Por Claudia Yazigi Haddad*
O trabalho social tem sido uma marca da comunidade árabe que se estabeleceu no Brasil com a imigração em meados de 1870. Há muito tempo, o grupo, formado pelos próprios imigrantes, seus filhos, netos e bisnetos, tem se dedicado à filantropia, deixando um legado notável ao País nas áreas da saúde e assistência social. Com esforço incansável, muitas mulheres desempenharam um papel fundamental na criação de importantes hospitais, como o Hcor e o Hospital Sírio-Libanês, além de lares voltados ao amparo de diferentes públicos vulneráveis, como a Associação A Mão Branca, para idosos, e o Lar Sírio Pró-Infância e a Associação Cedro do Líbano, voltado ao acolhimento e desenvolvimento de crianças.
A Associação Beneficente Síria foi criada em 1918 pelo esforço de mulheres imigrantes sírias, incansáveis e muito dedicadas, cuja missão era e ainda é prestar assistência médica gratuita à comunidade e contribuir para o desenvolvimento da saúde no País. Primeiramente auxiliavam órfãos da 1ª Guerra Mundial. Com o passar dos anos, a associação migrou sua atenção aos pacientes tuberculosos, fundando em 1947 uma unidade em Campos do Jordão. Quando a doença não mais representava perigo, a Associação voltou seus esforços para a criação de um hospital dedicado à cirurgia torácica e doenças cardiovasculares, nascendo em 1976 o Hcor. Trata-se do maior legado da Associação Beneficente Síria que mantém vivo seu propósito secular de cuidar das pessoas e fortalecer a saúde.
Por outro lado, a Sociedade Beneficente de Senhoras é a entidade responsável pelo Hospital Sírio-Libanês, um dos mais importantes centros médicos da América Latina. Fundada em 1921 por um grupo de senhoras das comunidades síria e libanesa, a sociedade tem como missão servir à sociedade e torná-la mais justa para todos. O hospital oferece programas de ensino e pesquisa, incluindo mestrado e doutorado acadêmicos em ciências da saúde, além de parcerias nacionais e internacionais para estudos em diferentes áreas.
A Associação Beneficente “A Mão Branca” de Amparo aos Idosos foi fundada em 1912 por um grupo de senhoras da comunidade sírio-libanesa de São Paulo. Essas mulheres iniciaram reuniões semanais com o objetivo de assistir pessoas idosas, distribuindo mantimentos e oferecendo auxílio hospitalar. Atualmente, a instituição é uma referência nas áreas de geriatria e gerontologia, oferecendo hospedagem e tratamento a idosos de ambos os sexos, sem distinção de classe, religião ou raça.
O Lar Sírio Pró-Infância é uma instituição centenária dedicada ao acolhimento e desenvolvimento de crianças e adolescentes em situação de vulnerabilidade social. Fundada em 1923 por um grupo de jovens imigrantes sírios provenientes de Homs, a instituição iniciou suas atividades como “Orphanato Syrio”, abrigando inicialmente cinco crianças. Hoje o Lar Sírio Pró-Infância ocupa uma área de 25 mil metros quadrados, composta por 18 prédios destinados a atividades socioeducacionais. Atualmente, atende diariamente mais de 1 mil crianças e adolescentes, oferecendo programas que incluem reforço escolar, capacitação profissional e atividades culturais e esportivas.
A Associação Cedro do Líbano de Proteção à Infância surgiu com um grupo de mulheres libanesas que se reuniam semanalmente para tricotar e fazer cobertores em benefício dos menos favorecidos. Nesse propósito, fundou-se no dia 5 de setembro de 1947 a Associação Cedro do Líbano de Proteção à Infância cujo objetivo é filantrópico e sem fins lucrativos. Desde sua criação, a associação tem se dedicado a ações sociais, especialmente voltadas à educação e assistência a crianças em situação de vulnerabilidade.
Tenho muito orgulho de ser mulher e de poder contribuir, ainda que de forma modesta, para o esforço incansável de tantas pessoas que, há gerações, se dedicam à filantropia na área da saúde, do acolhimento e do amparo a idosos e crianças. É uma honra fazer parte do conselho da Associação Beneficente Síria e do comitê de obras do Hcor, instituições que há décadas transformam vidas por meio da solidariedade e do compromisso com o bem-estar da sociedade.
*Claudia Yazigi Haddad é engenheira civil, diretora da Construtora Yazigi, diretora da Câmara de Comercio Árabe Brasileira e presidente do comitê de mulheres da instituição, o Wahi, além de conselheira da Associação Beneficente Síria/Hcor.