São Paulo – Os árabes contribuíram para o desenvolvimento da medicina, da filosofia e da matemática. São exemplo de resistência para sobreviver em condições difíceis e, por meio do Islã, ensinam que tolerância é fundamental na relação entre etnias e religiões. Essas são algumas das características deste povo, desde que começou a se formar entre os anos 3.000 a.C. e 1.000 a.C., e que foram apresentadas na noite de terça-feira (22) pela historiadora Arlene Clemesha na palestra “Caminhos na história dos povos árabes”, a última em 2013 do ciclo de palestras da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, na sede da instituição, em São Paulo.
A professora doutora do Departamento de Letras Orientais da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP) apresentou a cerca de cem pessoas a história do povo árabe, que se originou na domesticação dos camelos e a partir de pessoas que em 1.400 a.C. começaram a se organizar de forma seminômade em tribos, clãs e famílias.
Clemesha também explicou ao público que antes do surgimento do islamismo, por volta do ano 600 d.C., os povos formadores dos árabes eram politeístas e admiravam aproximadamente 360 divindades. Cada tribo tinha um deus. Foi a partir da mensagem de Alá divulgada pelo profeta Maomé, no século 7, que os povos árabes passaram a se expandir pelo Oriente, parte da Europa e África.
“Os povos árabes precisavam se reunir e se expandir porque enfrentavam escassez de recursos. Se não se unissem, o estado árabe poderia se desfazer”, afirmou a professora em referência à dificuldade em obter alimento e abrigo.
Entre os anos de 622 e 750, os árabes se expandiram rapidamente e um dos fatores que propiciou isso foi encontrar minorias religiosas de judeus e cristãos perseguidos nos locais que dominavam. Muitos dos descontentes se converteram ao Islã. “Um dos valores previstos pelo Corão (o livro sagrado dos muçulmanos) é a tolerância. A tolerância com judeus e com cristãos”, disse.
Clemesha explicou que a dinastia dos Abássidas, que era liderada por um parente de Maomé e sucedeu a dinastia dos Omíadas, deixou a cultura como grande contribuição à humanidade. Foi na época dos Abássidas que livros da filosofia grega de Platão, Aristóteles, dos filósofos neoplatônicos foram traduzidos para o árabe. “A tradução foi muito importante para os povos árabes porque até então o idioma utilizado por eles era o grego”, disse Clemesha.
A partir destas traduções de grandes obras clássicas gregas filósofos como Avicena e Ibn Rashid também desenvolveram suas teorias. Áreas do conhecimento em que os árabes fizeram grandes contribuições, como a medicina, a matemática e a astronomia, também se desenvolveram a partir da herança dos Abássidas.
Clemesha afirmou que a palestra tinha o objetivo de mostrar ao público a história dos povos árabes, suas origens e suas características e também desmistificar a impressão de pessoas que defendem a guerra e o terrorismo. “A palavra ‘jihad’ não tem o significado de guerra santa. Ela significa esforço”, afirmou.
Oportunidade
“Gostei de ver o interesse das pessoas em conhecer mais sobre a cultura árabe, em perguntar e se aprofundar. Foi uma bela iniciativa da Câmara Árabe, que, além de facilitar o comércio entre os países, também se preocupa com a formação e a cultura”, disse Clemesha.
O presidente da Câmara Árabe, Marcelo Sallum, lembrou que esta foi a última palestra do ano promovida pela instituição em sua sede e observou que os eventos realizados são uma oportunidade de atrair os associados e o público. “É uma forma de divulgar a Câmara Árabe e dar aos parceiros a oportunidade de compartilhar conhecimento e também, o que é muito importante, de fazer networking nestes encontros”, disse.


