Da Agência Brasil
Brasília – Auto-estima elevada, e números para demonstrar os resultados concretos da política externa empreendida pelo governo, foram os destaques da entrevista concedida ontem (11) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva a jornalistas estrangeiros e brasileiros que cobrirão a sua viagem à China, a partir do próximo dia 21.
Lula aproveitou o anúncio da visita para fazer um balanço das missões chefiadas por ele, que já chegaram a 22, e que se completam, agora, com a China, coroando, no seu entender, "o êxito de uma política internacional iniciada no dia 1º de janeiro do ano passado".
O objetivo central da política empreendida pelo governo é formatar um novo mapa geopolítico, equilibrando as forças entre os Estados Unidos, União Européia e o resto do mundo.
"Uma das formas que a gente tem para fazer com que parceiros importantes como a União Européia e Estados Unidos flexibilizem na relação com Brasil é ter outras relações fortes e que eles percebam que a gente não precisa tanto deles e que não estamos tão dependentes".
A visita à China é qualificada pelo presidente como "a grande viagem", não só por se tratar do encontro entre o maior país em desenvolvimento do hemisfério oriental e o maior país em desenvolvimento do lado de cá, mas pela coincidência de posições adotadas pelos dois países nos foros internacionais como a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a Organização das Nações Unidas (ONU).
"Estamos pensando em fazer dessa viagem uma das mais importantes viagens de negócios e uma das grandes viagens políticas do governo brasileiro", anunciou.
As perspectivas para a China são tão otimistas que acompanham o presidente, além de seis ministros, 421 empresários cadastrados até agora. "Como ainda falta uma semana para viajar quem sabe aparecem outros empresários brasileiros querendo ir também", salientou o presidente, ao ressaltar que a maior comitiva até hoje contou com 150 empresários.
As possibilidades de negócios vão desde o setor de turismo, com a inauguração para breve do vôo direto entre os dois países, até o setor aeroespacial, passando pela área industrial, com parcerias nos setores ferroviário, siderúrgico e agronegócio.
Lula disse que antes de contabilizar os resultados da viagem à China já pode comemorar o incremento em 59,7% das exportações brasileiras aos países já visitados. "O resultado que obtivemos até agora tem sido satisfatório para nós", lembrou, acrescentando que as exportações estão crescendo para todos os países.
Segundo o presidente, têm duplicado as comitivas e delegações empresariais tanto do Brasil para esses países quanto desses países para o Brasil. Ele anunciou que as vendas para os vizinhos da América do Sul cresceram 61,5%, com destaque para a Venezuela, com 220% de aumento, passando de US$ 112,7 milhões para US$ 361,8 milhões. Com os países da África Austral, as exportações cresceram 36,3%. Mas a região registrou a única queda nas vendas, em São Tomé e Príncipe, passando de US$ 134 milhões para US$ 58 milhões.
Os países árabes foram os que, até agora, deram o melhor retorno, comprando do Brasil 63,3% a mais neste início de ano do que nos mesmo período de 2003. Para a Síria os embarques aumentaram 735% e para a Líbia 109,7%.
A propósito da Líbia, o presidente aproveitou a visita que fez àquele país para destacar o tema da auto-estima e da ousadia de sua política internacional. Ele lembrou que quando encontrou-se com o presidente Muammar Kadaf, sofreu inúmeras críticas e mereceu editoriais irônicos. "Quando Blair e o Chirac resolvem ir, entende-se como uma coisa fantástica, coisa moderna, coisa política", justificou Lula.
"Essa pequenez de comportamento é que faz com que não saiamos do terceiro mundo, do ponto de vista econômico e do ponto de vista político", comentou, referindo-se à recente visita do primeiro-ministro da Inglaterra, Tony Blair, e do presidente da França, Jaques Chirac, ao dirigente líbio.
Ainda sobre a China, Lula lembrou também que em 2004 se completam 30 anos das relações entre os dois países e que, com essa viagem, a relação está definitivamente consolidada. Em 2003, a China se tornou o maior parceiro comercial do Brasil, com fluxo comercial chegando a US$ 8 bilhões. As exportações brasileiras para a China saíram de US$ 1,1 bilhão, em 2001, para US$ 4,5 bilhões, no ano passado.
A agenda do presidente, durante sua visita, inclui, além de reuniões com o presidente Hu Jintao e com primeiro-ministro China Wen, a participação no seminário "Brasil-China: comercio e investimento. Perspectivas para o Século XXI", instalação do Conselho Empresarial Brasil-China e exposição de arte indígena brasileira.
Um outro evento considerado relevante pelo presidente é a Conferência do Banco Mundial (Bird)sobre combate à pobreza. Lula fará a abertura do evento.

