Gilberto G. Pereira
São Paulo – Não dá para discutir a cultura ocidental sem falar dos povos do Mediterrâneo, fonte da chamada civilização judaico-cristã. Com eles nasceram as três religiões monoteístas que dominam o ocidente: judaísmo, cristianismo e islamismo. Na região também surgiram a filosofia, a geometria, a prática do comércio e muitas tradições que se misturaram a outras e hoje estão presentes em todos os países do lado oeste da Terra.
Para estabelecer um diálogo entre as diversas culturas das nações banhadas pelo mar Mediterrâneo, e mostrar o quanto elas contribuíram na formação da cultura brasileira, o Sesc São Paulo está realizando um evento proporcional à importância dessa contribuição. É a Mostra Sesc de Artes Mediterrâneo, envolvendo 18 países da África, Ásia e Europa, que será realizada entre os dias 18 e 28 de agosto na capital paulista. Entre os representantes da cultura árabe estão países como Egito, Argélia, Marrocos, Síria e Líbano.
De acordo com o diretor regional do Sesc São Paulo, Danilo Santos de Miranda, o objetivo da mostra é discutir a origem da identidade do povo brasileiro e procurar contemplar a diversidade cultural que forma o Brasil. "Esse encontro também serve para trazer a contribuição dos países mediterrâneos para o nosso atual momento cultural. Isso é importante porque representa uma tomada de posição frente às nossas origens e ao nosso futuro", avalia.
O evento terá a apresentação de 163 grupos, divididos em diversas áreas, como dança, cinema, teatro, artes plásticas, literatura e música. Nesta última, o destaque árabe fica por conta do franco-argelino Rachid Taha e do egípcio Hossam Ramzy. Músico muito conhecido e respeitado no mundo árabe e na França, Taha faz uma fusão do raï – ritmo pop da Argélia – com o rock e o techno.
Já Ramzy, percussionista famoso por ter tocado jazz e rock com Peter Gabriel, Robert Plant, Gypsy Kings, Luciano Pavarotti e Rolling Stones, vai mostrar seu lado mais criativo, apresentando uma música árabe baseada nos arranjos de corda do Norte da África. Ele também trabalhou nas trilhas sonoras de vários filmes, entre os quais estão "O Corcunda de Notre Dame" e "Beleza Roubada". Junto com ele estará o brasileiro João Bosco, cujas músicas sofreram muita influência das canções árabes.
Ainda na música, a Orquestra Mediterrânea. Com regência e composição dos brasileiros Carlinhos Antunes, Lívio Tragtemberg e Magda Pucci, a orquestra terá a participação de músicos de vários países, como Grécia, Turquia e Marrocos, representado por Ramzy.
Teatro
No teatro, a grande atração da cultura árabe é o grupo marroquino Coletivo Acrobático de Tanger, encenando o Taoub, espetáculo de acrobacia milenar daquele país que envolve elementos de circo, música e vídeo. Para as crianças, serão setes peças, entre elas "Sherazade visita a Grécia Antiga".
De acordo com o coordenador da programação da mostra, Gilson Tacker, todas as apresentações são inéditas, com exceção do cinema, e não há nada que não tenha sido escolhido pela excelência. Para ele, uma das recomendações é o "Seminário Internacional Fronteiras do Mediterrâneo: Tecendo Culturas, Memórias e Identidade". "Será um momento de congregação, e por isso mesmo a hora mais propícia para o diálogo, que é uma das intenções do evento", diz.
O seminário vai reunir pensadores de vários países. Entre os participantes está a antropóloga argelina Tassadit Yacine, professora titular na École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, que vai falar sobre a questão do povo magrebino, situado no Norte da África.
Na mostra também existe espaço para a literatura e para o cinema. Na primeira, haverá o "Tendas Literárias – Encontros e Pensares", um ciclo de debates e leituras dos autores participantes, entre eles, Salim Miguel, escritor líbano-brasileiro, Mamede Jarouche, tradutor do árabe de "As Mil e Uma Noites", Eugênia Zerbini, autora de "As netas de Ema".
No cinema, dos 17 filmes da mostra, sete são sobre a cultura árabe. Os destaques são "A batalha de Argel" e "Selves and others: a portrait of Edward Said". O primeiro é um filme de 1965, que conta a guerra da independência da Argélia contra a França, prêmio da Crítica Internacional no Festival de Veneza (1966) e duas indicações para o Oscar de 1969. O outro é um documentário sobre os últimos dias do renomado intelectual palestino Said, que morreu em 2003.
A mostra pôs em circuito todas as unidades do Sesc da capital e algumas de cidades vizinhas, como a de São Caetano do Sul. Mas quem mora no interior e não pode vir a São Paulo, terá a chance de apreciar parte do evento, que de 24 de agosto a 12 de setembro passará por 72 cidades do estado de São Paulo, entre elas, Araraquara, Bauru, Campinas, Rio Preto e Santos.
Veja abaixo parte da programação musical
Abdullah Chhadeh.
Sesc Consolação: dia 19/08, às 20 horas. Grátis.
Gaâda Diwane de Béchar (Argélia).
Sesc Carmo: dia 23/08, às 16 horas. Grátis.
Sesc Ipiranga: dia 24/08. De R$ 3 a R$ 6.
Ensemble Al-Kindï (Síria), com o Show Cantos de Amor Profanos e Sufis.
Sesc Pompéia (teatro): dias 25/08 e 26/08, às 21 horas. De R$ 10 a R$ 20.
Sesc Vila Mariana (sala Corpo e Artes): dia 27/08, às 17h30. Grátis.
Rachid Taha, com o show Tekitói.
Sesc Pompéia (choperia): dias 26/08 e 27/08, às 21h30. De R$ 7,5 a R$ 15.
Sesc Itaquera (palco): dia 28/08, às 15 horas.
Hossam Ramzy e João Bosco.
Sesc Vila Mariana (teatro): dia 27/08, às 21 horas; e dia 28/08, às 18 horas. De R$ 15 a R$ 30.
Orquestra Mediterrânea (Brasil e países convidados).
Sesc Pinheiros (teatro): dia 27/08, às 21 horas; e dia 28/08, às 18 horas. De R$ 10 a R$ 20.
Para ver a programação completa, acesse o site www.sescsp.com.br