São Paulo – O Brasil pode ampliar ainda mais sua importância como fornecedor mundial de alimentos e de fontes renováveis de energia, mas empresários e especialistas dizem que faltam investimentos estatais para que isso ocorra. As críticas ao governo deram o tom de boa parte do 11º Congresso do Agronegócio, realizado nesta segunda-feira (06), em São Paulo, pela Associação Brasileira de Agribusiness (Abag).
“Nossa logística está apagada. Jogamos no lixo todas as oportunidades que tínhamos com relação à obtenção de crédito. Temos um maior volume [de demanda de projetos] e com crédito menor. Para a missão que o mundo reserva ao Brasil, nós vamos precisar muito mais do que isso (do crédito que hoje está disponível)”, afirmou o congresso o presidente da Abag, Luiz Carlos Corrêa Carvalho. Ele citou como empecilhos também a alta carga tributária e a falta de projetos no agronegócio.
No segundo debate do dia, “Brasil como ofertante de energia – o que será essencial”, o presidente da Cosan, uma das maiores produtoras e distribuidoras de etanol do País, Marcos Lutz, afirmou que o setor sucroalcooleiro passa por uma crise para obtenção de crédito, porque os custos são elevados e o governo não tem um método específico para o cálculo do preço da gasolina. Ele cobrou também investimentos e capacitação tecnológica.
“Fundamental é ter uma regra clara para estabelecer o preço da gasolina. A falta de regras é o maior impeditivo de investimentos mais vultosos [no setor]”, afirmou Lutz. A gasolina custa mais que o etanol. No entanto, tem um rendimento maior. Portanto, é preciso que o etanol tenha um preço competitivo em relação à gasolina para que máquinas e veículos sejam abastecidos com este combustível. Lutz acredita que, se o governo não tem uma regra clara para calcular o preço da gasolina, os produtores de etanol não têm condições de fazer grandes investimentos no etanol sem saber se ele será ou não competitivo.
O presidente da estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), Maurício Tolmasquin, afirmou, por outro lado, que o etanol tem uma carga tributária menor do que a gasolina no Brasil e que o setor passa por uma crise de conjuntura que não deverá afetar seu desempenho no futuro.
Tolmasquin acrescentou que as empresas do setor encontram dificuldades para obter financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para seus projetos porque nem sempre cumprem todas as exigências para obter crédito. “O BNDES tem dificuldade de emprestar porque a empresa está muito endividada ou então precisa apresentar licenças ambientais que ainda não foram concedidas. O BNDES precisa ser cuidadoso no empréstimo porque aquele dinheiro é de todos”, disse.
O presidente do BNDES, Luciano Coutinho, apresentou em uma palestra as principais oportunidades para os produtores de alimentos e de energia no Brasil nos próximos anos. Ele afirmou que a demanda interna irá crescer, assim como o consumo mundial de grãos e proteínas e o uso dos biocombustíveis. Os preços dos produtos básicos também aumentarão. Para atender a demanda, afirmou Coutinho, o Brasil terá que aumentar o rendimento da sua produção. “O desafio agora é ter mais oferta com ganho de produtividade”, disse. Ele também estima que a produção de etanol terá que dobrar até 2030 para atender a demanda.
Coutinho afirmou que as empresas terão que fazer esforços para que possam aproveitar as oportunidades que o aumento mundial de demanda de alimentos e energia irá gerar. “O Brasil já é liderança em vários segmentos do agronegócio. Manter a liderança requer um conjunto de esforços persistentes no tempo. O primeiro e mais importante é inovação tecnológica para ter melhora na qualidade de sementes, melhora na qualidade do plantel de animais para a zootecnia, ter mais produtividade. Segundo: melhorar o produto das operações da agroindústria. Terceiro: desenvolver marca e desenvolver produtos mais processados. Tudo isso requer um fortalecimento da estrutura empresarial”, disse.
O presidente do BNDES reconheceu, porém, que não são apenas as empresas que precisarão fazer esforços e que o governo federal deverá anunciar um projeto para melhorar a infraestrutura e a logística do País. “Além disso, o governo tem que fazer sua parte e uma coisa muito importante para o agronegócio será o grande compromisso em alavancar e acelerar os investimentos em logística que serão em breve anunciados e que, esperamos, possam inaugurar um ciclo de grande escala e investimentos no setor de logística no Brasil, em prol do agronegócio em grande medida.”

