São Paulo – O Museu da Imigração, em São Paulo, está em reformas e só deverá ser reaberto no segundo semestre de 2012. Mesmo com o acesso ao seu prédio fechado, milhões de brasileiros descendentes de imigrantes podem agora consultar documentos da instituição que antes só estavam à disposição do governo do Estado. A Secretaria de Estado da Cultura colocou no site www.museudaimigracao.org.br, para a consulta de qualquer pessoa, 87.640 imagens de documentos, registros, fotos, jornais e até mapas de colônias.
Alguns desses documentos podem comprovar a chegada de um imigrante a São Paulo. Isso torna possível a alguns descendentes reunir documentos para obtenção de passaportes dos países de origem de seus antepassados. É possível, também, que um pesquisador utilize o site para procurar informações sobre as colônias. Em alguns casos, há até o nome da cidade para a qual a pessoa foi depois de passar pela Hospedaria de Imigrantes do Brás, onde atualmente funciona o Museu da Imigração, que antes da reforma se chamava Memorial do Imigrante.
De acordo com o coordenador do Arquivo Público do Estado de São Paulo, Carlos de Almeida Prado Bacellar, a oportunidade de digitalizar os documentos surgiu quando o museu foi fechado para reforma. O acervo seria transferido para armazenamento no Arquivo Público. A Secretaria de Cultura pediu, nesta ocasião, que o Arquivo Público digitalizasse o acervo.
"Isso facilita o acesso do público, que só teria como pesquisar esses documentos se viesse para cá. Algumas pessoas, no entanto, vivem longe de São Paulo e não teriam condições de se deslocar até a capital. Assim, preservamos os originais, que são de acesso restrito", diz.
Do total de documentos disponíveis na web, 3.223 são cartas de chamada, 2.824 são documentos cartográficos, 9.740 são iconográficos (como fotos), 2.098 são jornais do acervo do Arquivo Público, 37.739 são livros de registro de matrícula da Hospedaria dos Imigrantes e 32.016 são Requerimentos da Secretaria da Cultura, Comércio e Obras Públicas (Sacop), que eram feitos pelos imigrantes para pedir restituição das despesas de viagem. As cartas de chamadas eram documentos garantindo que o imigrante teria um tutor no Brasil até ter um ganho financeiro. Todos foram digitalizados pela equipe do Arquivo Público durante sete meses em um investimento de cerca de R$ 166 mil. Todos foram, depois de escaneados, armazenados em embalagens que os protegem da decomposição.
Parte dos documentos já podia ser procurada no site do Memorial do Imigrante. A Secretaria da Cultura afirma que mais de 90% das imagens que estavam disponíveis no site era de baixa qualidade e, agora, será de alta definição. Alguns documentos não puderam ser copiados porque são muito sensíveis ou estão em estado avançado de decomposição. Todos os tipos de documentos apresentaram este problema, mas segundo Bacellar, ele se mostrou mais frequente nos livros de registros. "São livros grandes, com até um metro de altura, com muitas páginas e que eram muito manipulados. Esses precisarão ser restaurados antes de ser digitalizados", diz Bacellar.
A maioria dos documentos foi armazenada a partir de 1887, ano em que a Hospedaria de Imigrantes foi aberta. O Arquivo Público estima que dois milhões de pessoas tenham passado pelo local neste período, mas, segundo Bacellar, não é possível dizer quantos destes imigrantes eram árabes. "Muitos deles, mesmo sendo sírios ou libaneses, entraram no país com passaporte turco, por causa da invasão do Império Otomano", diz.
Bacellar também afirma que os documentos são referentes apenas às pessoas que passaram pela Hospedaria de Imigrantes e que vieram para o Brasil subsidiadas pelo governo de São Paulo. Imigrantes que vieram para cá por conta própria não passaram pela hospedaria e suas informações não constam deste sistema. "Se vieram como autônomos, não passaram por aqui. Para a hospedaria só foram aqueles financiados pelo estado de São Paulo", diz Bacellar.
O projeto ainda não acabou. A Secretaria de Cultura estima que até junho de 2012 deverá colocar na internet mais cem mil páginas dos diários de bordo dos navios que trouxeram os imigrantes para o Brasil. Para o secretário de estado da Cultura, Andrea Matarazzo, "trata-se de uma ação que democratiza o acesso ao conhecimento".

