São Paulo – Reciclar, reaproveitar e reinventar já são verbos bastante utilizados por pequenas empresas brasileiras que investem em sustentabilidade para desenvolver produtos que não agridem o meio ambiente. Nesta semana, São Paulo sediou a Mostra Acessórios, feira que apresenta o trabalho de designers dos quatro cantos do país e recebe a visitação de mais de 5 mil visitantes do Brasil e do exterior.
Entre os 76 expositores presentes na mostra, era possível identificar muita gente preocupada em trabalhar de forma ecologicamente correta. Lona de caminhão, restos de madeira, retalhos de tecido, sobras de plástico, borracha e garrafas pet são transformados em bolsas, cintos, colares, brincos, braceletes e luminárias.
No grupo de designers ‘verdes’ estava Raquel Salmar, enfermeira que mudou de profissão há quatro anos quando criou a Salmar Sustentável, em Campinas, no interior de São Paulo, e desde então trabalha basicamente com lona de caminhão para criar bolsas e cintos. “Trabalhar com lona é fantástico. Eu compro a matéria-prima do loneiro que conserta lonas de caminhão, com todos os remendos. Trabalho com o conceito de deixar o defeito na peça para garantir que cada peça seja única. Lavo, higienizo e trato a lona, mas sem o uso de produtos químicos”, conta Raquel.
Depois, também por meio de um processo totalmente artesanal, a lona é transformada em bolsas e cintos que recebem forro de restos de tecido, bordados e alguns desenhos pintados à mão. “O mundo precisa de cuidados e é urgente. Eu tomei consciência da importância de pequenas ações e tento fazer a minha parte”, diz Raquel.
Para divulgar seu trabalho, a designer participa de feiras de artesanato e comercializa suas peças no Café e Arte, em Campinas. Já está negociando uma loja em São Paulo e no futuro pretende levar suas peças para o exterior.
Em Campina Grande, na Paraíba, o algodão orgânico que se transforma em roupas e acessórios da marca Natural Fashion, já nasce colorido. Uma pequena mostra da produção mensal de 5 mil peças foi apresentada aos visitantes da feira. A marca faz parte da Coopnatural, cooperativa fundada em 2003. O trabalho beneficia uma cadeia inteira, com 250 agricultores, 250 artesãos, mais 150 funcionários na confecção. “As coisas foram acontecendo e direcionando a empresa pelo caminho da sustentabilidada”, afirma a coordenadora Maysa Motta Gadelha.
Hoje, 40% da produção da Natural Fashion é exportada para 11 países: Itália, Portugal, Alemanha, Espanha, Dinamarca, França, Inglaterra, Austrália, Coréia do Sul, Estados Unidos e Japão.
As paulistanas Elis Reis e Ziza Crepaldi são donas do Ateliê Vila Honorata, em São Paulo, onde produzem bolsas femininas e malas de viagem com fios naturais como juta, seda rústica e lona de algodão. “Nossa matéria-prima é rústica e só usamos tecidos com tingimento natural”, diz Elis. O tear manual, que garante um charme especial a cada peça, é feito pela dupla, que também é responsável pelo desenvolvimento, modelagem e corte. Apenas a costura é terceirizada. “Temos um cuidado extremo com cada peça para preservar características exclusivas”, destaca a designer.
Os fios de seda vem de uma cooperativa paranaense chamada ‘O Casulo Feliz’, que nasceu em 1988 com apenas uma roca laneira de madeira e a idéia de que o fio de seda poderia ser produzido de forma manual, aproveitando casulos descartados pela indústria, já que a região Noroeste do Paraná tem grande concentração da produção de casulos do bicho da seda.
"A cooperativa trabalha com produtos 100% naturais, tanto a fibra como o pigmento, de forma a não agredir o meio-ambiente nem o homem que vive nele", destaca Ziza. Apesar da empresa ter menos de um ano de vida, o Ateliê Vila Honorata já exportou as primeiras peças para o Japão.
Família sustentável
A bióloga Cíntia Shigihara aprendeu com os pais a cuidar e respeitar a natureza. Na faculdade, a preocupação com o meio ambiente aumentou e ela decidiu fazer algo de concreto, além de separar e reciclar o lixo da família. “Eu gostava de fazer trabalhos manuais, principalmente bijuterias, e percebi que era possível fazer coisas bonitas e funcionais, reaproveitando o que seria descartado no meio ambiente”, conta.
Cíntia recebeu apoio total da mãe Laura, que é arquiteta e do pai Jairo, empresário, e juntos criaram a Microcosmos, que transforma jornais e revistas velhas, papel reciclado e garrafas pet em bijuterias, luminárias e embalagens. “Trabalhamos também com sementes de frutas como açaí e papel reciclado artesanal, feito com resíduos de cana-de-açúcar, arroz, fibra de banana e bambu”, conta a bióloga. “É incrível o poder de transformação que temos e as inúmeras opções de reutilização de materiais”, afirma Cíntia.

