Cairo – Identificar oportunidades para sair mais forte da crise. Esse foi o principal tema das discussões do primeiro dia da 40ª Conferência das Câmaras Árabes de Comércio, Indústria e Agricultura, ontem (29), no Cairo. “Temos que reconhecer que o mundo árabe sofreu perdas muito importantes, que chegaram a US$ 1 trilhão em fundos investidos nas bolsas mundiais”, afirmou Mohamed El Masri, presidente da Federação das Câmaras de Comércio do Egito.
Tais perdas, no entanto, em sua avaliação, ajudaram os investidores árabes a adquirir uma nova consciência e buscar novos caminhos para seus investimentos. Para ele, os empresários da região devem se comprometer mais com projetos ligados ao desenvolvimento, como investimentos na indústria, agricultura, infraestrutura, construção de aeroportos, portos, estradas e ferrovias.
“A nação árabe conta com inúmeros trunfos que não devem ser subestimados. Além da riqueza de nossos recursos naturais, contamos com uma mão-de-obra treinada e eficiente e com uma classe de empresários extremamente hábil”, declarou El Masri. “Por essas razões, este é o melhor momento para unir nossos esforços e concentrá-los na realização dos objetivos prioritários ao desenvolvimento das economias, do comércio e da indústria nos países árabes”, acrescentou.
O secretário geral da Liga Árabe, Amr Mussa, afirmou que a crise mostrou que os árabes devem preferir os investimentos na própria região, dedicados ao desenvolvimento de seus países, ao invés de aplicar recursos nos mercados de capitais internacionais, que demonstraram ser pouco seguros. “Nossos países necessitam do desenvolvimento social. Sem ele será difícil para nossa região realizar um verdadeiro desenvolvimento econômico sustentável”, disse.
De acordo com El Masri, mais do que nunca tornou-se uma prioridade para os países da região a implementação da união aduaneira prevista para 2010. “Nosso desenvolvimento econômico e independência enquanto região autônoma somente ocorrerá no dia em que for criada a Zona de Livre Comércio Árabe”, destacou.
Na mesma linha, o presidente da União Geral das Câmaras de Comércio, Indústria e Agricultura dos Países Árabes, Adnan Kassar, lembrou várias vezes dos objetivos fixados na Cúpula Econômica Árabe, ocorrida no Kuwait em janeiro. “Necessitamos do apoio dos governos para que se possa, enfim, concretizar nossa reivindicação de criação de uma Zona de Livre Comércio árabe. Somente dessa maneira poderemos atingir, nesta região, um desenvolvimento eficaz e sustentável nos níveis econômico e social”, disse Kassar.
Para ele, a crise econômica deve ajudar os países árabes a rever suas antigas estratégias e adaptá-las às novas circunstancias. “Para isso devemos, mais do que nunca, apoiar os trabalhos do setor privado, especialmente no que diz respeito aos investimentos em melhora da infraestrutura e modernização da indústria, no sentido de adaptá-la às demandas dos mercados internacionais”, afirmou.
Ele lembrou da iniciativa do Kuwait, anunciada na Cúpula Econômica, de criar um fundo de US$ 2 bilhões para o financiamento de pequenas e médias empresas. Em sua opinião, trata-se de um mecanismo extremamente positivo para a criação de oportunidades de trabalho e uma resposta eficaz aos danos provocados pela crise. “Esta iniciativa é certamente um exemplo que deveria ser seguido e multiplicado em todos os países da nossa região”, declarou.
Câmaras sul-americanas
Amr Mussa ressaltou o papel extremamente importante das câmaras de comércio, sobretudo as mistas. Ele destacou os trabalhos das câmaras árabes de comércio sul-americanas, como a Câmara de Comércio Árabe Brasileira, como um exemplo a ser seguido nos outros países.
“Sinto que as entidades desse tipo, que funcionam nos países sul-americanos, catalisam as energias dos membros de suas comunidades, têm um verdadeiro papel em suas sociedades, tendo também a capacidade de expressar seus interesses mesmo ao nível político”, disse. “Infelizmente não noto essa mesma dinâmica nos trabalhos das câmaras de comércio mistas da Europa. Infelizmente elas são incapazes de operar desta maneira nos países do continente”, concluiu.
O primeiro dia da conferência contou também com a participação do ministro da Indústria e Comércio do Egito, Rachid Mohamed Rachid, além de mais de 300 representantes de entidades ligadas ao comércio, economia e indústria do mundo árabe e de outras regiões, como o presidente da Câmara Árabe Brasileira, Salim Schahin, e o secretário-geral da entidade, Michel Alaby.