São Paulo – Um portão cenográfico de arquitetura muçulmana e um chafariz árabe original, construído na Síria, recebem o público na entrada da exposição “Islã: Arte e Civilização”. A mostra, que fica em cartaz até o dia 27 de março, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), em São Paulo, é uma co-realização do CCBB com a Biblioteca e Centro de Pesquisa América do Sul-Países Árabes (Bibliaspa).
Ocupando do subsolo ao terceiro andar do prédio, a mostra tem peças de ourivesaria, mobiliário, tapeçaria, vestuário, armas, armaduras, utensílios, mosaicos, cerâmicas, objetos de vidro, pinturas, caligrafia e instrumentos científicos e musicais. “Trata-se de um acervo pouco visto internacionalmente e inédito no Brasil”, afirma Paulo Farah, presidente da Bibliaspa e curador da mostra.
A exposição reúne mais de 380 obras do século oito ao 21 e garante ao visitante um passeio pela história da cultura islâmica. Mais da metade das peças foi trazida da Síria. Além disso, há presença importante do Irã e de obras fundamentais do Líbano, do Brasil e de países da África, como Mauritânia, Marrocos, Líbia, Burkina Faso, Níger, Nigéria e Mali.
Entre uma sala e outra, mapas e uma linha do tempo contam os períodos de expansão territorial do Islã, destacando os mais importantes acontecimentos vinculados aos territórios islâmicos. Na sequência, são mostradas plantas arquitetônicas das principais mesquitas, como a Mesquita dos Omíadas, em Damasco, a Mesquita (Domo) da Rocha, em Jerusalém, e a Mesquita Azul, em Istambul, com projeção em 360° graus.
De acordo com Farah, que divide a curadoria da mostra com Rodolfo de Athayde, um dos grandes destaques da exposição são os fragmentos originais do Palácio Al Hair Al Gharbi, na Síria, com peças que revelam a influência greco-latina e vitrines com objetos de cerâmica e vidro, como lâmpadas de azeite em cerâmica azul esmaltada. No fundo da sala, uma peça de madeira maciça com inscrições, usada como parte de uma barreira no século 11.
A viagem ao interior do Islã segue com a Miniatura de Shahnameh, uma maquete, e desenhos cuidadosamente ilustrados com textos que narram histórias do século 15, que pertenceram à livraria Real de Teerã, além de uma série de objetos científicos, como o astrolábio plano do Palácio Golestan, em Teerã, e o astrolábio esférico de Isfahan, do século 11, que representa um globo celeste.
Essas peças se relacionam com um painel sobre o saber no mundo islâmico: as inovações da Casa da Sabedoria, criada em Bagdá no século nove, os feitos do filósofo e médico Avicena e o resgate de Aristóteles pelo filósofo andaluz Averroes.
Um cofre guarda os tesouros da ourivesaria, com jóias da Síria do século 11, como brincos de ouro em forma de pássaros, pratas dos tuaregues e uma exclusiva coleção de moedas antigas de várias épocas.
Os famosos tapetes persas, arte popular levada ao máximo requinte, que sobrevive intacta em cidades como Tabriz e Isfahan, são exibidos ao lado de trabalhos em metal e um nicho dominado por uma armadura de cota de malha de ferro do século 12, usada na época dos Cruzados. Uma vitrine central é dedicada à típica cerâmica azul, comum em todo o mundo islâmico.
O visitante é levado também ao interior do Palácio Azem, residência do Paxá, governador da Síria durante o período Otomano, último dos grandes impérios muçulmanos. Destaque para o mobiliário de poltronas e o baú crivado de madrepérolas, que são acompanhados por peças de artesanato, roupas e instrumentos musicais feitos pelo luthier sírio Ahmad Al-Hariri.
No terceiro andar, destaque para a palavra e a escrita. Uma coleção de manuscritos e livros que mostram a arte da caligrafia árabe na sua complexidade e riqueza. Uma página do Alcorão do século nove, feita de pele de gazela, divide a atenção com as páginas douradas de outro Alcorão do século 17 e um tecido bordado em ouro, que repete o padrão de uma “Sura” (versículo do Alcorão), vindo do Irã do século 17.
“Um deles traz o capitulo do Alcorão dedicado a Maria e mostra o vínculo com relação à igreja cristã e monoteísta”, explica o curador. No espaço há ainda uma pedra de basalto com inscrições em árabe, talvez um dos mais antigos testemunhos da língua árabe, datada do século oito, tábuas de escrituras africanas, utilizadas na alfabetização e no aprendizado geral, e objetos para talhar e escrever.
“A pedra de basalto é o primeiro vestígio da escrita árabe ainda sem os pontos que definem as letras”, explica Farah. O curador destaca ainda dois manuscritos de malês, escritos no Brasil com o famoso quadrado mágico. “A frase ‘Não há força nem poderio senão em Deus’, era colocada dentro de uma bolsinha de couro e usada como um patuá”, conta.
A exposição pode ser visitada de terça a domingo, das 10 às 20 horas. Grupos podem agendar visitas guiadas pelos mais de 20 monitores. O visitante pode optar por explorar os espaços por conta própria ou na companhia de amigos, como fez a produtora de cinema Henriete Ramos, que se encantou com a mostra. “Tudo é lindo. A caligrafia, a parte das miniaturas, os jarros esmaltados, os entalhes da madeira”, diz. “É preciso fazer um andar por dia para poder ler tudo e observar cada detalhe”, recomenda.
De acordo com Farah, a parceria entre Bibliaspa e o CCBB será levada também para o Festival Sul-Americano de Cultura Árabe, que ocorre de 18 a 31 de março e já tem palestras confirmadas sobre arqueologia, importância do Islã no Brasil, caligrafia e música.
Serviço
Islã: Arte e Civilização
CCBB
Endereço: Rua Álvares Penteado, 112
Centro, São Paulo
Telefone: (11) 3113-3651
Entrada gratuita
A exposição pode ser vista de terça a domingo das 10 às 20 horas

