Casa Nova, Bahia – Ao se entrar de carro na Fazenda Ouro Verde, em Casa Nova, na Bahia, percorre-se mais de 500 metros de uma estrada de terra margeada por vinhedos. Ao final dela, diversos armazéns guardam tanques de armazenamento, linhas de processamento de uvas, uma adega e a sede da unidade baiana da vinícola Miolo. É do improvável clima semiárido da Bahia que saem sucos de uva, vinhos, espumantes e destilados de vinho feitos por uma das maiores empresas brasileiras do setor.
A Fazenda Ouro Verde foi comprada pela Miolo e outros sócios em 2001 de um produtor japonês que já cultivava uvas viníferas ali. Foi uma aposta da empresa em investir em terras fora do clima considerado ideal para as variedades para produção de vinho, do Rio Grande do Sul. Foi na cidade gaúcha de Bento Gonçalves que o imigrante italiano Giuseppe Miolo começou a plantar uvas logo após chegar ao Brasil, em 1897. O ofício se sucedeu de geração em geração até 1989, quando a Miolo passou a produzir seus próprios vinhos em vez de apenas fornecer uvas finas.
Em 2001, o superintendente do Miolo Wine Group, Adriano Miolo, decidiu por um investimento muito distante dos vinhedos da empresa, até então localizados no Vale dos Vinhedos, Campanha Meridional e Campanha Central, todas regiões do Rio Grande do Sul: foi à Casa Nova, no semiárido nordestino expandir a plantação do proprietário anterior.
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Dali saem todos os anos o equivalente a 3 milhões de garrafas, dos 15 milhões de que a Miolo produz anualmente: são vinhos, destilados e espumantes feitos com uvas tradicionais deste universo e, geralmente, procedentes de clima ameno: grenache, mourvèdre, syrah (que, majoritariamente, resultam em tintos), sauvignon blanc, chenin blanc, verdejo e moscato (utilizadas na produção de brancos) são algumas das variedades de uvas colhidas ali e que dão vida a uma família de produtos, um deles batizado com o nome da vinícola: Terranova.
Plantas com 40 anos
Enóloga da Miolo, Eloiza Teixeira, afirma que há plantas ali que ainda rendem frutos, mesmo após 40 anos plantadas. “Aqui temos a oportunidade de produzir vinhos de caráter expressivo e muito aromáticos”, afirma. “Algumas videiras chegam a ter mais de 40 anos e são produtivas”, explica Teixeira, enquanto uma máquina separa uvas de cachos e as prepara para a prensagem.
Em uma sala com 12 tanques de fermentação de aço inoxidável, o líquido armazenado fermenta até o ponto em que se torna espumante, sem adição de gás carbônico. É possível ali mesmo provar e sentir o aroma floral da bebida, que ainda passará por uma última filtragem antes de seguir para o engarrafamento.
Em outro armazém, barris de carvalho americano armazenam uma bebida transparente como água: destilado de vinho. Ele repousa por 15 anos dentro dos recipientes de madeira, onde envelhece, ganha uma tonalidade amarelo-pálida e sabores e aromas amadeirados.
Os vinhos que saem dali ganham as prateleiras do Brasil e do exterior, assim como o suco de uva feito com as uvas isabel e magna, outro produto que surge das terras da Miolo no Vale do Rio São Francisco.