Cairo – Ministros e vice-ministros dos países árabes e sul-americanos participaram ontem (04), na sede da Liga Árabe, no Cairo, de reunião preparatória para a 2ª Cúpula América do Sul-Países Árabes (Aspa), que vai ocorrer nos dias 31 de março e 01 de abril em Doha, no Catar. A crise financeira mundial e a importância da adoção de mecanismos conjuntos entre as nações das duas regiões foram os assuntos predominantes nas discussões. Todos os participantes abordaram o tema e tentaram lançar idéias para combater os efeitos da turbulência internacional.
O chanceler brasileiro, Celso Amorim, reafirmou a necessidade de criação de mecanismos birregionais de enfrentamento da crise financeira, conforme ele antecipou em entrevista exclusiva à ANBA publicada ontem. “É importante que os ministros das Finanças dos dois grupos possam desenvolver mecanismos conjuntos sólidos para proteger nosso comércio da crise e fazer com que nossos países sofram menos suas conseqüências”, declarou. Ele reiterou a idéia de se criar um fundo de investimentos bancado por nações das duas regiões.
O chanceler argentino, Jorge Taiana, falou sobre estratégias pelas quais os países da Aspa devem buscar enfrentar a crise. “Fomos vítimas de uma crise originada nos países mais desenvolvidos que exige não somente uma reforma da arquitetura financeira internacional, mas, sobretudo, uma reformulação das relações entre os estados. No caso do nosso grupo, isso implica no aumento da cooperação Sul-Sul e o aproveitamento de nossas vantagens comparativas”, disse.
Para ele, é imperativa a coordenação de esforços em três áreas: realização de políticas fiscais e monetárias orientadas a fortalecer a demanda mundial; transformação dos organismos multilaterais de crédito; e negociações que corrijam os desequilíbrios do comércio internacional. Propostas como essas vêm sendo discutidas no âmbito do G-20, grupo que reúne as 20 maiores economias do mundo, desenvolvidas e em desenvolvimento.
“Sustentamos a necessidade de uma nova arquitetura financeira internacional que conte com mais atores e que favoreça o crédito para o desenvolvimento, em especial para as obras de infraestrutura, que terão impacto positivo sobre o nível de atividade [econômica], a criação de empregos e a capacidade exportadora de nossos países”, afirmou Taiana.
“Ao mesmo tempo será necessário assegurar a flexibilidade adequada para que os países em desenvolvimento possam executar suas políticas de diversificação e expansão produtiva e, dessa maneira, contribuir positivamente para o crescimento da produção e da demanda mundial”, acrescentou.
Para Taiana, é necessário também seguir buscando novas possibilidades para ampliar e diversificar o comércio inter-regional através de um esforço dos países dos dois grupos para facilitar o comércio de bens agrícolas e industriais. “Seria necessário também intensificar a cooperação técnica em diferentes campos, como o do processamento de alimentos e o da investigação na área de novas fontes de energia, o que permitiria agregar valor e qualidade aos nossos produtos”, disse.
Os ministros também debateram a necessidade de não limitar o contato entre os dois blocos às reuniões entre ministros ou altos funcionários dos governos. “Necessitamos estabelecer um fórum de diálogo que permita o encontro entre políticos, empresários, pesquisadores, escritores, poetas, arquitetos, pintores, organizações não governamentais, enfim, representantes da sociedade civil”, declarou o chanceler do Bahrein, Khalid Bin Ahmed Mohamed Al Khalifa. Ele fez seu discurso em espanhol e foi bastante aplaudido pelos participantes.
Os chanceleres ainda discutiram itens não totalmente definidos da declaração que será adotada em Doha. “O documento deverá ainda ser revisado por altos funcionários das duas regiões às vésperas da reunião de chefes de estado”, afirmou o chefe do departamento da América Latina da Liga Árabe, Ibrahim Mohieldin. “Mas são apenas pequenos detalhes, pois a declaração já está praticamente definida. Ela compreende nove grandes seções onde se abordam todos os âmbitos de trabalho das relações entre os países da Aspa, como o econômico, político, cultural, desenvolvimento, ambiente e questões sociais”, acrescentou.
A reunião ministerial do Cairo foi concluída com a oferta do Peru para sediar a terceira Cúpula Aspa em Lima, no primeiro trimestre de 2011. A proposta teve aprovação unânime.