São Paulo – O Brasil tinha, em 2020, 12.700 startups, de acordo com dados da Associação Brasileira de Startups (Abstartups), um número que representou quase o triplo do que havia em 2015. Este crescimento, o tamanho do mercado brasileiro, a capacidade de inovação e o novo marco regulatório do setor tornam o Brasil e seus empreendedores capazes de apresentar soluções e companhias inovadoras para os desafios da sociedade e das marcas.
Criada em 2007 com o nome de Acesso Digital, a unico recebeu seus primeiros aportes financeiros em 2020: R$ 40 milhões da Igah Ventures e R$ 580 milhões da General Atlantic e SoftBank Latin America Fund. A unico desenvolve sistemas de biometria facial e segurança e processos digitais para acelerar a admissão de funcionários por departamentos de Recursos Humanos. Além de receber investimentos, a companhia fez aportes também e em agosto, adquiriu outra startup, a Meerkat, do Rio Grande do Sul.
“Isso se acelerou porque nós, da unico, passamos a ser a infraestrutura para as empresas entrarem no mundo digital oferecendo segurança para as elas e seus consumidores ou funcionários nessa nova forma de se relacionar, à distância. Essa é uma realidade que não tem mais volta, portanto, temos muito a crescer conforme essas relações vão se transformando e exigindo maior segurança”, diz o co-fundador e vice-presidente de Estratégia e M&A (fusões e aquisições) da unico, Paulo Alencastro (foto acima).
Mudanças à vista
As startups brasileiras também estão atraindo mais investimentos. De acordo com o coordenador do comitê de Venture Capital da Associação Brasileira de Private Equity e Venture Capital (Abvcap), Humberto Matsuda, em 2020, pela primeira vez, os investimentos na indústria de Venture Capital, que tem foco em empresas emergentes, superaram os valores aportados em fundos de Private Equity, que têm como foco empresas já consolidadas.
Até junho, foram investidos R$ 5,7 bilhões em Venture Capital e R$ 4,5 bilhões em Private Equity, um movimento que Matsuda define como “reflexo do amadurecimento do ecossistema de startups no Brasil”. A pandemia, diz, influenciou pouco no comportamento do setor. “Não houve mudança significativa das tendências de investimentos com relação à atração de capital. O principal motivo do aumento foi a taxa de juros baixa”, afirma Matsuda.
Em dezembro, a Câmara dos Deputados aprovou o Marco Legal das Startups em forma de texto substitutivo. O Projeto de Lei Complementar 146/19 seguiu para o Senado, onde está em tramitação sob relatoria do senador Carlos Portinho (PL-RJ).
O relator do PL na Câmara, deputado Vinicius Poit (Novo-SP) afirma que entre as principais mudanças do marco regulatório estão isentar um investidor sem função executiva de qualquer eventual processo que a startup venha a sofrer. Antes, esse investidor podia ser também processado, o que afastava eventuais aportes.
“Dessa forma, aquela pessoa que apenas investir na startup, e não for gestor dela, não responderá por qualquer dívida da empresa, seja dívida trabalhista, tributária ou qualquer outra. O Marco ainda traz dispositivos para o fomento à pesquisa, ao desenvolvimento e à inovação, abrindo mais possibilidades de recursos para negócios inovadores”, diz Poit.
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O deputado explica, ainda, que o novo marco regulatório vai permitir que as normas se moldem à inovação em vez de inibi-la. “Facilitamos muito o modo como o poder público pode contratar soluções inovadoras, para que problemas antigos do povo sejam resolvidos de novas maneiras. E, ainda, trouxemos o stock options para o Brasil, instrumento de engajamento de colaboradores internacionalmente reconhecido”, diz Poit, em referência à forma de remuneração em que a empresa pode vender ações a um colaborador, geralmente de alto escalão, a preços abaixo do mercado.
Oportunidades e desafios
Poit afirma que o Brasil tem 11 empresas unicórnio, que são aquelas avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais, e há uma perspectiva de se ter mais 17 dessas empresas nos próximos anos. “E estamos cada vez mais fomentando esse ecossistema por aqui, seja por melhores normas e regulações vindas do poder público, seja por grandes investimentos privados. Ainda mais por investimentos estrangeiros, pois moedas como dólar e euro valem muito em nosso país. Há um grande fator de multiplicação e os retornos para os investidores tendem a ser massivos”, afirma o deputado.
Matsuda diz que, além dos juros baixos, o que torna as empresas brasileiras atrativas é o mercado local. “Temos 200 milhões de brasileiros e vários mercados bilionários. O que realmente importa é o nosso tamanho”, afirma.
Poit avalia que há potencial de grande crescimento em dois setores: e-commerce e fintechs, que são as startups do setor financeiro. “A pandemia forçou com que as pessoas ficassem em casa, e o comércio online cresceu bastante com isso. Ainda, nosso mercado doméstico financeiro é dominado por algumas grandes instituições que usam modelos de negócios ultrapassados. Assim, há uma enorme lacuna a ser preenchida por fintechs, fornecendo serviços digitais e crédito para milhões de brasileiros”, afirma.
Mas há também desafios. Alencastro afirma que uma das dificuldades das empresas do setor está em encontrar, no Brasil, profissionais capazes de atuar no setor de tecnologia. Além dos fatores externos, as startups também precisam se comprometer com o seu crescimento e em atrair investidores.
Matsuda acredita que ter um “time diferenciado” seja um dos segredos do sucesso: “Experiência, inteligência, capacidade de execução, de liderança, de captação, identificação, atração e retenção de colaboradores, marketing online, entre outros fatores”, diz, são elementos essenciais para uma startup crescer.
“O mais importante é manter-se fiel ao seu propósito e estar alinhado aos seus investidores nesse ponto, pois a autenticidade é o diferencial de uma startup”, diz Alencastro. “Nosso objetivo como empresa é fazer a unico ser tão grande quanto um Facebook ou Microsoft e estamos trabalhando incansavelmente pra isso!”, afirma o co-fundador.
*Reportagem de Marcos Carrieri, especial para a ANBA