Débora Rubin
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São Paulo – Rogério Dantas, um paulista de 23 anos, desembarcou no Egito pela primeira vez no dia de 18 de junho – e não foi a passeio. Ele foi contratado por um time egípcio, o Cement Suez, e já começou a treinar. Só não está jogando ainda porque sua documentação da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) não ficou pronta. Mas deve estrear no próximo jogo do campeonato egípcio no dia 25. Antes de ir para o país árabe, Rogério jogou durante oito anos nas categorias de base do Palmeiras, onde entrou com 14 anos, e passou também pelo Londrina e pelo Itapirense.
O jogador, que atua como meia, é o primeiro de muitos brasileiros que serão exportados para o futebol egípcio. Ao menos é o que deseja o empresário Mohamed Youssef Mostafa, que levou Rogério para lá. Nascido no Brasil e morando no Egito desde os 13 anos, Mohamed quer recrutar uns cem brasileiros até a metade do ano que vem. O empresário conta que tinha selecionado mais dois outros jogadores, mas um foi para a Inglaterra e outro para a Coréia. Chamado de “Jo”, para facilitar a vida dos egípcios, Rogério já saiu até na mídia local, no jornal El MASRY El Youm.
A história de Rogério só deu certo por uma série de acasos. Seu procurador, Antenor Joaquim, estava buscando um canal com o mundo árabe. Aí ele lembrou da amiga Maria Izabel Costa, que tem uma agência de turismo especializada em Egito e perguntou se ela não conhecia alguém por lá que fizesse essa ponte. Isabel colocou Antenor em contato com Mohamed, com quem ela já tem uma parceria na área de turismo – o brasileiro-egípcio recebe os grupos que Isabel manda para o país. Como ele também trabalha com o ramo de futebol, as conexões foram logo feitas.
Antenor, que costuma mandar jogadores para Portugal, mandou 40 DVDs de profissionais para Mohamed analisar, mas apenas um, Rogério, chegou ao destino final, o Cairo. “Foi um excelente negócio. Um pouco difícil, porque foi o primeiro. Lá eles querem tudo rápido, e aqui no Brasil as coisas demoram um pouco a acontecer, tudo na CBF é burocrático. Mas deu certo”, diz Antenor. Para ele, jogadores que não são muito conhecidos têm mais chances de se destacar e seguir para o futebol europeu quando estão jogando nos países árabes. Se ficam no Brasil, a visibilidade é menor. Mohamed confirma: “Há muitos olheiros aqui e como o Egito foi o campeão da África no ano passado, tem chamado a atenção."
O próprio Rogério, cujo contrato é de três anos, tem planos de partir para o futebol europeu. Mas, por hora, comemora a chance no Egito. “Foi uma proposta muito boa, uma oportunidade nova. Estou muito feliz”, diz ele, que divide um apartamento no Cairo com um jogador egípcio. Nos treinos, usa o pouco que sabe de inglês para entender o que a comissão técnica traduz para ele do árabe. Filho de um agricultor e uma doméstica, Rogério deixou a família triste ao anunciar a partida. “Mas feliz ao mesmo tempo. Afinal, eles sabem que a minha vontade sempre foi jogar futebol.”
Ponte Brasil-Egito
Mohamed Youssef é jovem como Rogério, tem apenas 24 anos, e chegou a arriscar a carreira como jogador. O tino para os negócios falou mais alto. Hoje, o menino que se formou engenheiro virou um profissional da área do turismo e do futebol. Bem relacionado, foi convidado pelo Ministério dos Esportes há alguns anos atrás para ajudar na campanha para que a Copa 2010 fosse no Egito. Quem levou foi a África do Sul – o Egito não teve um ponto sequer. Mas o episódio lhe rendeu ainda mais contatos na área. Hoje, sua empresa, a Nahhas Agency, que tem em parceria com o sócio e amigo de longa data Tamer Saeed El Nahas, empresaria mais de 300 jogadores – a grande maioria, 264, é egípcia.
Mohamed conheceu a brasileira Izabel por meio da ANBA. Após ler uma matéria sobre a agência dela, a Abbatour, que fica em São Paulo, entrou em contato e, habilidoso na arte dos negócios, propôs parceria. A partir de agora, Isabel vai ser sua sócia também para os assuntos futebolísticos. “Eu vou apenas checar por aqui se o jogador e o procurador são profissionais, se não há problema com eles, e enviar os DVDs para o Mohamed”, diz ela. Mohamed, por sua vez, explica porque esse trabalho é importante: “Já chamamos muitos meninos que nem eram profissionais. Aí, quando eles iam fazer o teste nos clubes, não eram aceitos, voltavam para o Brasil e a gente ficava com o prejuízo.” Isso porque é a Nahhas que banca todas as despesas dos jogadores no período de testes: moradia, alimentação, passagem e até um celular.
Para Mohamed, que ainda guarda no peito o orgulho de ter nascido brasileiro, a contratação de jogadores é apenas uma parte dos negócios que pretende fazer entre os dois países. “Tudo o que puder ser feito para aproximar Brasil e Egito, eu vou fazer”, diz ele. “Acho que precisa haver mais troca entre os países." No que depender do jovem empresário e de sua sócia brasileira, cada vez mais turistas e jogadores brasileiros desembarcarão na terra dos faraós.
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