árabes – houve uma tentativa, de veleiro, quando o arquiteto viajava pela Europa, mas que acabou sendo abortada por causa da guerra na região do Golfo – o arquiteto cultiva a curiosidade pelo país.
O Outro Líbano reúne um livro de fotografias panorâmicas com 40 paisagens libanesas produzidas por Beaudenou, que residiu em Beirute por vários anos. "É algo diferente do que estamos acostumados a ver sobre o país", diz. O volume foi lançado em 2005, em francês, mas a edição não chegou ao Brasil. Além do livro, estão previstas uma mostra com as imagens captadas pela lente do artista e palestras educativas, que serão ministradas por Beaudenou. A exposição será itinerante, além de São Paulo deve ir ao Rio de Janeiro e Brasília, mas os locais ainda não estão fechados. O projeto passou pelo Ministério da Cultura e está em fase de captação de recursos. O valor aprovado é de R$ 761 mil.
Enquanto aguarda o Outro Líbano, Razuk trabalha na montagem de outras exposições, como a Mémoire D’Aéropostale, no Centro Cultural Correios, no Rio de Janeiro. A mostra faz parte das comemorações do Ano da França no Brasil, abriu no dia 18 de março, e, com imagens, conta a história da charmosa Compagnie Générale Aéropostale, criada na França, após a Primeira Guerra Mundial pelo visionário Pierre-Georges Latécoère. O empresário entendeu a necessidade de estreitar a comunicação entre os países e montou a empresa aérea para transportar o correio, interligando Europa e América.
No quadro de pilotos da Aéropostale, muitos profissionais desempregados, que tinham servido na guerra, e também um ilustre: Antonio de Saint Exupéry, autor do clássico O Pequeno Príncipe. “Ele fazia uma linha que vinha para o Brasil, inclusive, e aqui era conhecido como Zé Perry”, conta Razuk, agora com o olhar triunfante dos contadores de boas histórias.
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Alvaro Razuk Arquitetura
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