São Paulo – A Agência Brasileira de Promoção de Exportações e Investimentos (ApexBrasil) quer que mais empresas lideradas por mulheres comecem a exportar. Em 2022, somente 343 das quatro mil empresas exportadoras brasileiras eram lideradas por mulheres. Um dos objetivos do programa Mulheres e Negócios Internacionais, lançado pela agência no começo de junho, é que até o final de 2024, sejam mil empresas.
Ana Repezza (foto), diretora de Negócios da ApexBrasil, falou à ANBA em Brasília. Ela tomou posse em 09 de janeiro e percebeu que oito dos dez gerentes da entidade são mulheres. “Juntando isso com o contexto do atual governo, de buscar essa questão do equilíbrio de gênero nos cargos da administração pública, vi que tínhamos que aproveitar essa oportunidade para deixar um legado, de fazer com que a presença feminina nos cargos de liderança se converta em mais mulheres nas ações de comércio exterior”, contou Ana.
O insight para a iniciativa aconteceu em fevereiro e a iniciativa começou a ser implementada neste mês. “Com esse contexto favorável, o presidente [da ApexBrasil] Jorge [Vianna] abraçou a ideia e em menos de três meses conseguimos lançar o programa Mulheres e Negócios Internacionais, um programa transversal a todas as ações que a Apex executa, trazendo uma lente de gênero para essas ações”, disse Ana.
A meta até 2026 é chegar a 50% de empresas exportadoras lideradas por mulheres, sejam elas proprietárias ou diretoras. A ApexBrasil tem 14 mil empresas apoiadas em sua base de dados. Menos de três mil são lideradas por mulheres (dados de 2022). “Isso reflete a realidade do empreendedorismo brasileiro e mundial, notadamente há menos mulheres em posições de liderança nas empresas como um todo, e no comércio exterior, a proporção é ainda menor”, declarou.
Na média mundial, 20% das empresas exportadoras são lideradas por mulheres. No Brasil, são 14%, em média, e apenas 5% das startups são lideradas por mulheres no País. “O desafio é estrutural”, disse Ana.
O programa traz dois grandes desafios para a entidade. O primeiro, segundo Ana, é levar mais empresas lideradas por mulheres para todas as ações da ApexBrasil, especialmente aquelas de capacitação para a exportação. O segundo é converter empresas lideradas por mulheres que ainda não exportam em exportadoras.
“Sabe aquele ditado, é preciso uma vila para criar uma criança? Eu digo que é preciso uma rede para fazer a mulher exportar”, disse Ana. Ela contou que buscaram parcerias com soluções complementares a essas ações.
Hoje a ApexBrasil já conta com 20 parceiros no programa. Entre eles estão o Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (Mdic), sob a liderança da secretária de Comércio Exterior Tatiana Prazeres; o Ministério das Mulheres, o Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) e o Ministério das Relações Exteriores (MRE); do setor privado, a Rede Mulher Empreendedora, o Sebrae, as redes de mulheres Women Inside Trade e Mulheres no Comex, entre outros.
“É um trabalho de capacitação e sensibilização. O principal objetivo é que haja uma mudança de mentalidade, uma mudança de postura das mulheres em relação às oportunidades que o comércio exterior pode trazer”, afirmou a diretora.
Uma das ações do programa é um processo de mentoria, que segundo Ana, está comprovado que funciona muito com mulheres. Nele, mulheres que já exportam são mentoras daquelas que ainda não exportam, atendendo questões específicas. Outra ação do programa será de rodadas de negócios voltadas para mulheres. A primeira delas será em outubro. “Mesmo nas ações não específicas, as mulheres vão ter equidade”, disse Ana.
O programa tem expectativa de resultado de médio a longo prazo, segundo a diretora, porque para começar a exportar, uma empresa leva em média de dois a três anos.
Uma análise do Banco Mundial indicou que empresas que exportam geram melhores empregos e pagam melhores salários. “Quando você coloca mulheres nessa equação, o impacto desse aumento de salário é bem maior, porque geralmente essa mulher vem de uma base salarial inferior. Quando ela entra no esforço exportador, e quando mulheres têm acesso a mais renda, elas investem em educação e na alimentação dos filhos, principalmente as de baixa renda, o que gera um impacto intergeracional, permitindo que a geração futura tenha melhores condições”, contou a diretora.
Ana ressaltou a importância de incluir mulheres que vivem em áreas rurais no programa. “O MDA tem o Programa de Organização Produtiva de Mulheres Rurais (POPMR), e na agricultura familiar, a maioria das lideranças são mulheres, mas elas ficam à margem da parte mais nobre do processo, que é negociar, vender, perceber o lucro. No programa, elas vão capacitar esses coletivos de mulheres de pequenas propriedades agrícolas, pescadoras, extrativistas, e nós vamos entrar com a oportunidade de exportar. Imagina o impacto que isso causa nessas comunidades. Para mim, isso é o mais importante, se a gente quer mudar a realidade de acesso à renda das mulheres”, disse a diretora.
“O grande propósito desse projeto é a geração de impacto e trazer mais renda para essas mulheres”, concluiu.