Por Robson Braga de Andrade*
O aumento da frequência de fenômenos extremos, como ondas de frio ou calor, secas, enchentes e tormentas, reforça a preocupação global com as mudanças do clima no planeta. Os elevados prejuízos econômicos e sociais provocados pelos desastres naturais exigem ações que possam prevenir os danos e reduzir seus efeitos. Da mesma forma, esses eventos climáticos desafiam os países a adotarem estratégias eficientes de redução das emissões de gases de efeito estufa.
Tais medidas são essenciais para cumprir o Acordo de Paris e para construir um mundo mais sustentável, temas que foram discutidos na COP27, a Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança no Clima, no Egito. A CNI acompanhou de perto as negociações do encontro e as ações do setor produtivo que são decisivas para o êxito do combate ao aquecimento global.
Não conseguiremos conter o avanço da temperatura na Terra sem que seja adotada uma economia de baixo carbono, incorporando tecnologias limpas e processos produtivos mais eficientes. A indústria brasileira tem implementado programas capazes de reduzir a emissão de gases, conforme as metas fixadas.
O compromisso do Brasil é reduzir as emissões em 37% até 2025 e em 50% até 2030, partindo dos níveis de 2005. Para isso, a estratégia elaborada pela CNI tem quatro pilares: transição energética, mercado de carbono, economia circular e conservação florestal. Estamos mobilizando o setor industrial e fazendo articulações com o governo para viabilizar o cumprimento dos objetivos.
O mundo precisa alterar a forma como consome energia, com a passagem de uma matriz baseada em combustíveis fósseis para uma ancorada em fontes renováveis. Nesse processo, o Brasil sai na frente, pois já conta com uma elevada participação dessas fontes e vem ampliando o uso de energia eólica, solar e bioenergia.
As indústrias brasileiras têm investido em projetos de eficiência energética, com tecnologias de ponta, mudanças na gestão dos insumos, ajustes na produção e tratamento de resíduos. De 2006 a 2016, a indústria química brasileira, por exemplo, cortou em 44% as emissões nos seus processos industriais.
A criação de um mercado global de carbono é uma das iniciativas para ajudar os países a reduzir as emissões. Sabemos que o sucesso dessa iniciativa dependerá de como a comunidade internacional irá operacionalizar e construir os caminhos a partir do que foi aprovado em Glasgow e de como o Brasil organizará o seu arcabouço institucional para implementar esse mecanismo. Além dos arranjos institucionais, ainda existem diversos aspectos legais a serem regulamentados.
Em âmbito doméstico, entendemos que o mercado regulado é a melhor opção de precificação. As regras devem estimular a inovação, a segurança jurídica e a competitividade das empresas, sem aumentar a carga tributária. Defendemos a adoção do sistema cap and trade, em que empresas com volume de emissões inferior ao autorizado podem vender o excedente para as que lançam uma quantidade maior de gases de efeito estufa na atmosfera, o que estimulará investimentos em tecnologias verdes.
A economia circular pretende manter o fluxo dos recursos naturais, evitando o desperdício e diminuindo custos. O Brasil pode ser uma potência nesse modelo porque tem nítidas vantagens, como a maior biodiversidade do mundo e indústria diversificada. São necessárias, porém, políticas públicas e de governança que impulsionem essa nova visão.
A conservação florestal completa os quatro pilares da estratégia de transição para uma economia de baixo carbono. O Brasil tem 58% de seu território coberto por florestas. Combater o desmatamento ilegal e as queimadas é fundamental para diminuir as emissões de carbono e conter o aquecimento global.
*Robson Braga de Andrade é empresário e presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI)