São Paulo – Uma obra de arte em homenagem aos imigrantes árabes está sendo produzida na fachada do Edifício Garagem Automática Senador, no Centro Histórico da cidade de São Paulo. Com inauguração prevista para o dia 05 de julho, o trabalho é uma criação do artista brasileiro Kleber Pagú (foto), que fez a arte e a concepção. A curadoria é de Fernanda Bueno, que realizou a pesquisa junto com Heloísa Abreu Dib. O projeto é da Axé no Corre Produções, empresa de Pagú e Bueno.
O prédio fica quase na esquina da Avenida Senador Queirós com a Rua 25 de Março, reduto árabe e forte símbolo da imigração e do empreendedorismo desta comunidade na capital paulista. Foi lá que os árabes foram acolhidos ao chegar na cidade e estabeleceram seus comércios. A obra homenageia também os 70 anos da fundação da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, que patrocina o projeto com apoio da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) e da certificadora Cdial Halal.
A instalação envolve pintura, iluminação e outros materiais, como EPS rígido. A cor será predominantemente dourada e contará com um arabesco, símbolo árabe. “O Brasil tem a maior comunidade italiana, japonesa, portuguesa, de povos árabes. Tem mais libanês no Brasil do que no Líbano. Queremos mostrar essa capacidade do Brasil de abraçar conjuntos de migrações e falar sobre essas culturas, conhecer nossa história com a cidade, a busca pela ancestralidade com acesso à informação”, disse Pagú à ANBA, frisando sua ascendência africana.
O Edifício Garagem Automática Senador é considerado um ícone arquitetônico da cidade desde sua inauguração, em 1967, com seus 29 andares, na época o mais alto edifício garagem do Brasil e da América Latina. Foi construído pela família de Zaki Dib, imigrante sírio da cidade de Homs. A família administra o prédio até hoje, e Heloísa Dib, neta de Zaki, é a responsável da família pelo projeto. Foi ela quem recebeu o primeiro contato de Pagú. Eles levaram o projeto à Câmara Árabe e juntos, aprovaram a arte que tem como temas a imigração e as contribuições dos árabes a São Paulo e ao Brasil.
“Vi uma chamada no jornal para prédios que tivessem interesse em receber intervenção artística e inscrevi o edifício. Minha ideia era aproveitar as paredes livres para colocar uma instalação, mas ligada à imigração árabe. Nesse conceito, levei a ideia à minha família que aprovou.” contou Heloísa à ANBA.
“Levamos em consideração a proximidade com a [Rua] 25 de março. A geografia de cada instalação é muito importante, a história que vamos contar é muito importante. Este foi o primeiro edifício garagem de São Paulo, tem 70 metros de altura. Encontrar a [Avenida] Senador Queirós, encontrar essa família, a questão da imigração árabe, uma arquitetura icônica que ficou esquecida, tudo isso foi levado em conta para a concepção do projeto”, disse Pagú.
O processo de pesquisa de Fernanda Bueno e Heloísa Dib levou cerca de um ano, contou o artista. “A cor do monumento é ouro, não é amarelo, é ouro porque dentro das contribuições dos povos árabes está a utilização do ouro como moeda, como algo realmente comercial. Também incorporamos os arabescos e desenvolvemos a arte”, disse.
A diretora Cultural da Câmara Árabe, Silvia Antibas, disse que a obra é simbólica para a comunidade árabe e para celebrar os 70 anos da Câmara Árabe por estar muito próxima à rua 25 de Março.
“O arabesco simboliza toda a parte da comunidade árabe, da simbiose e integração da comunidade no centro da cidade, em uma rua que representa exatamente o empreendedorismo dos imigrantes. Foi lá onde eles se reuniram e se instalaram, lá podiam escutar música árabe, ler jornal em árabe. Outros grupos vieram com imigração institucional, com empregos em fazendas, por exemplo. Os árabes não, vieram espontaneamente e este foi o local onde eles se acolheram”, disse Antibas à ANBA.
“Nada melhor que homenagear a rua 25 de Março, em um prédio que vai dar uma visibilidade grande para o projeto e um presente para a cidade de São Paulo”, completou a diretora.
O prédio está recebendo a pintura dourada a partir desta quinta-feira (23) e quem passar pelo centro da cidade conseguirá acompanhar a obra viva.
Esta é primeira de quatro partes do projeto “Monumento da Imigração Árabe”, que envolve as outras três empenas do edifício e a cobertura. Pagú e Bueno buscam patrocínio para concluir o projeto. “Não tem nenhum monumento na cidade de São Paulo que tenha esse formato. O prédio é o monumento”, disse Pagú. Cada fachada conta uma parte da história da imigração árabe e suas contribuições para a humanidade, na Medicina, Arquitetura, Álgebra, entre outras.
Pagú tem em seu portfólio mais de 200 instalações artísticas no Brasil e em outras partes do mundo. “Eu procuro repensar a cidade, os espaços públicos, a arte, a cultura e a informação”, declarou.
Contato
Pagú e Fernanda Bueno
Axé no Corre Produções
axenocorre@gmail.com
(11) 99398-9761
(11) 99958-2888