Geovana Pagel
São Paulo – O grande negócio dos aeroportos deixou de ser o transporte de passageiros para se concentrar na logística de carga. Apesar do custo maior que o dos outros modais, o transporte aéreo de mercadorias tem como principal vantagem a rapidez. É nesse diferencial que os aeroportos brasileiros, como o de Viracopos, em Campinas, no estado de São Paulo, apostam cada vez mais.
De acordo com dados da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuária (Infraero), em 2003 o Brasil transportou 1,2 milhão de toneladas de carga aérea. Desse total, 557 milhões de toneladas são de mercadorias de
importação e exportação, armazenadas exclusivamente nos terminais da empresa.
Hoje os negócios na área de logística de carga são responsáveis por 26% do total de receitas da Infraero. “É o setor mais rentável e mais promissor dentre os serviços prestados pela empresa. Em 2003, gerou receita de US$ 127,3 milhões e apresenta expectativas de crescimento para os próximos anos”, afirma Gustavo Schild, superintendente nacional de logística de carga da Infraero.
A estatal tem investido em seus 32 terminais de carga espalhados por todo o Brasil. Com moderna infra-estrutura e equipamentos de última geração, os terminais estão preparados para receber as mais diversas mercadorias. “Têm câmaras frigoríficas, áreas especiais para material radioativo e produtos químicos, instalações para carga viva e cargas restritas”, explica Schild.
O maior terminal em concentração de volume de carga do Brasil é o do Aeroporto Internacional de Viracopos. Com área de 77 mil metros quadrados destinada somente à armazenagem de cargas, o aeroporto deve se transformar em um dos maiores centros de distribuição de carga do mundo graças aos investimentos que vêm sendo feitos pela Infraero.
O terminal do Aeroporto Internacional do Rio de Janeiro é considerado um dos melhores da América Latina. Possui o maior e mais bem aparelhado armazém de cargas vivas do Brasil, com baias para até oito cavalos, piquete de 220 metros quadrados para exercício desses animais e um laboratório utilizado pelo Ministério da Agricultura.
Parceria com a Receita
Uma das ações mais importantes da Infraero foi firmar parceria com a Receita Federal para simplificar os procedimentos de liberação de mercadorias, reduzindo os custos tarifários de importação em Viracopos, Guarulhos e Galeão. Somente esses dois últimos são responsáveis por 60% do transporte aéreo para o comércio exterior. Os projetos receberam os nomes de Linha Rápida e Linha Azul.
O primeiro reúne não só Receita e Infraero, como importadores, agentes de carga (freight forwarders), despachantes, transportadores aéreos e rodoviários.
O objetivo da parceria é diminuir o tempo gasto no aeroporto para a nacionalização da carga importada e, com isso, reduzir os estoques de segurança e o custo das empresas com o capital imobilizado.
Entre outros ganhos, a Linha Rápida livra o importador do prazo de 48 horas para inspeção do Ministério da Agricultura ou da Saúde em cargas que necessitem desse processo e permite a preparação da mercadoria para a entrega "porta-a-porta".
O sucesso do sistema é garantido pelas informações prévias das cargas fornecidas pelos seus agentes e pelo preenchimento antecipado da Declaração de Importação pelo despachante. Com isso, cargas que levavam dias para serem liberadas agora o são em aproximadamente quatro horas.
A Linha Azul não fica atrás em termos de agilidade. Teve tanto êxito em Campinas, onde se originou, que foi ampliada para todo o país, movimentando mais de sete toneladas de carga no ano passado. Esse processo garante a liberação da mercadoria em até seis horas úteis a partir da chegada da aeronave, reduzindo também, em conseqüência, os custos de armazenagem.
O aeroporto de Viracopos oferece ainda outra vantagem aos seus usuários: a Entrega Programada de Carga, que, desde 1999, vem diminuindo o número de caminhões parados nas docas do terminal nos horários de pico.
A solução foi simples: os pedidos agendados pelo importador na Central de Puxe de Carga até as 17h30 têm carregamento garantido no mesmo dia. Em Viracopos, cerca de 6 mil clientes utilizam o sistema – 1.800 regularmente, destes 100 grandes empresas que respondem por 50% do movimento total.
A empresa que administra os aeroportos brasileiros também criou o sistema Exportação Expressa, para que os pequenos exportadores tenham condições de fazer seus próprios despachos, aumentando o acompanhamento da carga no processo "porta a porta".
"Os empresários vêem com muito bons olhos esse avanço logístico dos aeroportos. Quanto mais ágil e menos onerosa for a importação de componentes para produtos destinados à exportação, melhor será para o comércio exterior e para a economia brasileira", afirma José Cândido Senna, coordenador do Comitê de Usuários dos Portos e Aeroportos do Estado de São Paulo (Comus).
Investimentos
De acordo com Schild, a Infraero tem um plano de desenvolvimento para os terminais de logística de carga que prevê a construção de novos armazéns e a modernização de terminais atuais. "Ainda em 2004, a empresa pretende iniciar investimentos em infra-estrutura para carga".
Essa ação prevê a construção de novos terminais, ampliação de áreas, reformas de instalações, aquisição de sistemas e equipamentos, como o trans-elevador, equipamento que garante acomodação vertical e identificação totalmente informatizada. Permite a utilização mais racional do espaço e agiliza a localização de mercadorias.
Hub do Mercosul
Viracopos está assumindo o papel de centro de distribuição de cargas para o Brasil e o Mercosul. Grande parte do volume de importações que chega ali é de componentes que são incorporados a produtos montados no país e destinados ao mercado interno e externo. Dos US$ 850 milhões recebidos em importação por Viracopos, 20% são enviados a outros aeroportos.
Isso não acontece por acaso. Há alguns anos, a Infraero vem preparando esse aeroporto para ser o hub da América do Sul. Foram construídos dois armazéns de cargas para exportação, com 10 mil metros quadrados e 36 mil metros quadrados, um pátio de estacionamento de aviões cargueiros, com capacidade para 11 Boeings 747, e um terminal de cargas vivas.
Os próximos passos são concentrar, nos lotes ao redor de Viracopos, os prestadores de serviço do comércio exterior, e transformar o terminal de Campinas em Aeroporto-Indústria.
Isto quer dizer que empresas poderão montar seus produtos dentro dos aeroportos, com componentes importados, sem a necessidade de pagar impostos para nacionalizá-los, e dali mesmo fazer a exportação.
O projeto do Aeroporto-Indústria é uma das 11 iniciativas de incentivo à exportação adotadas pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Os primeiros aeroportos a receber essas estruturas serão os de São José dos Campos, Tancredo Neves (Confins), Antônio Carlos Jobim (Galeão) e Petrolina (Pernambuco).
Localização estratégica
Na região de Campinas, localizada entre a Grande São Paulo e o Vale do Paraíba, estão 430 empresas, das quais 50 pertencem ao grupo das maiores do mundo, principalmente de telecomunicações e informática, como Motorola, Compaq, IBM e Lucent.
Também estão em Campinas as maiores empresas de carga expressa do mundo – UPS, DHL e FedEx. A UPS, cujos investimentos em Viracopos representam 70% do total no Brasil, mantém uma aeronave exclusivamente para aquele terminal, com seis vôos por semana.
A Associação Brasileira das Empresas de Transporte Internacional Expresso de Cargas (Abraec) está elaborando um projeto, em parceria com a Infraero e a Receita Federal, para a construção de um terminal unificado de cargas expressas no Aeroporto de Viracopos.
O presidente da entidade, Cássio Lopes, afirma que o objetivo do projeto é “colocar todos sob o mesmo teto. As empresas, a Receita Federal, o Ministério da Agricultura e da Saúde, e a própria Infraero”, explica.
Segundo ele, o projeto está em fase de aprovação, portanto ainda não teve o valor do investimento definido. “As obras devem iniciar em seis meses, com conclusão prevista para o final de 2005”, diz.
Cargas on line
Os terminais de cargas da Infraero estão disponíveis na internet. Por meio do site da Infraero na página do Tecanet, o cliente pode monitorar o percurso da mercadoria despachada desde o terminal de embarque até o momento da retirada dos volumes no aeroporto de destino.
Desta forma, o importador ou exportador tem a sua disposição um importante mecanismo de controle de seus negócios, que pode ser utilizado de casa ou do escritório. Se o cliente for cadastrado, é possível até mesmo imprimir o boleto para pagamento na rede bancária, o que agiliza a retirada da mercadoria e evita filas.
Contato
www.infraero.gov.br

