São Paulo – Mel, cosméticos, calçados, roupas, frutas, tecnologia são produtos fabricados por micro e pequenas empresas paulistas. E também são produtos que saem todos os meses do pátio destas companhias para ganhar o mundo. O estado responde por 37,3% das exportações das micro e pequenas (MPEs) brasileiras, segundo dados do Serviço Brasileira de Apoio às Micro e Pequenas (Sebrae-SP), e é a região do Brasil onde esse perfil de empresa tem mais força no mercado internacional.
O estado tem o maior valor exportado entre micro e pequenas companhias, segundo o diretor-superintendente do Sebrae-SP, Ricardo Tortorella. "As pequenas empresas (de São Paulo), em função da facilidade dos meios de comunicação e de transporte, têm a cada dia se integrado mais com empresas estrangeiras e com o mercado exterior, e este intercâmbio tornou nosso empresário mais aberto para as questões relacionadas à internacionalização", afirmou Tortorella.
Segundo o gerente-geral de Negócios da Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (Apex), Sérgio Costa, o estado de São Paulo responde por 27,8% das exportações brasileiras totais, o que mostra a força das empresas no mercado internacional. "Temos São Paulo como um grande exportador de produtos acabados", disse.
Ele destacou alimentos processados, autopeças, veículos, equipamentos médicos e odontológicos, móveis, têxteis, máquinas e equipamentos diversos e peças para aeronáutica como produtos vendidos pelos pequenos. "São Paulo, além de ter uma grande diversificação de produtos, tem empresas para competir no mercado internacional com produtos de alto valor agregado", afirmou Costa.
O executivo destacou ainda que o estado é um grande exportador de serviços, com a presença de escritórios de design, publicidade e propaganda no exterior. "São Paulo está se posicionando de forma bem agressiva, com uma atuação profissionalizada para exportar", afirmou. Um dos motivos para isso, segundo ele, é que o estado oferece um apoio forte para os pequenos empresários se capacitarem, com institutos de pesquisas tecnológicas, centros de tecnologia e laboratórios que auxiliam no desenvolvimento dos produtos.
De acordo com Tortorella, o número de pequenas empresas exportadoras tem caído, principalmente em função da valorização do real. As principais dificuldades enfrentadas no mercado externo, segundo ele, são a baixa capacidade produtiva; produtos que não atendem à qualidade exigida por muitos mercados; desconhecimento de hábitos, costumes, regulamentos e legislação de outros países; falta de logística e embalagens adequadas; pouco recurso para eventos internacionais; e não ter bons catálogos de apresentação dos produtos.
A limitação de recursos financeiros também é um entrave para que as pequenas alcancem mercados mais distantes. A proximidade com os países da América Latina faz com que a região represente 40% das exportações das pequenas. Costa afirma que São Paulo é o maior "hub" aéreo do Brasil, o que, por outro lado, facilita a ida dessas empresas para outros países.
Apesar das dificuldades, Tortorella diz que as pequenas empresas estão se adaptando ao real valorizado, com vendas de produtos para nichos de mercados onde os consumidores são menos sensíveis a preços, querem produtos diferenciados e não se incomodam em pagar um pouco mais por isso.
Crescendo e exportando
A empresa de São Paulo Blue Macaw Flora, fabricante de ingredientes naturais de frutas exóticas para alimentos, cosméticos e saúde, é um exemplo de pequena que vem fazendo a lição de casa para conquistar o mercado externo.
Fundada em 2007 por duas sócias, a empresa emprega hoje quatro funcionários diretos e terceiriza outros 20 profissionais. "O primeiro ano foi basicamente dedicado à constituição da empresa, pesquisa de mercado, desenvolvimento de fornecedor, levantamento de potenciais clientes, adequação de produtos, criação da marca, elaboração do website e desenvolvimento do material técnico e promocional", afirmou a sócia Ana Tovasi.
Segundo ela, a empresa foi criada para atender o mercado externo. Os pós de frutas como umbu, cajá, graviola, açaí, goiaba, acerola e maracujá em pouco tempo chamaram a atenção de outros países. Eles servem, principalmente, para a indústria alimentícia na fabricação de doces, bolos, sucos, shakes, cereais matinais e coberturas para sorvetes. Por mês, a empresa embarca cerca de 15 toneladas para o exterior.
As primeiras exportações foram realizadas no final de 2008. "Ainda estamos em um estágio inicial de desenvolvimento de clientes. O ciclo de vendas do nosso produto é bastante longo, mas já exportamos para os Estados Unidos, Canadá, África do Sul, França, Alemanha, Noruega, República Checa, Austrália, Japão e Coréia", disse a sócia.
"Podemos dizer que exportar é sempre um desafio, o mercado internacional é sempre muito exigente, principalmente com relação aos requisitos de qualidade, certificações e agora também está muito alta a questão de sustentabilidade", disse Ana. Entre os principais problemas enfrentados para exportar, segundo ela, estão a variação cambial, que faz os produtos brasileiros se tornarem pouco atrativos e competitivos, além do difícil acesso ao crédito.
Tecnologia
Outra pequena de São Paulo que vem se destacando no mercado externo é a Bionext, de produtos biotecnológicos. Fundada em 2002, a empresa demorou quatro anos para conseguir a aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para o funcionamento de sua fábrica. Segundo o engenheiro e sócio da companhia, Gerardo Mendoza, o foco é na área de pesquisa tecnológica.
O primeiro produto da Bionext a conquistar o mercado externo foi a membrana Bionext, que é um curativo de biocelulose para tratamento de lesões de pele. A tecnologia desenvolvida foi tão revolucionária que acabou chamando a atenção de outros países, que hoje são importadores da empresa, como Costa Rica, Colômbia, Taiwan e Indonésia. Os próximos destinos são México e Estados Unidos. As exportações tiveram início em 2008.
Atualmente, a empresa trabalha no desenvolvimento de membranas para o recobrimento de partes cerebrais, ossos e cartilagem à base de biocelulose e membranas para reconstrução de córneas. Segundo Mendoza, a empresa tem capacidade de produzir até 3,4 milhões de centímetros quadrados por mês, o que daria para atender toda a demanda do mercado interno e externo. Atualmente, 50% da produção é voltado para o exterior.
A Bionext emprega 10 funcionários diretos e tem outros 20 colaboradores, entre pesquisadores e cientistas de universidades e laboratórios de pesquisa.