Alexandre Rocha
São Paulo – O saldo da balança comercial do agronegócio brasileiro foi de mais de US$ 16 bilhões no primeiro semestre deste ano, com exportações de US$ 18,49 bilhões e importações de US$ 2,41 bilhões. Já o superávit da balança comercial geral do país foi de pouco mais de US$ 15 bilhões no período, um recorde histórico, resultado das exportações de US$ 43,3 bilhões e das importações de 28,2 bilhões. Isso, na opinião de especialistas ouvidos pela ANBA, demonstra que o setor agropecuário vem sustentando o saldo comercial favorável ao Brasil.
"Essa é a verdade. Não quero elogiar o meu próprio setor, mas trata-se de um dado estatístico", disse o vice-presidente de assuntos internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Gilman Rodrigues.
"(O agronegócio) é o grande gerador de divisas. Por isso é que se diz que o Brasil está voltando às suas origens, olhando mais para o campo, para o caminho da sua vocação natural", acrescentou o diretor do Instituto de Estudos da Associação Brasileira de Agribusiness (Abag), Luiz Antonio Pinazza.
Com base nos dados do primeiro semestre, o chefe do departamento de comércio exterior da CNA, Antonio Donizeti Beraldo, estimou que as exportações do setor deverão chegar a US$ 35 bilhões até o final do ano, segundo informações divulgadas pela assessoria de imprensa da entidade.
Número que, se confirmado, será 15% superior ao total do ano passado, que foi de US$ 30,6 bilhões. Já as importações, na avaliação da CNA, deverão somar US$ 5 bilhões e, por conseqüência, o saldo favorável ao Brasil deve ficar em US$ 30 bilhões.
Já as exportações totais do país devem chegar a US$ 88 bilhões, segundo previsão do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan. Ele acredita que as importações vão ficar em US$ 60 bilhões e o saldo favorável ao Brasil em US$ 28 bilhões, menos portanto do que a previsão de superávit do agronegócio.
Dois fatores determinantes para o bom desempenho do setor, segundo Rodrigues, são a qualidade e o preço competitivo dos produtos agropecuários brasileiros. Em sua avaliação, se as mercadorias do Brasil não sofressem tanto com barreiras tarifárias praticadas em mercados consumidores, como a Europa por exemplo, as receitas poderiam ser bem maiores, mesmo com o embarque das mesmas quantidades. "Por isso é preciso muito cuidado nas negociações internacionais", disse.
Superávit não garante desenvolvimento
Pinazza ressaltou, porém, que um alto saldo na balança comercial por si só não provoca o desenvolvimento do país. "Isso pode levar a uma conclusão equivocada", afirmou. Isso porque, em sua avaliação, o aumento das importações em outros setores, na indústria principalmente, pode indicar o aquecimento da economia.
A indústria importa insumos e bens de capital para investir na produção. "Alguns setores importam mais insumos para favorecer a indústria local. Num primeiro momento a empresa importa, mas depois substitui importações. Com relação ao desenvolvimento do país isso tem que ser levado em consideração", declarou.
É consenso entre os especialistas que o setor agropecuário brasileiro se aproveitou das dificuldades ocorridas em outros países para ampliar seus mercados. Dificuldades como a quebra na safra de soja nos Estados Unidos, ocorrida no ano passado, a ocorrência do mal da vaca louca no mesmo país, a seca na Austrália a epidemia de gripe aviária que atingiu as criações de outros países exportadores de frango.
Nesses sentido, o retorno dos produtores destes países ao cenário internacional poderia tornar as exportações brasileiras vulneráveis, dada sua dependência no agronegócio? "Vulnerável, mas não muito", respondeu Rodrigues. "O Brasil consegue manter estes mercados, pois tem qualidade e preço. Pode até perder alguma coisa, mas não tudo", afirmou. "O Brasil é muito competitivo, tem qualidade e escala de produção. Competir com o Brasil não é fácil", acrescentou Pinazza.
Rodrigues ressaltou, no entanto, que o país precisa investir em logística, para dar conta do aumento da produção, e em defesa sanitária, para não sofrer com os mesmos problemas de seus concorrentes. "Se o Brasil mantiver sua visibilidade e qualidade sanitária, garantindo a confiança do consumidor, e melhorar sua logística, não vai haver fantasmas no mercado", declarou.
PIB do setor
Segundo um estudo da CNA, o Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro deverá chegar a R$ 522,19 bilhões em 2004, valor 2,7% maior do que o registrado no ano passado, que foi de R$ 508,27 bilhões. O cálculo levou em consideração todas as etapas da cadeia do setor, desde a produção agropecuária propriamente dita, passando pelos segmentos de insumos e industrialização dos produtos, até a distribuição.
Para a produção primária da agricultura, a previsão é de um PIB de R$ 98,16 bilhões, 3,5% a mais do que em 2003. Já para a produção primária da pecuária, a estimativa é de R$ 67 bilhões, ou 5,7% a mais do que no ano passado.

