São Paulo – Poucos brasileiros sabem, mas Alexandria, no Egito, tem uma igreja brasileira. Em 1868, época em que o Brasil ainda era uma monarquia, o imperador d. Pedro II mandou substituir a capela do consulado geral brasileiro na cidade por uma igreja católica. Após 142 anos, o consulado não existe mais no local, mas a igreja ainda está de pé e aos domingos fica lotada, com missas celebradas em memória ao imperador.
A igreja brasileira é católica greco-melquita, que utiliza o rito bizantino para suas missas, que são celebradas em árabe. De acordo com o antropólogo Antonio Brancaglion Junior, o responsável pela construção da igreja foi o cônsul honorário do Brasil em Alexandria, Miguel Debbane, que era um conde libanês.
Em 2008, Brancaglion esteve em Alexandria para visitar a igreja e, segundo ele, a família Debbane, que é muito tradicional, ainda é a responsável por ela. Hoje, quem toma conta do local é a neta de Debbane, que recebeu o mesmo nome do avô, Miguel.
Com 80 anos de idade, ela afirmou ao antropólogo que a igreja é muito querida e frequentada pela comunidade católica de Alexandria. Nas missas, além de d. Pedro II, o conde Debbane, que foi sepultado em uma cripta na lateral da igreja, é também homenageado.
A igreja foi consagrada a São Pedro Príncipe dos Apóstolos pelo patriarca de Alexandria. “Quando eu estive lá, eu vi que as pessoas não conhecem a igreja pelo seu nome original, mas por ‘Igreja Debbane’”, afirmou Brancaglion. Segundo ele, o local é bem arrumado e conservado, mas é pequeno e não tem imagens de santos.
Até 1957, a igreja ostentava ainda o brasão imperial brasileiro na fachada lateral, mas depois foi substituído pelo escudo do Brasil República. De acordo com o embaixador do Brasil no Cairo, Cesário Melantônio Neto, todo ano, no dia 7 de setembro, dia da independência do Brasil, é hasteada a bandeira brasileira na igreja.
Visita do imperador
Quando o d. Pedro II esteve no Templo de Karnak, em Luxor, no sul do Egito, ele afirmou que a França e o Egito eram duas paixões da vida dele. Por esse motivo, talvez, segundo Brancaglion, o imperador escolheu o país árabe para construir um marco brasileiro.
O antropólogo lembra que a Alexandria, na época, era uma cidade de muita importância, pois tinha o principal porto do Mediterrâneo e abrigava diversos consulados. Em 1871, d. Pedro II e a imperatriz Tereza Cristina foram ao país árabe e visitaram a Igreja.
O imperador foi o primeiro chefe de estado brasileiro a visitar o Oriente Médio. Sua paixão pelos países árabes o levou até aprender a língua. Ao longo de sua vida, d. Pedro II foi um grande colecionador de peças históricas do Egito antigo, que hoje estão expostas no Museu Nacional do Rio de Janeiro.