Belém – O agronegócio brasileiro vê a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30), que ocorre em novembro em Belém, no Pará, como uma oportunidade de apresentar aos demais países como o setor lida com a preservação ambiental. O fato de o Brasil sediar a COP deve chamar a atenção para a atividade agropecuária do País. “É uma discussão que veio aqui para perto e a gente não tem nada a esconder”, diz o coordenador de Sustentabilidade da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Nelson Ananias Filho.
O autorretrato que o agronegócio nacional faz em nada se aproxima ao desenhado pela crítica europeia, de que o Brasil desmata para produzir. O setor entende que trabalha com uma das legislações ambientais mais exigentes do mundo, se tratando de uma nação tropical que tem na agricultura o seu desenvolvimento e pilar econômico. “É bastante importante mostrar que isso existe sim e que está sendo cumprido”, disse Nelson, sobre o código florestal brasileiro.

“A COP veio para o Brasil para nos dar essa oportunidade de mostrar o que realmente acontece aqui, chamar a atenção para que, aqui no Brasil, principalmente nessa região de floresta, existe uma população que vive harmonicamente dentro da floresta, com cadeias produtivas que conciliam a produção e a preservação. Isso precisa ser mostrado ao mundo”, disse Nelson à ANBA, falando no Pará, estado que fica em região de floresta amazônica.
A CNA informa que atualmente a lei brasileira exige que as propriedades rurais que ficam no bioma amazônico destinem 80% das suas áreas para reserva legal (com vegetação nativa, sem produção), percentual que é de 35% no Cerrado e de 20% nos demais biomas do País. Além disso, é preciso manter intocáveis as áreas de preservação permanente da propriedade, que são nascentes e topos de morros, entre outros tipos de terrenos. Os percentuais foram definidos no Código Florestal, que é de 2012, com alguma diferenciação para quem plantava na área já antes 22 de julho de 2008, quando o Brasil mapeou as suas vegetações nativas.
Segundo dados divulgados pela CNA, 66,3% do território do Brasil é composto por áreas de preservação e proteção de vegetação nativa, o que inclui os espaços de preservação dos imóveis rurais. As cidades e infraestrutura ocupam 3,5% e a agropecuária utiliza 30,2% do total. “Sessenta e seis por cento da vegetação nativa do Brasil ainda está de pé e 33,2%, ou seja, metade dessa vegetação nativa que ainda está de pé, está dentro de propriedade privada no Brasil”, afirma Nelson.
Os produtores rurais do Brasil estarão diretamente implicados nas discussões que o governo brasileiro terá na COP. “A principal proposta de NDC, para atingir a redução de 59% a 67%, está baseada no setor agropecuário, na recuperação de áreas degradadas”, explica Nelson sobre o compromisso do Brasil de diminuir para os percentuais acima as suas emissões até 2035 com base nos níveis de 2005. A sigla em inglês NDCs significa Contribuições Nacionalmente Determinadas, que representam o compromisso de um país para reduzir emissões. Um dos principais caminhos do Brasil para cumprir sua meta será recuperar áreas degradadas, especialmente de pastagens. “Quem vai cumprir somos nós”, diz Nelson.
No campo
Esse tipo de ação, recuperações de áreas degradadas de pastagens, já vem sendo adotada pela agricultura brasileira. Na Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (CAMTA), que fica na cidade de Tomé-Açu, no estado do Pará, alguns cooperados converteram 18 hectares de área degradada de pasto em um sistema agroflorestal, que combina árvores e outras plantas produtivas, especialmente de dendê. A meta é chegar a 2 mil hectares, de acordo com o coordenador técnico da cooperativa, Pedro Silva.

Os agropecuaristas brasileiros também contabilizam como ganho ambiental o avanço na produtividade da terra e das culturas, que fez com que, para produzir mais alimentos, não precisassem abrir novas áreas. Para grupo de jornalistas de veículos de imprensa estrangeiros que está em press trip a convite da CNA ao estado do Pará, em uma ação pré-COP, o consultor da confederação e produtor rural brasileiro Ricardo Arioli Silva contou o seu caso e da sua família com a agricultura como um exemplo disso.
Vindo do Rio Grande do Sul, Arioli se estabeleceu na década de 1990 no Mato Grosso para produzir. O objetivo inicial era plantar apenas soja, mas alguns anos depois, baseada na experiência de outros produtores, a família passou a cultivar milho na entressafra. Mais recentemente adotou o plantio de pasto de braquiária junto com o milho, tornando a lavoura área de pastagem para o gado após a colheita do milho. Ou seja, uma terra que inicialmente geraria apenas soja, acabou se tornando fonte de outros dois alimentos.
A COP30 vai ocorrer de 10 a 21 de novembro, com a reunião de chefes de estado marcada para os dias 6 e 7 de novembro. Na ocasião, Belém receberá delegações internacionais e líderes dos países. Uma reunião ministerial preparatória foi realizada em Brasília, no Distrito Federal, em 13 e 14 de outubro. A CNA terá dois espaços na conferência de Belém, um na Blue Zone e outro na AgriZone, com a recuperação de pastagem degradada da pecuária e outras iniciativas sustentáveis entre as suas pautas.
*A jornalista viajou a convite da CNA
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