Randa Achmawi
Especial para a ANBA
Cairo (Egito) – A aproximação entre o Brasil e os países árabes que deve acontecer agora, após a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à região, deve garantir aos dois lados uma participação muito mais direta na solução de várias questões políticas e comerciais mundiais. A avaliação foi feita pelo assessor especial da Presidência para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.
Em entrevista à ANBA, logo depois da visita de Lula à sede da Liga Árabe, que reúne os 22 governos da região, Garcia disse que já exemplos concretos dessa ligação. Um deles é a formação do G-20, que conta com a participação de países árabes.
Leia a seguir os principais trechos da entrevista:
ANBA – Como foi a visita do presidente Lula à Liga Árabe?
Marco Aurelio Garcia – A avaliação é muito boa. Particularmente, acredito que a reunião na Liga Árabe foi, de certa forma, o coroamento de todo o percurso feito pelo presidente pelos países árabes. Isso porque Lula teve a oportunidade de falar para o conjunto dos governos árabes aqui representados. Ele expressou de uma forma muito clara, e sem nenhuma ambigüidade, a política do Brasil com relação ao mundo árabe.
E quais são os elementos mais importantes dessa política?
Acredito que o mais importante neste momento é poder desenvolver uma relação horizontal forte com o mundo árabe. A América do Sul e o mundo árabe são dois blocos de grande importância, que agora se olharam e conversaram um pouco. A perspectiva é de que seja estabelecida uma relação muito mais estreita a partir daqui, não somente do ponto de vista comercial e econômico, mas sobretudo no campo político. Queremos construir uma interlocução política consistente para poder intervir sobre a cena internacional.
Em termos concretos, quais devem ser os principais desdobramentos dessa aproximação?
Isso significa concretamente que nós, a partir de agora, poderemos participar de uma forma muito mais direta na solução de várias questões políticas e comerciais. Um exemplo disse foi a ligação já estabelecida pelo Brasil com alguns países da Liga Árabe em Cancún (durante a reunião ministerial da OMC, quando foi criado o grupo G-20, que reuniu países em desenvolvimento para protestar contra o protecionismo agrícola).
Também podemos ajudar no processo de obtenção da paz na Palestina e na reconstrução de um governo iraquiano com o apoio das Nações Unidas. A agenda é interminável, mas esses são os desafios mais imediatos.
Qual foi a repercussão com relação à iniciativa brasileira de realizar uma reunião de cúpula entre chefes de governo árabes e sul-americanos no Brasil em 2004?
A repercussão dessa inciativa foi muito positiva. Praticamente todos os paises árabes manifestaram intenção de comparecer à cúpula.