Alexandre Rocha
São Paulo – O empresário egípcio Hazem Omar, da trading importadora de açúcar Otco Sugar, confirmou à ANBA por e-mail que empresários egípcios a árabes estudam “seriamente” a possibilidade de investir na construção de um novo terminal marítimo de carga no Brasil, para a exportação de açúcar, e no desenvolvimento tecnológico dos sistemas de embarque do produto.
“Eu fui perguntado durante o Sugar Dinner se empresários egípcios poderiam investir no cultivo de cana e em terras agriculturáveis no Brasil. Respondi que este tipo de investimento não está em vista no curto ou médio prazo. O que eu vejo sendo estudado seriamente, por empresários egípcios e árabes, é a possibilidade de investimentos em novos terminais”, afirmou Omar.
Ele esteve em São Paulo na segunda quinzena de outubro para participar do Sugar Dinner, tradicional jantar que reúne produtores, compradores, traders, usineiros, corretores e bancos que negociam açúcar. Evento que foi antecedido por cinco dias de palestras e seminários.
Omar não quis adiantar quem são os empresários que estariam interessados no empreendimento, pois o negócio ainda está em seus “estágios preliminares”.
De acordo com Omar, as razões que levam os empreendedores a pensar na construção de terminais avançados são, em primeiro lugar, que “o investimento é relativamente baixo e o retorno esperado é alto”.
Além disso, sempre segundo ele, a maioria dos navios que são utilizados para o transporte do açúcar, com capacidade para carregar entre 30 mil e 40 mil toneladas, estão muito velhos e, em cinco anos, muitos deles deverão virar sucata. Hazem acrescentou que as novas embarcações ultrapassam o tamanho dos navios tipo “panamax”, com capacidade acima de 50 mil toneladas, que com um calado maior vão precisar operar em águas mais profundas e com modernos sistemas de carregamento.
No mesmo sentido, de acordo com Omar, a tendência é de aumento da produção de açúcar “bruto” “very very high polarization” (VVHP), que tem uma taxa maior de pureza em relação ao produto comumente exportado ao Egito, que é o “very high polarization” (VHP). Com isso, na opinião dele, será difícil fazer a separação entre estes dois tipos de açúcar nos terminais portuários já existentes. “Somente em um terminal novo e moderno haverá a flexibilidade para fazer essa separação”, afirmou.
Por fim, ele disse que um novo terminal portuário na região centro-sul do Brasil, seria muito valioso, porque a maioria do açúcar exportado para o Egito sai dessa região e as usinas trabalham com prazos de produção semelhantes, o que causa congestionamentos nos terminais já existentes em meses como julho e agosto.
Quanto o Egito compra?
Omar afirmou que o Egito consome anualmente cerca de 2,2 milhões de toneladas de açúcar, sendo que 1,4 milhão de toneladas são produzidas no próprio país, principalmente por três companhias estatais.
Com isso, o país tem de importar cerca de 800 mil toneladas do produto, mas esse volume pode chegar a 1 milhão de toneladas em caso de “estoques baixos no final do ano”. “O Egito prefere ter, a qualquer tempo, um estoque estratégico de 250 mil toneladas”, afirmou o empresário.
A maior parte das importações é de açúcar bruto VHP já que, segundo Omar, o Egito impõe barreiras tarifárias para o produto refinado, a fim de proteger a indústria local. De acordo com ele, o açúcar bruto é taxado em 2% e o refinado em 10%, o que faz com que 70% do açúcar importado pelo país seja bruto, e 30% cristal refinado.
Omar acrescentou que o Brasil é o fornecedor “favorito” de açúcar bruto para o Egito, principalmente por causa da “alta polarização” do produto, o que o torna de melhor qualidade.
Quanto o Brasil vende?
Segundo dados da União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica), o Egito foi o segundo maior comprador do açúcar brasileiro no ano passado, perdendo apenas para a Rússia. Em 2002 o país árabe importou 1,031 milhão de toneladas da commodity brasileira, no valor de US$ 160,3 milhões.
Mas não é só de açúcar que vive o comércio entre os dois países. O Egito é um dos principais parceiros comerciais do Brasil entre os países árabes. De janeiro a setembro deste ano, o Brasil exportou US$ 322,3 milhões ao Egito, volume que perde apenas para as vendas à Arábia Saudita e aos Emirados Árabes Unidos.
Entre os principais produtos embarcados para o país do Norte da África, além do açúcar, estão minério de ferro, carne bovina, óleo de soja e automóveis.