Alexandre Rocha*
São Paulo – Enquanto os produtores de frango comemoram aumentos seguidos nas vendas externas do setor, os exportadores de carne suína amargam a maior queda nos embarques registrada nos últimos 12 meses. O principal motivo é o sistema de cotas de importação imposto pela Rússia, maior mercado do segmento.
Segundo dados divulgados pela Associação Brasileira dos Produtores e Exportadores Frango (Abef), os embarques de aves inteiras e em pedaços somaram 157 mil toneladas no mês passado, equivalentes a US$ 155 milhões, um aumento de 7,15% na quantidade exportada e de 38,95% nas receitas em comparação com janeiro do ano passado. Em relação a dezembro de 2003, o crescimento registrado foi de 8% no faturamento e de 10% nos volumes.
A entidade informou que tal desempenho foi resultado de contratos fechados em meses anteriores e da trajetória de aumento de preços do produto no mercado internacional. Portanto, de acordo com a Abef, o aumento das exportações em janeiro ainda não pode ser considerado um efeito do aparecimento de focos da influenza aviária (gripe do frango) na Ásia e nos Estados Unidos, fato que causou a suspensão das importações de frangos produzidos nesses países por parte de diversas nações compradoras.
Já no setor de carne suína o cenário é bem diferente. As exportações em janeiro somaram 20.679 toneladas, equivalentes a US$ 26,5 milhões, uma queda de 48% na quantidade embarcada e de 28% nas receitas, em comparação com os números registrados em janeiro de 2003. Os dados foram divulgados pela Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abipecs).
No ano passado, o Brasil exportou 491.487 toneladas de carne suína, sendo que 313.500 toneladas foram para a Rússia. No entanto, com o sistema de cotas adotado pelo país eslavo, os produtores brasileiros vão ter de disputar com outros países uma cota de 179.500 toneladas.
Reivindicações
Preocupados com esta situação, os produtores apresentaram na quarta-feira (18) ao ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, um documento propondo ações para reduzir o excesso de oferta do produto no mercado interno, causado justamente pela diminuição das exportações para a Rússia.
Entre as atitudes a serem tomadas pelos próprios produtores estão a redução do número de reprodutores, a diminuição de quatro quilos no peso médio de abate, a realização de campanhas de marketing e articulação com a Associação Brasileira de Supermercados (Abras) para a promoção das vendas.
Da parte do governo, as medidas sugeridas são: inclusão da carne de porco na política de preços mínimos, o que permitiria ao governo a aquisição de 30 mil toneladas do produto; criação de uma linha de crédito com juros de 8,75% ao ano para estocagem; inclusão do produto para uso das instituições públicas; promoção das exportações; e investimento de recursos financeiros, de material e de pessoal no sistema de defesa sanitária animal. O governo também já estuda liberar financiamentos que somam R$ 200 milhões para o setor de suínos.
Além disso, representantes do setor estão mantendo conversas com autoridades russas em busca da revisão do sistema de cotas. O mesmo está sendo feito pelos segmentos de frangos e de carne bovina, também atingidos pelas restrições criadas pelo país eslavo, embora não da mesma maneira, já que a Rússia não é o maior mercado para esses dois setores. O principal destino dos frangos brasileiros, por exemplo, é o Oriente Médio.
No entanto, a Abef também divulgou números desanimadores sobre as compras russas. Foram embarcadas em janeiro 3.936 toneladas de frangos para aquele país, equivalentes a US$ 3 milhões, uma redução de 82% nas quantidades vendidas e de 73% nas receitas, em relação a janeiro do ano passado. Na comparação com dezembro de 2003, as quedas foram de 58,5% nas quantidades e de 66% no faturamento.
Missão russa no Brasil
Nesta semana, desembarcou no Brasil uma missão chefiada pelo vice-primeiro ministro russo, Boris Alioshin, para tratar, entre outros assuntos, das relações comerciais entre os dois países. Ontem (19), Rodrigues disse que, apesar do sistema de cotas, os russos pretendem ampliar a compra de carne de frango brasileira por conta da crise sanitária ocorrida, principalmente, nos países asiáticos.
O ministro acrescentou que a revisão das cotas não representará um aumento significativo nas exportações para aquele país ainda este ano. Ele disse, porém, que Alioshin informou que as importações de carne suína e de frango devem aumentar, assim como as de soja e milho do Brasil.
As negociações em torno das cotas começaram em janeiro, quando Rodrigues e seu colega Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) chefiaram uma missão a Moscou.
OMC: apoio condicionado
Ainda nesta quinta-feira (19), o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que o Brasil apóia as pretensões da Rússia de entrar na Organização Mundial do Comércio (OMC), mas, em contrapartida, quer a diminuição das barreiras impostas às carnes brasileiras.
“As negociações da OMC são políticas, mas às vezes se detêm muito em questões de produtos. A solução que for dada à questão ajudará no nosso ânimo em poder apoiar o rápido ingresso da Rússia na organização”, afirmou Amorim à Agência Brasil.
Apesar dos problemas com a Rússia, o preço médio da carne suína brasileira continua a subir no mercado internacional. Chegou a US$ 1.284 por tonelada em janeiro, um aumento de 38% ante o valor registrado no mesmo mês de 2003.
Mesmo com o sistema de cotas, a Rússia continuou a ser o principal mercado do porco brasileiro no mês passado, seguida de Hong Kong, Argentina, Cingapura e Uruguai. No caso do frango, os principais destinos em janeiro foram, em termos de receitas, o Japão, Arábia Saudita, Hong Kong, Holanda e Alemanha.
* com informações da Agência Brasil

