São Paulo – A arte de brasileiros fará parte novamente da exposição Something Else, na Cidadela (foto acima), no Cairo, capital do Egito. A próxima edição da mostra, que foi criada para ocupar o espaço deixado pela Bienal do Cairo, ocorre entre novembro e dezembro deste ano. Monica Hirano será uma das curadoras do espaço do Brasil e está em conversas com artistas interessados em participar e com possíveis apoiadores, tendo como trunfo o grande fluxo de visitantes que recebe o ponto turístico onde ocorre a mostra, 20 mil pessoas ao dia.
O tema geral da exposição de 2024 será “Emancipate yourselves from mental slavery” (em tradução livre, “Emancipem-se da escravidão mental”), baseado em um trecho da música do cantor e compositor jamaicano Bob Marley. A partir desse universo, os artistas brasileiros vão se debruçar sob o tópico “Brincadeira”, proposta da curadoria da Monica Hirano e da Mariana Sesma, que trabalharão juntas nesta edição. O coletivo de arte Lambes Brasil também será curador, mas para mídia de lambe nacional, tipo de arte a partir de colagem em parede.
A ideia de “Brincadeira” veio de conversas entre Mariana e Monica na ressaca do carnaval. “Pensando na brincadeira enquanto esse fator de libertação, esse fator de liberdade, naquele contexto do carnaval, mas expandindo a ideia para pensar a brincadeira enquanto um lugar de estar presente, sem propósito, sem objetivo”, explica Mariana, complementando que a libertação também se refere aos papéis e às amarras sociais. O termo será usado em português, já que a tradução ao inglês, Play, remete também a outras ações, como jogar e tocar. O intuito é também trazer com isso um olhar para o Brasil, fazendo uma afirmação do idioma nacional.
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Além dos artistas que o coletivo de lambe-lambe chamará para a Something Else, Mariana e Monica devem convocar mais cinco a seis artistas que trabalhem com outras mídias variadas, como vídeo, performance e instalação. Parte desses nomes já estão no radar das curadoras, mas outra parte ainda está em aberto. Há, inclusive, vontade da dupla de levar para a mostra algum artista do Brasil com origens árabes. O tamanho da participação presencial dos brasileiros também está pendente pois depende das possibilidades de patrocínio.
A participação brasileira na mostra, que não é a primeira, se deu a partir do contato de Monica com o Darb 1718, centro de arte e cultura contemporâneos do Egito, de Moataz Nasr, que promove a Something Else juntamente com o curador Simon Nijami. O piloto da exposição foi feito em 2015 e inicialmente ela ocorria no espaço do Darb 1718, passando em 2023 para a Cidadela. O local passa por revitalização e a presença da mostra faz parte desse movimento.
A exposição egípcia tem diferentes curadores. No ano passado, quando Monica também foi a curadora, ela levou a arte de sete profissionais à mostra, a maioria brasileiros. Monica conta que os brasileiros fizeram obras muito grandes, chamativas, que foram as mais fotografadas da exposição. “Eu consigo, depois de tanto tempo, ver muitos lugares de identificação entre Brasil e Egito, América do Sul e Oriente Médio, e eu acho que esse é um movimento bem importante de criar essa ponte direta e não ter que passar necessariamente pela Europa ou pelos Estados Unidos para a gente se comunicar”, diz Monica, sobre a presença brasileira na Something Else.
Curadoras
Monica Hirano é curadora independente e artista, com a prática curatorial muito voltada a movimentos e causas sociais. Nascida em Santa Catarina, ela é formada em Administração e tem mestrado em Gestão de Artes. Monica morou em vários países, inclusive por dois anos no Egito, atuou junto a instituições de arte e seu trabalho como artista é principalmente autobiográfico, com a instalação sendo a principal manifestação.
Curadora e gestora cultural, Mariana Sesma é brasileira, mas mora na Alemanha há cinco anos, onde desenvolve projetos e exposições e dá workshops para artistas emergentes. Antes disso, no Brasil, trabalhou em diferentes instituições culturais, como o Paço das Artes e a Bienal de São Paulo, o que lhe deu muita experiência com captação internacional. Mediação e produção de exposições também estão no currículo de Mariana, que é paulistana com formação em Artes Visuais e MBA em Gestão Cultural.
A exposição no Cairo será aberta no dia 06 de novembro e poderá ser visitada até 08 de dezembro. Para mais informações sobre a participação brasileira, entre em contato com monicahirano@gmail.com ou +39 375 556 2750.