Alexandre Rocha
São Paulo – Cinco setores diferentes estão representados na lista das cinco maiores companhias exportadoras do Brasil: petróleo, mineração, indústria aeronáutica, de alimentos e indústria automobilística. Juntas elas faturaram no ano passado mais de US$ 11,85 bilhões com as vendas externas, o que corresponde a 16,22% de tudo o que o Brasil exportou.
Mas quais são essas empresas? Não é tão difícil adivinhar, já que habitualmente elas ocupam os primeiros lugares no ranking, subindo ou caindo uma posição de um ano para outro. A lista é encabeçada pela Petrobras (petróleo) que exportou em 2003 o equivalente a quase US$ 4,4 bilhões, em segundo lugar aparece a Companhia Vale do Rio Doce (mineração) com vendas externas de US$ 2,033 bilhões, seguida da Embraer (indústria aeronáutica), cujas vendas de aviões renderam US$ 2,007 bilhões.
Aí está a grande novidade da lista divulgada no início do ano pela Secretaria de Comércio Exterior (Secex), a Embraer perdeu a segunda colocação para a Vale do Rio Doce. No ano passado, a fábrica de São José dos Campos pretendia vender inicialmente 148 aviões, mas entregou apenas 101, menos do que em 2002 (131), 2001 (161) e 2000 (160).
Todas as empresas, à exceção da Embraer, tiveram aumento nas suas receitas de exportação em 2003. Em termos percentuais, a que teve o maior crescimento foi a Bunge Alimentos (39,48%), com exportações de US$ 1,94 bilhão, quarta colocada no ranking, provando que o ano foi realmente bom para os exportadores de commodities agrícolas, com o aumento da safra de soja e dos preços do produto no mercado internacional.
No quinto lugar aparece a Volkswagen do Brasil, que vendeu o equivalente a US$ 1,485 bilhão ao exterior, inclusive com a abertura dos mercados dos países árabes no Oriente Médio e no Norte da África e com exportações para a Alemanha, onde fica sua matriz.
Ledo engano
Apesar de cada uma das empresas do topo da lista representar um setor, José Augusto de Castro, diretor da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), disse que o dado engana e não é um indicativo de que a pauta de exportações está se diversificando. Isso porque, segundo um estudo feito pela associação, das 117 maiores empresas exportadoras, 80 trabalham com commodities minerais ou agrícolas e são responsáveis por 85,51% de tudo o que o Brasil vende para o exterior.
Mesmo entre as cinco maiores não dá para desconsiderar que três delas trabalham como commodities, a Petrobras (petróleo), a Vale (minérios) e a Bunge (soja).
Na avaliação de Castro, isso torna a pauta de exportações brasileiras vulnerável. “Hoje o preço das commodities está elevado e o Brasil leva vantagem com isso. Mas trata-se de uma bolha que pode estourar de repente”, afirmou.
Segundo ele, a venda de commodities é mais simples, na verdade “a empresa não vende, é comprada”. Isso porque são poucos os países grandes produtores de commodities e todos bem conhecidos internacionalmente. Agora, no caso de produtos manufaturados, a companhia tem de ir atrás dos mercados.
A exceção nessa lista, de acordo com Castro, é a Embraer, que serve como ferramenta de marketing da capacidade tecnológica e industrial do país.
Um dos entraves para o aumento da participação de produtos de maior valor agregado na pauta, na visão de Castro, é a falta de pesquisa industrial no país. Geralmente as empresas compram tecnologia estrangeira ou simplesmente copiam.
E quando você opera sob licença de terceiros está sujeito às regras impostas por estes. A Volkswagen, por exemplo, embora figure entre as maiores exportadoras, só vende no mercado externo com autorização da matriz alemã.
Castro defende que o governo conceda incentivos fiscais para quem investir em pesquisa e em promoção comercial no exterior.
Privadas?
Sob este ponto de vista, é possível observar que, entre as cinco maiores, não há nenhuma empresa nascida originalmente do empresariado brasileiro. A Petrobras é estatal, a Vale e a Embraer são ex-estatais e a Bunge e a Volks são de origem estrangeira.
A Petrobras praticamente detém o monopólio do comércio de petróleo e combustíveis no Brasil. Esse monopólio não é mais de direito, mas ocorre na prática. Já as ex-estatais, na opinião de Castro, quando foram privatizadas, os investimentos iniciais já haviam sido amortizados e elas puderam se focar “em áreas de crescimento mais rápido”.
“Todas as grandes empresas que eram estatais cresceram”, afirmou o executivo. Na lista das 50 maiores exportadoras aparecem outras companhias que já pertenceram ao estado, como a Companhia Siderúrgica de Tubarão, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) e a Cosipa.
No caso das multinacionais, “a estrutura vem de fora”. Ou seja, embora as montadoras de automóveis façam algum investimento em pesquisa, o grosso da tecnologia vem da matriz, segundo Castro. Para ele, o interesse das fábricas de automóveis pelas exportações pode ser explicado pela “estagnação do mercado interno” e pelo fato de todas elas terem uma capacidade instalada maior do que a produção atual. Outros fatores, na avaliação do executivo, são o crescimento da economia dos Estados Unidos, que pode absorver parte da produção, e acordos com outros países, como a China e a África do Sul.
A General Motors e a Ford estão também entre as maiores exportadoras, respectivamente em 7º e 10º lugar. No ano passado, a GM faturou US$ 997,7 milhões com as vendas externas e a Ford US$ 786,4 milhões.
Entre as 10 primeiras aparecem ainda a Cargill Agrícola (US$ 1,163 bilhão), a Siderúrgica de Tubarão (US$ 820,4 milhões) e Aracruz Celulose ( US$ 818,3 milhões).
Perfis
Leia nos links abaixo os perfis das cinco maiores exportadoras do Brasil, que foram originalmente publicados pela ANBA entre os dias 22 e 26 de março.