São Paulo – Desde que assumiu o controle do Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, em 15 de fevereiro deste ano, o consórcio GRU Airport investiu na modernização dos terminais de passageiros para melhorar e ampliar o atendimento e reduzir as críticas em relação à sua operação. Outro setor do aeroporto, o de cargas, também passa por uma transformação. Investimentos de R$ 45 milhões deverão aumentar em 66,4% sua capacidade de armazenamento até 2017.
As mudanças no Terminal de Cargas de Guarulhos (Teca) deverão elevar a movimentação de cargas das 334 mil toneladas de 2012 para 556 mil em 2017. Em 2013, deverão ser movimentadas 365 mil toneladas. A estimativa da GRU Airport é que o crescimento seja de 11% ao ano, em média.
De acordo com o diretor de operações de cargas do aeroporto, Marcus Santarem, o terminal de cargas de Guarulhos tem potencial de crescimento e pode também oferecer serviços melhores. “Quando não administrávamos o aeroporto, ele movimentava 32% da carga aérea do Brasil. Isso já acontecia quando o esforço feito para receber cargas era mínimo”, diz Santarem.
O Aeroporto de Guarulhos foi leiloado em fevereiro de 2012. O consórcio formado pela Invepar (empresa de fundos de pensão e da construtora OAS) e pela Companhia de Aeroportos da África do Sul (ACSA) pagou R$ 16,2 bilhões pela concessão de 51% do aeroporto por 20 anos. Os outros 49% continuam com a Empresa Brasileira de Infraestrutura Aeroportuária (Infraero), estatal que administra aeroportos brasileiros. No mesmo leilão, os aeroportos de Viracopos, em Campinas, e de Brasília também foram arrematados, mas por valores menores.
As empresas que arremataram os aeroportos nos leilões têm o dever de ampliar e realizar melhorias para atender os passageiros que virão para o País para assistir à Copa do Mundo, em 2014. Entre essas melhorias, a GRU Airport terá que ampliar a capacidade de passageiros do terminal. No setor de cargas, os desafios são outros.
Segundo Santarem, a principal queixa dos clientes se refere ao nível do serviço prestado pelo Teca. “Eles reclamaram do tempo para liberar as mercadorias. Já foi de duas semanas, e hoje é de quatro a cinco dias, em média”, diz Santarem. Atualmente, 33% das cargas que estão no aeroporto são liberadas em até 48 horas. As outras 67% são liberadas em mais dias.
Muitos dos desafios não dependem só da administração do aeroporto para serem superados. Dependem de órgãos públicos, como a Receita Federal e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que estão colaborando. No entanto, o setor de cargas de Guarulhos tem outro problema. Dos 96,9 mil metros quadrados do Teca, 1,92 mil estão em perdimento, ou seja, ocupados por mercadorias que estão lá há mais de 90 dias e não foram retiradas. Quando isso ocorre, o Teca se torna o fiel depositário daquela encomenda e tem o dever de guardá-la. A quantidade de cargas nesta situação já está menor do que em fevereiro, quando a concessionária assumiu o aeroporto. Uma das medidas que ajudaram a reduzir a quantidade de carga em perdimento foi cobrar pelo período que ficam no galpão.
O Teca tem outros 15.735 metros quadrados ocupados pela falida VarigLog, a transportadora de encomendas da Varig. “Esses produtos estão em uma área estratégica dos nossos galpões, e precisamos utilizá-la”, afirma Santarem. A empresa está em contato com a massa falida da VarigLog para liberar o espaço.
Estratégia de crescimento
Enquanto tenta liberar espaço para movimentação de cargas, a GRU Airport se esforça para receber mais mercadorias por meio dos aviões de passageiros. Atualmente, 84% das aeronaves que pousam e decolam de Guarulhos são de passageiros e 16% são cargueiros. Do total de mercadorias movimentadas ali, 70% chegam e partem nos bagageiros dos aviões de passageiros. “Nossa ideia é ampliar o volume de cargas sem depender dos aviões cargueiros”, diz a gerente comercial do Teca, Maria Fan.
Fan não faz esta previsão apenas com a frequência atual de voos. Quando estiver pronto, o Terminal 3 de passageiros terá seis vagas para receber os maiores aviões do mundo: o Airbus A380 e o Boeing 747-8. A capacidade de transporte de cargas deles é maior do que a dos grandes aviões que hoje voam para Guarulhos. Quando ainda era administrado pela Infraero, o aeroporto foi autorizado a receber o A380, desde que fora de horários de pico. Pelo menos a Emirates Airline, de Dubai, e a alemã Lufthansa manifestaram o desejo de voar para o Brasil com esta aeronave.
A GRU Airport contratou uma empresa de consultoria para ajudá-la a identificar e executar as melhorias necessárias no aeroporto. Elas compreendem, também, a construção de uma câmara de 2 mil metros quadrados com temperaturas entre 15°C e 25°C para armazenar mercadorias que precisam ficar em ambiente climatizado, como é o caso dos remédios. Esta câmara irá se juntar a outras 16 câmaras frias.
O Teca deverá receber em breve um novo sistema de gerenciamento de cargas, que terá conexão com os sistemas das empresas aéreas e irá facilitar o embarque, desembarque, recebimento e entrega das mercadorias. Santarem quer que o Teca saiba que cargas uma aeronave traz antes mesmo que ela chegue ao aeroporto. “É uma forma de tratar melhor deste produto”, diz. A concessionária vai ainda comprar empilhadeiras e equipamentos.
Santarem reconhece que as mudanças em Guarulhos deverão fazer o aeroporto concorrer com Viracopos, no interior de São Paulo. O terminal de Campinas recebe hoje a maior parte dos aviões cargueiros e é o segundo em participação de mercado de movimentação de cargas, atrás de Guarulhos, e com 25% do total. Ele diz que existe a possibilidade de algumas empresas unificarem suas operações de cargas e passageiros em um aeroporto. “Viracopos também está investindo para receber mais passageiros. É natural que busquemos os transportadores de cargas”, afirma Santarem.