São Paulo – O brasileiro de origem libanesa Alvaro Razuk (foto acima) é referência em projetos arquitetônicos ligados a exposições artísticas. Hoje, o escritório que fica no Largo do Arouche, em São Paulo, e leva o nome do arquiteto, conta com projetos de exposições que vão do renomado fotógrafo Sebastião Salgado à artista Adriana Varejão.
Para chegar a esse patamar, o arquiteto conta que descobriu a possibilidade de trabalhar com foco em cenários e museus há mais de duas décadas. “Quando comecei foi por um acaso, um amigo me chamou para fazer uma exposição. Eu nem sabia que tinha esse trabalho. Fiquei muito feliz e focado nisso, tentando me direcionar para essa área. Pouco a pouco fui conhecendo mais gente e aumentando a quantidade de trabalho realizado com relativo sucesso. Hoje, estou consolidado”, revelou ele à ANBA.
Ascendência árabe
Primeiro da família a ingressar no ramo da arquitetura, Razuk tem ascendência árabe tanto do lado paterno quanto materno. “Todos os meus avós são do Líbano, salvo um avô paterno que era da Síria e uma avó que já nasceu no Brasil. Mas, de modo geral, sou segunda geração no Brasil”, comentou ele, que teve influência mais profunda da cultura a partir da culinária e da língua árabe. “[O contato com] A língua foi por causa da minha mãe. Ela falava mesmo o árabe. Mas eu falava apenas algumas coisas, é uma língua bastante diferente do português”, lembra ele.
Dubai
No exterior, o escritório tem trabalhos em diversos países, entre eles França, Canadá, Angola e Moçambique. O arquiteto ainda não chegou a trabalhar em países árabes, mas tem na agenda um convite que deve ajudá-lo a mudar isso.
“Recebemos um convite para fazer uma exposição em Dubai sobre Oscar Niemeyer. A ideia é justamente abordar as obras que ele, um brasileiro, desenvolveu em nações árabes, como é o caso de Trípoli (Líbano)”, revelou Razuk. O projeto ainda está sendo alinhado, mas o convite partiu da Fundação Oscar Niemeyer e a previsão é que a mostra ocorra nos Emirados Árabes Unidos em janeiro do ano que vem.
Arquitetando a arte
Do primeiro trabalho na área, em 1996, Razuk passou a dirigir projetos museográficos, cenográficos e arquitetônicos no Brasil e no exterior. Transformar as peças de arte em exposições é uma tarefa para equipes robustas e o arquiteto revela que trata com profissionais de diversos ramos para orquestrar o trabalho. “O projeto é uma junção de várias outras áreas. Você vai dar forma para isso”, explica ele, que a cada projeto trabalha com equipes diferentes.
Os projetos envolvem desde profissionais da parte elétrica e de curadoria dos locais até equipes de conservação, que fazem o laudo das obras. Esses últimos trabalham junto ao arquiteto verificando detalhes como a incidência de luz em obras delicadas, que não pode estar acima do limite previsto pela museologia. “Um documento antigo de papel, por exemplo, não pode ter incidência acima do permitido, então esse também é um assunto. A parte de criação tem que se desenvolver com visão técnica. É como na arquitetura civil. Precisamos pensar como é a estrutura do local para desenvolver o projeto”, detalha Razuk.
Com mais de 20 anos no currículo, o arquiteto viu evoluções acontecerem na área ao longo dos anos. “Vejo cada vez mais a acessibilidade como uma coisa básica. Os museus têm elevadores e espaços acessíveis, vejo que o Brasil se destaca bastante nisso, comparado a outros locais que já visitei no exterior. Mesmo para as exposições, há cada vez mais busca por obras interativas que possam dar autonomia para pessoas que têm alguma necessidade especial. É importante para elas acessarem aquele espaço de forma autônoma”, declarou ele, lembrando, ainda, a importância do surgimento de ações afirmativas para pessoas negras, transgênero e outros coletivos.
Na pandemia, outra tendência que o brasileiro viu crescer foi a por exposições híbridas. “A exposição que estou trabalhando sobre o [maestro] João Carlos Martins tem previsão para inaugurar em meados de junho, eles me pediram para começar a pensar em uma versão virtual. Por causa da pandemia, isso virou uma necessidade.”, explicou ele.
O projeto para o online, Razuk ressalta, é um trabalho muito diferente da arquitetura de exposições físicas. “A ideia não é ter apenas um tour em 3D. Estamos pensando em um modelo de como você olhar o conteúdo de uma maneira interativa e interessante”, concluiu ele.