São Paulo – Os países árabes devem superar a União Europeia (UE) como destino das exportações do agronegócio brasileiro. A projeção foi feita pelo professor e pesquisador sênior de Agronegócio Global no Insper, Marcos Jank, considerado um dos grandes especialistas brasileiros no segmento. Jank fez sua estimativa recentemente durante o programa Agro 360, do canal Terra Viva, que teve como tema os países árabes e contou com participação da Câmara de Comércio Árabe Brasileira.
“Eu acho que logo mais os países árabes superam a Europa como compradores do agronegócio brasileiro”, disse ele, após lembrar que a UE já foi destino de US$ 25 bilhões em exportações do agronegócio do Brasil e que esse valor que caiu para US$ 16 bilhões. Dados do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) mostram que a China é o maior mercado dos produtos do agronegócio nacional no exterior e a União Europa é o segundo, apesar da queda nos valores.
Para Marcos Jank, os países árabes e a China são as duas regiões do mundo que interessam muito ao agronegócio brasileiro. Ele afirma que, se somados todos os países do Oriente Médio e Norte da África, as exportações do agro brasileiro para a região chegam a US$ 13 bilhões. “A gente tem que entender que o nosso crescimento depende de relações cada vez mais fortes com árabes e com chineses, é de lá que vai vir a nossa demanda, é com eles o nosso casamento e nós temos que tratá-los bem”, disse.
Ele afirmou que os países árabes importam US$ 110 bilhões em produtos do agronegócio do mundo e que o Brasil exporta em torno de US$ 9 bilhões para eles. Segundo os dados do Mapa, levando em conta só as nações árabes e não todas do Oriente Médio e Norte da África, o agronegócio faturou US$ 8,4 bilhões com os embarques para a região no ano passado. De acordo com Marcos Jank, se considerados os países individualmente, o Brasil é o maior fornecedor de produtos do agro para o mercado árabe.
“É uma região que importa US$ 110 bilhões, exporta US$ 40 bilhões, ela tem aí um déficit importante, e vai continuar tendo porque é uma região que tem poucos recursos naturais, tem falta de água, tem problema de solos, então é um casamento antigo, é um casamento cultural”, afirma, sobre a relação comercial do Brasil com os países árabes.
O pesquisador acredita que um dos grandes desafios da exportação do agronegócio para o mercado árabe é a diversificação, tanto em destinos quanto em produtos. A exportação vai principalmente para Arábia Saudita, Emirados e Egito, e a pauta é formada 20% por açúcar, 18% por frango, 16% carne bovina, 15% milho, 10% soja e 6% por animais vivos, segundo disse Jank no Agro 360.
Marcos Jank afirmou que houve aumento nas vendas para os árabes em produtos cujos mercados são mais livres e abertos, como de soja, de milho e de animais vivos. Já as carnes enfrentam restrições de habilitações de planta para serem exportadas, segundo disse o especialista. “A gente tem que brigar pela diversificação, mas também pela adição de valor, carnes têm mais valor adicionado do que grãos, e a gente tem que conseguir maior acesso em toda essa região”, afirmou aos telespectadores.
Segundo o pesquisador, os países árabes vêm aumentando suas importações de alimentos processados em 10% ao ano, de frutas frescas em 9%, de pescados em 10% e de lácteos em 6%. “A gente poderia fazer o trabalho da diversificação para outros produtos que são complementares, pescado é uma grande alternativa de exportação que o Brasil tem”, sugeriu Marcos Jank.
O pesquisador destacou a atitude do Brasil na pandemia do coronavírus, que seguiu como fornecedor mundial de alimentos e que defendeu que os mercados mundiais se mantivessem abertos. Segundo Marcos Jank, o risco da insegurança alimentar é maior nos países árabes e na África Subsaariana por serem regiões que dependem muito de importações. “A gente está indo à frente para dizer: olha nós vamos ajudar a garantir a segurança alimentar”, afirmou.
O programa Agro 360 “A diversificação dos produtos brasileiros no mundo árabe” foi ao ar no dia 11 de maio e teve também como participantes, por videoconferência, o presidente da Frente Parlamentar Agropecuária e deputado federal Alceu Moreira (MDB-RS), o presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), Celso Moretti, o CEO da BRF, Lorival Luz, o diretor-executivo da Associação Brasileira de Proteína Animal, Ricardo Santin, e o presidente da Câmara Árabe, Rubens Hannun.