São Paulo – O preço baixo do petróleo vai afetar o desempenho dos grandes exportadores árabes da commodity em 2016. Já os países do Norte da África continuarão a ter na busca pela estabilidade política o seu maior desafio para alcançar o desenvolvimento econômico.
Embora tenham grandes reservas e uma dívida pequena em relação ao seu Produto Interno Bruto (PIB), os grandes produtores do Golfo deverão ter em 2015 (os números ainda serão fechados) um déficit orçamentário de aproximadamente 11,2%, em média, se o preço do barril se estabilizar em torno de US$ 55. Nos últimos dias de novembro, a cotação caiu para abaixo de US$ 39.
Uma análise feita pelo economista sênior da Divisão de Pesquisas do National Bank of Abu Dhabi (NBAD), Alp Eke, indica que os países árabes do Golfo têm uma grande quantidade de ativos no exterior e uma pequena dívida em relação ao PIB, o que reduz os impactos de uma queda nas receitas procedentes do petróleo. Ainda assim, ganhos menores com o seu principal produto os levarão a ter déficit mesmo com gastos mais contidos. Os países do Golfo têm se esforçado para reduzir sua dependência da atividade petrolífera, mas ainda obtêm 65% das suas receitas a partir da exploração das suas reservas.
“Isto indica claramente uma dependência muito grande das receitas do petróleo, o que resulta em pontos de relevante vulnerabilidade. Estima-se que as nações do GCC tinham algo em torno de US$ 3 trilhões em ativos líquidos no exterior no fim de 2014. Estes países deverão registrar mais de US$ 200 bilhões de perdas destes ativos apenas em 2015”, avalia o economista.
Quando analisa especificamente a situação dos Emirados Árabes Unidos, produtor de petróleo, Eke afirma que o país está crescendo, porém a um ritmo menor. Sua expansão está sendo conduzida, principalmente, pelo setor não petrolífero. Em 2014, os Emirados cresceram 4%. Em 2015 deverão alcançar 3,4% de expansão do PIB. O setor não petrolífero cresce a um ritmo maior, de 5%.
“Em 2016, espera-se um crescimento em torno de 3,2%, novamente conduzido pela atividade não petrolífera. O levantamento das sanções ao Irã vai fortalecer o comércio entre os dois países e apoiar o crescimento das receitas (dos Emirados)”, afirma Eke. Ele também observa que este relacionamento irá ajudar os Emirados a reduzir seu déficit orçamentário, que deverá correspondera 6% do PIB em 2015 e a 3% em 2016.
A gerente regional do NBAD para a América Latina, Ângela Martins, afirmou à ANBA que Emirados e Kuwait, por exemplo, têm reservas financeiras muito elevadas e não deverão sofrer grandes pressões em 2016. A Arábia Saudita também tem reservas amplas, porém sua população e sua economia são maiores, o que exige mais gastos e exerce mais pressão sobre os seus recursos.
A executiva avalia que os recursos de que os países do Golfo dispõem para investir no exterior, geralmente administrados por fundos soberanos, continuarão disponíveis. Mas o desafio, neste caso, é se o Brasil irá recebê-los devido à sua situação econômica atual.
“Há uma preocupação maior com relação ao Brasil, com a crise política que atinge o País e uma consequência econômica muito forte. Todos os investidores têm mais cautela. O uso dos recursos tem uma tendência de ser mais seletivos porque (investir) em momentos de incerteza tem um risco muito alto”, afirmou.
Professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), Antonio Carlos Alves dos Santos afirmou que existe a tendência de que os países importadores de petróleo do Norte da África se beneficiem dos preços baixos do produto. Desta forma, gastam menos para importar combustível e energia e assim utilizam o dinheiro em investimentos. Na prática, porém, a região depende da estabilidade política para ter ganhos.
“É difícil separar a questão política da econômica. Aparentemente, parece que os problemas políticos estão controlados, porém a Líbia está em situação complicada e não se sabe o que irá ocorrer com ela. Para que o preço baixo do petróleo seja convertido em investimento produtivo pelos países do Norte da África, é necessário que existam instituições fortes”, afirmou.
Ele citou como exemplo o turismo, uma atividade econômica que é importante para países com o o Egito, a Tunísia, o Marrocos e até a Líbia. No entanto, sem uma garantia de segurança nem turistas nem empresas do setor investem nestes países. Na avaliação de Santos, a Líbia precisa ter uma situação política estável para que isso se reflita em outros países africanos, não apenas aqueles do Norte do continente.


