Roma, Itália – Uma corrida de táxi por um país árabe. Um artista europeu que trabalha com fotografia, internet e outras ferramentas da chamada New Media Art. O resultado: uma obra de arte composta por 10 imagens com enquadramento cinematográfico, feita para ser vista na web, no endereço http://www.the5fifthday.com/. É o The Fifth Day, trabalho de Carlo Zanni, com fotos feitas dentro de um táxi, em Alexandria, no Egito, que será exposto no Macro Future, em Roma, no próximo mês de setembro, durante o Festival Internacional de Fotografia.
Zanni começou a desenvolver o trabalho em meados de 2008 e o concluiu em dezembro do mesmo ano. A ideia surgiu após um período no Egito, onde o artista foi residente no ACAF (Alexandria Contemporary Arts Forum), em 2007. As imagens de Zanni, como todas, contam uma história, mas não são estáticas. Detalhes das fotos se transformam e mudam de acordo com alguns dados sociais, políticos e econômicos do país árabe. “São números que refletem a situação sócio-política egípcia, que é um medidor importante para todo o Oriente Médio, com um resultado poético, emocionante”, diz o artista.
Entre os dados selecionados por Zanni estão, por exemplo, a proporção de mulheres ocupando postos no parlamento nacional do país árabe, mortalidade infantil, percepção da corrupção, índice de analfabetismo etc. A obra foi mostrada pela primeira vez ao público no ano passado, em Amsterdã, na Holanda, numa iniciativa de promoção de arte contemporânea que reunia curadores e artistas durante um ano inteiro de trabalho. Em outubro, foi exposta em Nova York, no Chelsea Museum.
Pollack
A inspiração para a obra veio de um filme do cineasta Sidney Pollack, Três dias do Condor, de 1975. Segundo Zanni, foi um dos primeiros longa-metragem de espionagem, de larga distribuição, que tratava do interesse norte-americano, via seus serviços de inteligência, para o controle do Oriente Médio. O objetivo era garantir o fornecimento de petróleo. “É uma obra profética”, ressalta o artista, que foi buscar também no livro que deu origem ao filme, do autor James Grady, a linha condutora para o seu trabalho.
“No livro eram seis dias, então a minha ideia foi extrair e atualizar alguns temas presentes no filme e desenvolver uma obra complementar, dos três dias que não foram contemplados no longa”, explica o artista, que criou uma trilogia, sendo a primeira The Fifth Day. Para dar mais a cara de cinema à obra, Zanni convidou Kazimir Boyle para compor a música que se desenrola durante a apresentação das imagens no site. “É um jovem de grande talento, que trabalha tanto para Hollywood como para projetos menores”, conta.
A segunda parte da obra de Zanni, é The Sixth Day, que foi concluída no ano passado. “É uma escultura em forma de bandeira, que se movimenta com um vento não presente na sala, mas que vem do seu interno, passando pela haste”, explica e completa: “a velocidade e a direção é que são a novidade. São linkadas a dados extraídos da internet, em tempo real, que mostram a demanda por petróleo de 30 diferentes cidades do mundo, disponibilizados pela Joint Oil Data Initiative”.
Jovem talento
A trilogia de Zanni é seu primeiro trabalho sobre o Oriente Médio. “Acredito que a troca de experiência e conhecimento de um lugar novo é fundamental”, diz o artista que já expôs em Los Angeles e Nova York, nos Estados Unidos, Londres, Roma etc. A base de sua obra é sempre o tempo e, para dar forma às suas ideias, usa recursos como a fotografia, performance, pintura e a internet.