São Paulo – O setor produtivo brasileiro espera reduzir custos operacionais e encurtar o tempo de transporte de mercadorias a partir das concessões de rodovias federais anunciada pelo governo no ano passado. A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) está dando andamento ao processo e deve publicar na segunda quinzena de junho o estudo definitivo para as concessões. Elas trarão a duplicação de trechos de sete rodovias brasileiras nos estados de Tocantins, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Mato Grosso, Bahia e Espírito Santo, além do Distrito Federal, num total de 5.748,3 quilômetros. A expectativa da iniciativa privada é que os leilões para as concessões ocorram ainda neste ano.
“As obras de melhorias e duplicação das rodovias tendem a solucionar os problemas atuais, gerando mais eficiência ao transporte, menos acidentes e menores custos operacionais”, afirma o presidente da Confederação Nacional dos Transportes (CNT), Clésio Andrade. As rodovias envolvidas serão as BRs 101, 262, 153, 050, 060, 163 e 267, algumas em mais de um trecho. De acordo com Andrade, essas vias são de extrema importância para o escoamento da produção agrícola e industrial do Brasil. “Produtos como soja e milho tendem a se beneficiar dos menores custos de movimentação”, afirmou o presidente da CNT à ANBA.
O Mato Grosso do Sul terá 1.423 quilômetros de estradas concedidas, englobando trechos das BRs 163, 262 e 267. De acordo com o assessor técnico da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Mato Grosso do Sul (Famasul), Lucas Galvan, a expectativa é que, com a duplicação, os produtos cheguem mais rápido aos portos. As três rodovias à espera de concessão são as principais vias de acesso do estado aos portos de Paranaguá e Santos, por onde o estado escoa 75% a 80% da exportação do agronegócio. Elas são caminho dos portos também para o estado do Mato Grosso, informa Galvan.
Minas Gerais terá três extensões de rodovias concedidas, duas nas BR 262 e uma na BR-050. Segundo o economista da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Paulo Casaca, elas são importantes para o setor produtivo, principalmente porque são rotas para o transporte de matérias-primas, vindas do Centro-Oeste, para a indústria de alimentos e bebidas. Minas Gerais tem agronegócio forte, mas também conta com produtos vindos do Centro-Oeste para a transformação industrial. “Minas Gerais também é um ponto de passagem do Centro-Oeste para estados que são banhados pelo mar”, diz Casaca.
Pesquisa da CNT mostra que das sete rodovias que serão concedidas, cinco estão em situação regular. Duas, as BRs 153 e 050, estão em condições boas. “À medida que a condição da rodovia piora, aumenta o custo operacional dos caminhões”, afirma Andrade. São custos com combustíveis, desgaste de pneus e manutenção da frota. Segundo a CNT, em pavimentos considerados bons, o custo operacional é 18,8% maior do que nos ótimos. Nos regulares é 41% maior, nos ruins o custo aumenta 65,6% e nos péssimos 91,5%.
De acordo com Galvan, a conservação do asfalto das rodovias que serão duplicadas em Minas Gerais está boa. O problema, segundo ele, é a falta de pista dupla em toda a extensão. Os caminhões que se enfileiram na via, segundo ele, acabam afetando o tráfego de veículos comuns, que não conseguem fazer ultrapassagens. “Essas solicitações são antigas”, diz Galvan, sobre as duplicações. Em Minas a situação é parecida. “São rodovias que há muito tempo precisavam ser reformadas, não estão totalmente duplicadas e isso causa muitos acidentes”, afirma Casaca, da Fiemg. A Associação Brasileira de Logística (Abralog) também aponta os acidentes como principais problemas das estradas que serão concedidas e diz que os benefícios virão principalmente da melhoria da segurança para os usuários.
“Qualquer melhoria, em especial duplicações, aumenta a segurança, a velocidade média e contribui para a produtividade do transporte”, afirma o vice-presidente de Marketing da Abralog, Edson Carillo. Ele lembra, no entanto, que as rodovias não são atualmente a melhor opção para o transporte de mercadorias. “Para o percurso de grandes distâncias e em especial no escoamento de safras, o modal rodoviário não tem se mostrado a melhor alternativa”, afirma Carillo.
Galvan, do Mato Grosso do Sul, aponta como opção mais barata e ágil para escoamento do agronegócio as ferrovias e hidrovias. Mas admite que mesmo assim é preciso investir em rodovias. “Mas todo o modal foi direcionado para o rodoviário e agora, então, é preciso investir nele, ele tem que ser melhorado”, afirma o assessor técnico da Famasul.
A CNT identificou a necessidade de duplicação e a viabilidade dos projetos de alguns dos trechos que serão concedidos antes do anúncio do governo. A entidade tem um plano de transporte e logística que aponta a necessidade de investimentos na multimodalidade no Brasil. “Pelo plano seriam necessários mais de R$ 400 bilhões de investimentos em obras de melhoria e construção de infraestrutura em todos os modais”, afirma o presidente da CNT.
O pedágio
Uma das preocupações do setor produtivo quanto às novas concessões de rodovias é o preço do pedágio que será aplicado a estes trechos. Casaca, da Fiemg, afirma que a experiência com vias que já passaram pelo processo indica que a concessão é vantajosa. “Se o pedágio não for abusivo, se mostra vantajoso”, afirma ele. Galvan tem opinião parecida. “O pedágio é uma preocupação. O investimento é importante para o setor, mas tem que ver o custo para o usuário, o custo não pode onerar o produto, o tempo de viagem mais curto tem que compensar o custo”, afirma o assessor técnico da Famasul. A Abralog também afirma que espera que o valor do pedágio compense. “A tendência é que o usuário perceba o valor no serviço oferecido”, diz Carillo.
A CNT acredita que o pedágio compensa a redução dos custos elevados de transporte, de acordo com Andrade, devido às atuais condições das rodovias. “Mas vale ressaltar que os valores exagerados de pedágio tendem a atrapalhar o desenvolvimento do setor”, afirma o presidente da CNT. Na última semana, a ANTT divulgou que haverá aumento no pedágio estipulado inicialmente pelo governo para as concessões, o que foi feito para tornar os leilões mais atrativos. O aumento foi de até 62% para a BR 153 em Goiás e Tocantis. O teto passou de R$ 5,84 por cem quilômetros para R$ 9,48 para a mesma quilometragem.


