São Paulo – A África vem procurando desenvolvimento por meio da agricultura, mas encontra algumas barreiras, como a dificuldade de estabelecer cooperação e ter financiamento para pequenos produtores, que são os principais responsáveis pela produção do campo na região. Especialistas estiveram reunidos para falar sobre o tema nesta quarta-feira (13) no Sheraton WTC, na capital paulista, no segundo dia do Fórum Brasil África, e discutiram alguns caminhos para a agricultura no continente, inclusive com a participação brasileira.
Vários dos debatedores defenderam que a agricultura pode ser um meio para o desenvolvimento econômico do continente africano. O secretário-geral da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Tamer Mansour (foto acima), participou do segundo painel do dia, sobre o cenário de comércio internacional da agricultura, e afirmou que alimentos são muito importantes para as relações do Brasil com a África. Parte dos países árabes fica no continente africano e o Brasil é um dos principais fornecedores de alimentos da região.
Segundo dado apresentado pelo economista chefe e diretor de pesquisa e cooperação internacional do Afreximbank, Hippolyte Fofack, 75% das importações de alimentos e produtos agrícolas da África são provenientes do Brasil. O Afreximbank fica no Cairo, capital egípcia, e é uma instituição de financiamento criada por iniciativa do Banco Africano de Desenvolvimento (BAD). Fofack acredita que o Brasil pode cooperar com a África para a industrialização dos alimentos e em energias renováveis.
É consenso entre os especialistas que falaram no encontro que Brasil e África podem ter mais do que comércio. Mansour falou que a Câmara Árabe trabalha para levar a relação do Brasil com os países árabes para além das importações e exportações e defendeu a criação de projetos agrícolas triangulares, com participação do Brasil, dos países árabes do Golfo e dos países da África. Para que esse relacionamento flua, Mansour acredita ser importante a existência de acordos entre os países, de livre comércio, eliminação de bitributação e facilitação de investimentos.
A gerente do International Trade Centre (ITC), Fernanda Leite, questionou a ausência brasileira na agricultura africana e afirmou que a China e a Índia estão fincadas na África, fazendo negócios com África. “E o Brasil onde está?”, disse. Ela falou da importância de dar condições para pequenas e médias empresas se internacionalizem, inclusive indo para a África, já que são as grandes geradoras de emprego e renda no mundo. De acordo com Fernanda, um dos entraves para as empresas menores entrarem em novos mercados é a falta de informação.
De acordo com o economista pesquisador do Instituto Brasil-África, Igor Lucena, o Brasil se tornou uma potência agrícola nos últimos 100 anos e isso também acontecerá com a África no futuro. Hippolyte também mostrou acreditar no potencial da agricultura na África. “A África não vai entrar no comércio global sem o desenvolvimento da agricultura”, disse o economista chefe do Afreximbank.
A fundadora e CEO da Development Impact Manager and Advisors (Dima), Luana Ozemela, contou no fórum sobre a experiência do Catar, um país que, assim como a maioria das nações africanas, enfrenta condições climáticas adversas para produzir. A empresa é uma consultoria de desenvolvimento econômico com sede no Catar, mas Luana é brasileira. Ela contou que o embargo econômico deu impulso à produção agrícola do Catar, que precisou buscar maior suficiência no abastecimento de alimentos. “O país está se tornando verde no meio do deserto”, disse ela.
Financiamento
Também foi tema do primeiro painel do dia o financiamento à agricultura na África. Segundo especialistas, um dos entraves para o acesso aos recursos para a produção é que muitas das propriedades rurais não têm registro e os bancos exigem garantias para fornecer crédito. O vice-presidente sênior do grupo OCP para o Leste da África, Fayçal Benameuri, disse que a falta de financiamento e recursos impede a melhoria da produtividade. O OCP é a estatal marroquina produtora de fosfatos.
A CEO do Standard Bank, Natalia Dias, contou sobre a experiência da instituição financeira para a qual trabalha, que tem sede na África do Sul. Os financiamentos são feitos com a participação das grandes tradings que comercializam a produção dos pequenos produtores. Essas mesmas tradings atuam no monitoramento das lavouras, o que o banco também faz com a parceria de outras empresas estrangeiras.
O tema principal do Fórum Brasil África foi a segurança alimentar. O encontrou teve dois dias de duração, nesta terça-feira e quarta-feira, e contou com a presença do vice-presidente da República, Hamilton Mourão, no seu dia de abertura. Também participaram outras autoridades, como o ministro da Agricultura e Desenvolvimento Rural da Nigéria, Alhaji Sabo Nanono. A promoção do fórum é do Instituto Brasil África.