Lisboa, Portugal – Não há presença mais forte que a dele nas ruas da capital portuguesa. Quer o visitante goste de literatura ou não, é impossível passar por Lisboa e não se sentir próximo a Fernando Pessoa. O poeta está nos lugares em que passou, na casa onde nasceu, no bairro em que viveu antes de morrer, nas lojas de souvenirs com seus versos mais famosos gravados. Para completar essa história de amor e reverência, Pessoa ainda fez mais: escreveu, ele próprio, um guia turístico da sua cidade. O material, descoberto depois de sua morte por pesquisadores de sua obra, ganhou as livrarias com o título de Lisboa – O Que o Turista Deve Ver, sendo publicado no Brasil pela Companhia das Letras. Muito além do fator curiosidade, o trabalho apresenta um roteiro detalhado das principais atrações locais, destacadas sob a ótica sentimental de um dos mais ilustres lisboetas.
Em sua lista de programas prediletos, o poeta destaca, com especial carinho, dois pontos: a Praça do Comércio, na Baixa, região central da cidade, e o Mosteiro dos Jerônimos, no bairro de Belém, onde, por sinal, está o seu túmulo, numa justíssima homenagem. Para Pessoa, a Praça do Comércio é "a maior das praças de Lisboa", aquela "que os ingleses conhecem por Praça do Cavalo Negro", sendo ainda "uma das maiores do mundo" e capaz de "produzir uma agradabilíssima impressão aos mais exigentes turistas". Diante daquela vista do Rio Tejo, bem na frente, e do conjunto de esculturas do local, como a estátua de bronze do Rei D. José I com um cavalo, não resta outra saída a não ser registrar que o escritor não cometeu nenhum exagero em sua descrição.
Já o Mosteiro dos Jerônimos é colocado como "uma obra-prima de pedra que todos os turistas visitam e nunca conseguem esquecer. E, de facto, o mais notável monumento que a capital possui". Verdade verdadeira. Com construção anunciada em 1502, por ordem do Rei D. Manuel I, o lugar impressiona pelo tamanho, pela fachada toda trabalhada e pelo interior amplo. Detalhe: na Capela do local estão os túmulos do poeta Luís de Camões e do navegador Vasco da Gama. O de Pessoa está num dos corredores ao redor do pátio central, decorado com frases do próprio. Uma delas, para aumentar a vontade de conhecer o mosteiro: "Para ser grande, sê inteiro".
Ainda no assunto "grandiosidade", outro destaque, na verdade outro clássico de Lisboa: o Castelo de São Jorge. De acordo com o guia turístico mais ilustre de Portugal, a construção foi erguida "pelos Mouros e, segundo parece, fazia parte das fortificações de Lisboa, com suas grossas muralhas, ameias e torres. Dele fizeram os reis sua residência e foi também cenário de muitos eventos notáveis na história política de Portugal". Ainda não se convenceu? "A vista do Castelo é maravilhosa". E é mesmo, muito provavelmente é de lá que sairão os melhores cliques da sua passagem pela cidade.
Das dicas do poeta aos lugares pelos quais ele passou, fundamental garantir uma foto com a escultura do próprio, na frente do café A Brasileira, no Chiado, região central, em frente à estação de metrô que leva o nome do bairro. O endereço era um dos prediletos de Pessoa. Não muito longe dali, a menos de dez minutos de caminhada, no Largo de São Carlos, uma imagem estilizada do escritor indica que foi no quarto andar da casa de número 4, em 13 de junho de 1888, que ele nasceu. O prédio, de propriedade privada, não é aberto ao público.
Se não é possível visitar a casa de nascimento, que tal uma passada no Museu Casa Fernando Pessoa? O imóvel, no bairro da Estrela, facilmente acessível de elétrico (aqueles ônibus típicos, na verdade bondes) a partir do Centro, serviu de residência para o poeta em seus últimos 15 anos de vida (ele morreu em 1935). Não espere muito do acervo, reduzido a poucas peças originais, como uma escrivaninha e os livros da biblioteca. Vá se for fã. E se estiver interessado em conferir exposições temporárias delicadas e interessantes, como trabalhos de crianças sobre o autor ou registros em fotografia inspirados na obra dele.
Mais que seguir os passos de Pessoa pela capital portuguesa, principalmente a partir do guia escrito por ele, terá uma viagem ainda mais inspirada o turista que se propuser a achar, por conta própria, a sua Lisboa de Pessoa. Ela está na Mercearia do Chiado, no bairro de mesmo nome, toda decorada com frases dele nas paredes, na livraria mais próxima, em cada esquina do Centro pela qual muito provavelmente ele passou, na beira do Tejo, no rosto de cada lisboeta, no mar português, ali, já saindo da cidade, definitivamente dominada pelo rio. O rio de Pessoa, da humanidade, da alma portuguesa. Do visitante apaixonado e que, uma vez tendo passado por lá, há de morrer de vontade de voltar.
Serviço:
Visite Lisboa
http://www.visitlisboa.com/Conteudos/Menu-Principal/Home.aspx?lang=pt-PT
Museu Casa Fernando Pessoa
http://casafernandopessoa.cm-lisboa.pt/
Mercearia do Chiado
http://www.merceariadochiado.com/