São Paulo – A estudante de Odontologia Huda Albandar tem saudades da sua terra. Mas não reclama da sorte quando imagina que deve terminar os seus dias no Brasil. Muito provavelmente ao lado de noras e netos brasileiros. Para ela, no quesito calor humano, nem faz tanta diferença assim. De origem palestina, mas nascida no Líbano, morou no Iraque com a família, de onde partiu para a Jordânia, em 2003. Até 2007, viveu num campo de refugiados naquele país. Foi quando surgiu a chance de se estabelecer por essas bandas com a família, mais precisamente em Mogi das Cruzes, São Paulo, a 60 quilômetros da capital paulista.
A história de Huda resume a trajetória de muitos dos árabes que imigraram para o País recentemente. Ela faz parte de um grupo de refugiados que chegaram em 2007 e se estabeleceram no interior paulista e no Rio Grande do Sul, tendo vindo para cá principalmente para fugir de conflitos políticos. São cidadãos que tiveram o apoio do Programa de Reassentamento Solidário, implantado pelo governo brasileiro junto com o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados. Isso além do suporte de outras entidades, como a Cáritas, ligada à Igreja Católica, e o Centro de Direitos Humanos de Guarulhos, cidade da Grande São Paulo.
Sem mágoas, Huda conta que imigrou com o marido Walid e os dois filhos, Hossam e Mahmoud, hoje com 12 e 9 anos, respectivamente. “A vida tem que continuar, gosto de morar aqui”, diz ela. Atualmente, enquanto ela faz faculdade, Walid trabalha num frigorífico. Os meninos, também na escola, são os mais integrados da família ao novo país. “Acho que para eles a adaptação foi mais fácil”, conta Huda.
Para ela, brasileiros e árabes são muito parecidos. “A simplicidade é a mesma”, diz.
Feijão todos os dias
Assim como os filhos de Huda, o palestino Ahmed Abudemak não teve maiores dificuldades para se adaptar à nova terra. Costureiro em Mogi das Cruzes, ele também saiu do Iraque e passou pela Jordânia antes de fincar raízes na Grande São Paulo. Casado e pai de uma menina de um ano e nove meses, Sara, ele aguarda a chegada da segunda filha, Lara. Sua mulher está grávida de cinco meses. “Cheguei ao Brasil em 15 de novembro de 2007”, lembra ele.
O melhor de morar no país do futebol? “Comer feijão todos os dias”, garante ele. “Gosto muito de feijão”. Mas o grão não é a única coisa que arrebata o coração de Ahmed. “Morar aqui é a mesma coisa que morar na Arábia”, diz. “Não há nada aqui de que eu não goste”, afirma ele, rindo ao telefone enquanto registra a sua declaração de amor ao Brasil para este 25 de Março.