Alexandre Rocha
São Paulo – A Argélia tem uma grande demanda por obras de infra-estrura e empresas brasileiras agora têm a chance de conquistar uma fatia desse mercado. Esta é a opinião de executivos brasileiros que participaram da missão oficial ao país do Norte da África no início de setembro.
Representantes das construtoras Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Construcap e Norberto Odebrecht e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tiveram reuniões nos ministérios de Recursos Hídricos, Obras Públicas e Transportes da Argélia.
“Principalmente o Ministério de Recursos Hídricos manifestou interesse nas linhas de financiamento do banco”, disse Guilherme Studart, chefe de departamento na área de exportação do BNDES, que representou a instituição na viagem.
De acordo com ele, o banco financia a exportação de serviços do Brasil, ou seja, concede crédito para o empreendimento, desde que ele seja executado por uma empresa brasileira. No vácuo dos serviços, é possível exportar também equipamentos e material de construção.
Studart revelou que o governo argelino tem a intenção de construir 40 barragens por todo o país, destinadas a melhorar o abastecimento de água. De acordo com ele, os valores envolvidos são “significativos”. Fato que chamou a atenção de Bráulio Andrade, gerente comercial da Construcap, que também participou da missão.
“A Argélia tem inúmeros projetos ligados à infra-estrutura, principalmente nas áreas de abastecimento de água, saneamento e rodovias”, disse Andrade. Segundo ele, o país tem urgência na execução de uma série de obras, e as ligadas aos recursos hídricos e estrutura viária despertaram especial interesse da Construcap.
Além das barragens, Andrade disse que o governo da Argélia pretende construir duas grandes estradas, uma delas cortando o território de leste a oeste, ligando as fronteiras do país com a Tunísia e com o Marrocos, e outra ligando o interior ao norte do país. “A idéia deles é levar o progresso para o interior”, disse.
Segundo Andrade, os dois tipos de empreendimentos (barragens e rodovias) se encaixam no perfil da Construcap. No entanto, segundo ele, a empresa ainda não atua no exterior e deverá decidir nos próximos meses se vai ampliar seu foco de trabalho para além das fronteiras do Brasil.
A visita à Argélia serviu como missão “exploratória”, e a companhia está promovendo viagens semelhantes para outros países da África.
Tanto para o BNDES, quanto para a Construcap, a missão ao país norte-africano serviu como um primeiro contato e agora aguardam-se os desdobramentos. Studart e Andrade disseram que suas respectivas instituições têm mantido contatos com os argelinos.
Esses diálogos, segundo Andrade, têm servido para dar subsídio à decisão da empresa de atuar, ou não, no exterior. “Existe a intenção da empresa em continuar essas conversas”, afirmou ele. Isto pode até incluir novas viagens ao país.
Em entrevista recente à ANBA, o embaixador da Argélia no Brasil, Lahcène Moussaoui, lembrou que em décadas passadas o setor de construção civil brasileiro já atuou no país construindo as três maiores universidades argelinas, além de pontes e habitações.
Balança
A missão brasileira à Argélia foi comandada pela ministra das Minas e Energia Dilma Rousseff com o objetivo de intensificar as relações comerciais entre os dois países. “Há uma diferença grande entre o que importamos da Argélia e o que exportamos para lá. Um dos objetivos da missão era diminuir essa diferença na balança de serviços e produtos”, afirmou Andrade.
Realmente, o déficit brasileiro na balança comercial com a Argélia é enorme. De janeiro a agosto deste ano, o Brasil exportou US$ 97,4 milhões, ao passo que importou US$ 727,9 milhões. A diferença vem, porém, diminuindo um pouco ao longo dos anos. Enquanto o Brasil importou em 2000 mais de US$ 1,5 bilhão da Argélia, no ano passado o valor ficou em US$ 999,1 milhões.
Ao mesmo tempo as exportações cresceram de US$ 41,4 milhões em 2000 para US$ 86,8 milhões no ano passado. Este ano, as vendas brasileiras para a Argélia já ultrapassaram o total de 2002.
Os principais itens comprados pelo Brasil são petróleo, nafta para a indústria petroquímica e gás liquefeito de petróleo (GLP). Os principais produtos vendidos são açúcar, barras de ferro, papel Kraft, café e minério de ferro.
Perfil
De acordo com dados da Câmara Brasileira da Indústria da Construção (CBIC), a construção civil movimenta anualmente 10,31% do Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil, que é o conjunto das riquezas produzidas no país. O PIB brasileiro ultrapassou no ano passado a casa de R$ 1,3 trilhão. Ainda segundo a CBIC, o setor gera mais de 5,4 milhões de empregos diretos e mais de R$ 1,13 milhão de indiretos.