Rankus – Diante de um cenário de anos de conflito, problemas econômicos e alterações climáticas, o apicultor Ibrahim Damiriya (foto acima) luta para seguir produzindo mel em suas colmeias, que ficam em terras áridas da Síria, próximas a Damasco, a capital do país.
Até 2011, quando a guerra começou, Damiriya tinha 110 colmeias em Rankus, uma vila que já foi repleta de pomares com macieiras. Agora, uma combinação de conflito com seca severa e crise econômica deixaram-no com apenas 40 colmeias, dizimando a produção de mel.
Damiriya tem dificuldades para cuidar de suas colmeias, doadas pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) para ajudar os apicultores sírios.
“Se continuarmos sofrendo com as alterações climáticas e inflação, talvez eu tenha que abandonar a minha profissão”, disse Damiriya, suspirando.
Os conflitos na Síria causaram uma crise econômica severa, agravada por sanções ocidentais. Nos últimos anos, a Síria também foi atingida por ondas de calor, secas e incêndios florestais.
Clima extremo
Antes dos conflitos, a Síria tinha 635 mil colmeias, mas o número diminuiu para cerca de 150 mil em 2016, auge dos problemas, disse Iyad Daaboul, presidente da Associação Árabe de Apicultores, com sede em Damasco.
Hoje esse número voltou a subir para 400 mil, disse ele. No entanto, as colmeias produzem apenas 1,5 mil toneladas de mel por ano, metade do volume anterior.
Primaveras mais frias e secas prejudicaram as flores nas quais as abelhas se alimentam.
“As condições climáticas extremas afetaram muito as abelhas, especialmente durante a Primavera, época mais importante do ciclo de vida delas”, disse Daaboul. O número de apicultores caiu quase pela metade, de 32 mil em 2011, para cerca de 18 mil atualmente, disse.
Outra ameaça às abelhas são os incêndios florestais que se tornam mais comuns à medida que as temperaturas aumentam. Os incêndios “destruíram mais de mil colmeias nas montanhas da costa da Síria e ceifaram grandes áreas de alimentação das abelhas”, disse Daaboul.
Frio além do normal
O aumento das temperaturas e a desertificação afetaram a vegetação da Síria, destruindo muitas das flores onde as abelhas se alimentam e prejudicando o outrora próspero setor agrícola.
O porta-voz do CICV em Damasco, Suhair Zakkout, disse à AFP que “a produção agrícola da Síria caiu aproximadamente 50% nos últimos 10 anos” devido à guerra e às mudanças climáticas.
Apesar de ser um dos países mais afetados pelo aquecimento global, a Síria não tem os recursos necessários para enfrentar os impactos ambientais, disse Zakkout.
As alterações climáticas devastaram os pomares de maçãs do agricultor Ziad Rankusi, que também foram afetados pela exploração madeireira ilegal, à medida que as pessoas lutam para se manterem aquecidas durante o Inverno, devido à escassez de combustível.
Rankusi, que está na casa dos 50 anos, tinha mais de mil árvores em suas terras, mas apenas 400 sobreviveram e estão secando com o calor.
“Por cerca de cinco anos, tivemos secas e desertificação nunca vistas, e este ano, a Primavera foi muito mais fria que o normal. As frutas estragaram”, disse o agricultor.
“Quando não há árvores ou flores, as abelhas não conseguem se alimentar. Elas migram ou morrem.”
Traduzido por Elúsio Brasileiro
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