Da redação*
São Paulo – O museu do Louvre poderá abrir uma filial em Abu Dhabi. O Louvre Abu Dhabi seria o principal atrativo de um bairro cultural a ser construído na Ilha de Saadiyat ("Ilha da Felicidade", em árabe). O emirado está investindo mais de US$ 27 bilhões na transformação da ilha, que fica a 500 metros da costa, em um grande centro turístico. Além do Louvre, a ilha deverá ter outros quatro museus, uma sala de concertos, hotéis de luxo, dois campos de golfe, praias e marinas, segundo a agência Associated Press. Mas o museu francês pode ser o fator decisivo na concorrência pelos turistas que freqüentam o vizinho emirado de Dubai para fazer compras.
A tendência de internacionalização das instituições culturais francesas vem crescendo, segundo informações do jornal inglês The Guardian, principalmente em áreas onde a França tem interesse econômico. Em visita recente à China, o presidente Jacques Chirac assinou um acordo para abrir uma filial do centro de artes Georges Pompidou no bairro de Luwan, em Xangai. O museu Rodin, de Paris, poderá ter uma filial em breve na cidade de São Paulo. Em outro projeto em andamento na região do Golfo, curadores franceses atuam como consultores na construção de um museu no Catar. O museu foi projetado por I.M Pei, o arquiteto que criou a pirâmide de vidro do Louvre.
Ainda de acordo com o Guardian, o ministro da Cultura da França, Gilles de Robien, anunciou recentemente que a Universidade Sorbonne também vai abrir uma filial em Abu Dhabi. Pela primeira vez em 750 anos de existência, a universidade vai exportar seu conhecimento para outro país. A Sorbonne de Abu Dhabi vai receber 1,5 mil estudantes de famílias dos Emirados Árabes Unidos e de outros países do Golfo Arábico. A universidade vai oferecer cursos de literatura, filosofia e direito, seguindo a tradição francesa de educação secular. Os Emirados vão bancar o projeto, estimado entre US$ 44 milhões e US$ 57 milhões.
O processo de negociação diplomática para abrir uma filial do Louvre no mundo árabe já dura mais de um ano. Segundo o jornal francês Le Monde, os termos essenciais do acordo entre a França e o emirado foram acordados em dezembro de 2006. Uma delegação francesa, formada por representantes do Ministério da Cultura e do Departamento dos Museus da França, deverá ir a Abu Dhabi no final deste mês para as últimas negociações.
A abertura do Louvre Abu Dhabi faria parte de um plano do presidente Jacques Chirac para aproximar Oriente e Ocidente, de acordo com o Guardian. A iniciativa gerou polêmica na França. Segundo o Monde, 2 mil pessoas assinaram um abaixo-assinado dizendo que os museus não estão à venda. Muitos, de acordo com a Associated Press, acusam o governo da França de tentar transformar a herança artística do país em uma marca comercial e dizem que o acordo tem fins mais políticos e econômicos do que artísticos.
Guggenheim
Outras instituições, no entanto, já estão seguindo à frente com projetos semelhantes. Com sede em Nova York, a Fundação Guggenheim, gigante do mundo das coleções de arte, já fechou um contrato para construir um museu em Abu Dhabi. A obra será projetada pelo arquiteto canadense Frank Gehry e tem conclusão prevista para 2012. O Louvre Abu Dhabi seria projetado pelo renomado arquiteto francês Jean Nouvel.
Apesar da polêmica, o intercâmbio nesta área não é incomum. Segundo o Guardian, o próprio Louvre já recebeu US$ 22,6 milhões do príncipe saudita, Walid bin Talal, para financiar a construção de uma seção de arte islâmica. O museu tem 10 mil artefatos da civilização islâmica, a maioria deles ainda longe dos olhares do público por falta de espaço. O Louvre também já cedeu obras de seu acervo temporariamente para vários outros museus do mundo, inclusive o Museu de Arte de São Paulo (MASP).
*Tradução de Gabriel Pomerancblum