A Argélia quer o Brasil ajude a desenvolver setores de sua economia, especialmente a agropecuária e a indústria. O tema foi discutido nesta terça-feira (27) durante encontro do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Miguel Jorge, com o primeiro-ministro argelino, Ahmed Ouyahia, e no seminário empresarial Brasil-Argélia realizado no hotel Sheraton Club des Pins, em Argel. Jorge lidera uma missão comercial brasileira ao Norte da África. A Argélia é a segunda etapa.
O ministro disse que há possibilidade da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI) promoverem transferência de tecnologia para os segmentos de gado leiteiro, cultivo de cereais e para diferentes ramos da indústria.
“Eles necessitam, por exemplo, de um planejamento industrial, pois a indústria é praticamente estatal. Agora há um processo de reestruturação e de privatizações”, afirmou o ministro. Representantes da ABDI e da Embrapa fazem parte da delegação.
No seminário, o ministro argelino do Comércio, El Hachemi Djaaboub, disse que a principal preocupação de seu país na seara da economia é que ela é baseada em uma “monocultura exportadora”, no caso o ramo de petróleo e gás. Ao mesmo tempo, a Argélia tem que importar de tudo e, muitas vezes, isso é feito de forma triangulada, não diretamente do fornecedor, mas por meio de terceiros.
Além de promover o comércio direto entre exportador e importador, os argelinos querem desenvolver setores como os de veículos, de medicamentos, petroquímico, de fertilizantes, siderúrgico, têxtil, de calçados e a agroindústria. Na agropecuária, o país quer desenvolver a produção de leite, trigo, soja e milho.
No caso do leite, por exemplo, a Argélia, que hoje é um dos principais importadores de leite em pó do Brasil, pretende substituir as compras externas pela produção local. Djaaboub disse que o país gostaria de ter acesso às raças de gado leiteiro criadas no Brasil, mais resistentes ao clima quente do que as vacas européias, por exemplo, e às técnicas de manejo empregadas na pecuária brasileira.
O mesmo vale para as culturas de trigo, soja e milho. Especialmente nos dois últimos casos, o Brasil desenvolveu variedades das plantas e técnicas de cultivo que permitem grande produtividade em áreas mais quentes e secas. “A cooperação entre nossos dois países é um exemplo de cooperação Sul-Sul”, afirmou o ministro argelino.
Para viabilizar essa transferência de tecnologia, os argelinos querem não só o auxílio do governo brasileiro, mas também a realização de investimentos privados por meio da formação de joint-ventures binacionais.
Para Jorge, esse tipo de parceria é possível, especialmente em áreas como processamento de alimentos, indústria têxtil e tecnologias da informação. Durante o seminário, os representantes do governo e do setor privado argelino ressaltaram os incentivos que o país concede para os investimentos estrangeiros e as facilidades para exportação de produtos acabados, como, por exemplo, o acordo de associação com a União Européia, que permite a entrada de produtos argelinos no bloco sem cobrança de tarifas.
O presidente da ABDI, Reginaldo Arcuri, citou outros segmentos passíveis de cooperação, como os de autopeças, equipamentos médico-hospitalares e exploração mineral.
“Propomos a utilização da Argélia como plataforma de produção e exportação para a Europa, outros países árabes e da África”, disse o presidente da Câmara de Comércio e Indústria da Argélia, Brahim Bendjaber. A idéia é exportar insumos à Argélia, processá-los no país e depois reexportá-los como produto acabado.
O turismo é outra área com potencial de atração de investimentos. Bendjaber disse à ANBA que existem 42 áreas destinadas ao setor delineadas no país, onde podem ser construídos hotéis, resorts e outros empreendimentos de lazer. Ele acrescentou que hoje o país recebe 1,5 milhão de turistas por ano, mas tem capacidade para 40 milhões.
Bendjaber disse ainda que seu país pode diversificar sua pauta de exportação ao Brasil, que hoje é dominada pelo petróleo e seus derivados. Ele citou inclusive a agroindústria, pois a Argélia tem condições de fornecer vinhos, frutas e legumes. Há possibilidade também de ampliar o comércio de fertilizantes, já que o país tem grandes reservas de fosfato.
Convite
O presidente da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Salim Schahin, disse que há anos a entidade participa e apóia ações para o fomento das relações econômicas com a Argélia. “Estamos felizes em melhorar o desenvolvimento de nossas relações”, declarou. Ele citou alguns eventos nos quais a Câmara teve participação intensa, como a visita do presidente argelino, Abdelaziz Bouteflika, ao Brasil, em 2005.
“Nós gostaríamos de convidar os empresários argelinos a visitar o Brasil para verificar o potencial do país como fornecedor e comprador de produtos e serviços, visando aumentar os negócios entre os dois países”, ressaltou Schahin. “Esperamos que as empresas argelinas utilizem a entidade na busca de oportunidades”, acrescentou.
A Argélia tem cerca de 35 milhões de habitantes, um Produto Interno Bruto (PIB) de US$ 135 bilhões e reservas em moeda internacional na casa dos US$ 110 bilhões. A balança comercial com o Brasil é superavitária para o país árabe em US$ 1,9 bilhão.