São Paulo – Das cerca de 600 mil palavras encontradas na língua portuguesa, pelo menos mil têm origem no idioma árabe. Mesquita e esfiha são, obviamente, árabes, pois se referem ao templo muçulmano e ao tradicional salgado assado e recheado. Mas, de acordo com o escritor Assaad Zaidan, palavras como cheque, bálsamo, azaleia, azulejo, tarifa e oxalá – que é uma corruptela de “inshallah”, ou “Deus queira” – também têm origem na língua árabe. A relação de mil palavras que o Português "importou" do árabe é parte da segunda edição do livro "Letras e história: mil palavras árabes na língua portuguesa", recém-lançada, revisada e ampliada pelas editoras Edusp e Escrituras.
A primeira edição do livro, de 2005, teve tiragem muito pequena. A maioria dos cinco mil exemplares ficou com cidadãos de Belém, no Pará, onde Zaidan, que nasceu no vilarejo de Rweast El Balout – El Maten, no Líbano, viveu por 45 anos. Esta nova edição revisou erros em relação à anterior (havia palavras, como tomate, que não vinham do árabe) e ganhou mais informações. Dos cinco mil exemplares iniciais, pouco mais de mil chegaram a São Paulo. A tiragem prevista, agora, é de 50 mil exemplares pelos próximos dez anos.
Zaidan, hoje com 77anos, recorda que até o filólogo Antonio Houaiss o ajudou na pesquisa das palavras. "Sabia que havia pelo menos 700 palavras. Mas quando fui ao Rio de Janeiro, Houaiss me disse que este número era maior e que havia mais de mil palavras árabes no português", recorda.
"Letras e história: mil palavras árabes na língua portuguesa" não se restringe a um dicionário. Na primeira parte do livro, Assad conta a história da língua e da civilização árabe, como ela influenciou na formação de outros idiomas e sua evolução.
Em 711, por exemplo, os árabes invadiram a Espanha e tiveram importância no desenvolvimento da Europa. "Hoje o inglês é muito importante. Antigamente, todos estudavam o árabe, que sofreu com repressão religiosa quando estava progredindo e começou a regredir. Isso influenciou o desenvolvimento da língua", observa o escritor. Segundo Zaidan, exemplo de que o árabe era fundamental na cultura ocidental dos séculos XVII e XVIII é que o ensaísta Voltaire leu doze vezes "O Livro das Mil e Uma Noites" "antes de escrever qualquer coisa", segundo o escritor.
Catarata, cetim, gato, jarra, mofo, anis, neve e leilão são outras palavras, de acordo com o livro, que o português herdou do árabe. Como? Por meio da Península Ibérica, onde estão Espanha e Portugal e que tiveram regiões sob domínio dos árabes até o começo das grandes navegações, no século XIV. Zaidan espera que o livro ajude quem estuda a literatura árabe.
Serviço
"Letras e história: mil palavras árabes na língua portuguesa", ed. Edusp; ed. Escrituras. 288pp. R$ 35.