Alexandre Rocha
São Paulo – As ações promovidas pela Agência de Promoção de Exportações do Brasil (Apex) até a primeira quinzena de novembro deste ano geraram negócios no valor de US$ 398,7 milhões e, espera-se, devem resultar em contratos de exportações no total de US$ 2,063 bilhões em 2004, segundo balanço apresentado pelo presidente do órgão, Juan Manuel Quirós, na última sexta-feira (12).
“Essa é a soma das nossas avaliações dos negócios que devem ocorrer”, disse Quirós, referindo-se à cifra prevista para 2004. De acordo com ele, os negócios viabilizados pelas ações da Apex foram responsáveis pela criação de 111.385 postos de trabalho.
Em 2003, segundo Quirós, a Apex promoveu 411 eventos internacionais, incluindo a participação em 328 feiras de negócios; 31 “projetos compradores”, por meio dos quais a agência convida compradores estrangeiros para visitarem o Brasil e suas empresas; 12 “projetos vendedores”, nos quais o órgão seleciona um setor e leva ao encontro do comprador internacional; oito missões comerciais, lideradas pelo ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, e 31 missões setoriais.
Ainda de acordo com ele, foram prospectados cinco mercados emergentes: África do Sul, Rússia, Oriente Médio, China e Índia e trabalhados 46 setores da economia brasileira. Segundo Quirós, a estratégia da Apex privilegia, além da manutenção de mercados tradicionais, a conquista de novos parceiros comerciais.
Dentro dessa estratégia, a agência tomou como política trabalhar setor por setor nos eventos internacionais, consolidar produtos e investir no pós-venda para permitir a continuidade do fornecimento por um longo prazo. No total, 8.019 pequenas e médias empresas participaram das ações da Apex em 2003.
Um dos instrumentos mais importantes para atingir os objetivos da agência, segundo Quirós, é a utilização da “inteligência comercial”, ou seja, a coleta e análise dos dados sobre o que se passa no comércio internacional. “Nós sabemos o que o mundo está comprando e de quem”, afirmou.
De acordo com o presidente da agência, a Apex gastou quase todo o seu orçamento do ano, de R$ 198 milhões, com essas ações. Mas, segundo ele, foram registrados aumentos expressivos nas exportações dos setores que desenvolveram projetos em conjunto com a Apex: 29% no setor de flores, 30% no de máquinas e equipamentos, 40% na indústria têxtil, 18% no de cosméticos, 18% no de equipamentos médicos e hospitalares e 28% no de frangos.
Quirós acrescentou que a agência promoveu também projetos de interesse social, como de artesanato, no qual mil famílias de seis estados foram capacitadas para produzir peças para exportação; o de frutas tropicais que, segundo ele, gerou 10 mil novos empregos em 15 estados; o de produção de cachaça artesanal para exportação, que criou 5,25 mil empregos em 18 estados; e o de mel, no qual estão sendo capacitadas 1,5 mil famílias para produzir a mercadoria para o mercado exterior.
Foram assinados ainda acordos com seis estados do país para o incentivo à produção de mercadorias para exportação e outros dois estão para ser fechados. “Vamos continuar trabalhando com os estados e em 2004 queremos fechar nove acordos de cooperação, principalmente para fortalecer a marca Brasil”, disse Quirós. Segundo ele, os recursos são aplicados nos segmentos que o estado tem vocação produtora.
Semana do Brasil em Dubai
Um dos últimos eventos promovidos pela Apex foi a Semana do Brasil em Dubai (Brazil Week & Trade Exhibition), realizada entre os dias 7 e 9 de dezembro nos Emirados Árabes Unidos e que teve a presença do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
No evento, de acordo com a agência, foram fechados negócios no valor de US$ 30,7 milhões e há a expectativa de que nos próximos 12 meses contratos de exportação no total de US$ 115 milhões sejam fechados, ainda em decorrência dos 1.287 contatos comerciais feitos entre empresários brasileiros e árabes na feira.
Segundo Quirós, 100 empresas brasileiras participaram da Semana, que foi organizada pelo Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Apex e Câmara de Comércio Árabe-Brasileira (CCAB).
Ele acrescentou que 1,3 mil representantes de empresas de 18 países da região, e de fora dela, visitaram a feira e 18 mil empregos devem ser criados no Brasil por causa dos negócios impulsionados pelo evento.
No total, de acordo com Quirós, a organização da Semana custou R$ 1,5 milhão. Além da exposição de produtos e serviços, ela contou com rodadas de negócios, apresentações musicais e da cultura brasileira e demonstrações culinárias.
Para o jantar de abertura da Semana, que teve a participação de Lula, foram convidadas 650 pessoas, sendo que 482 eram de países árabes. Segundo Quirós, o presidente ainda se reuniu a portas fechadas com os 22 maiores representantes do Produto Interno Bruto (PIB) dos Emirados, ocasião em que falou sobre as oportunidades de investimentos no Brasil.
“O presidente é um grande vendedor. O Brasil tem dois produtos extraordinários: Um deles é o país em si e o outro é o presidente Lula”, afirmou Quirós. O presidente da CCAB, Paulo Sérgio Atallah, garantiu que o evento será realizado novamente em 2004.
Construção civil
Ainda em Dubai, a Apex e a CCAB promoveram a participação de 15 empresas na Big 5, maior feira da construção civil da região, realizada entre os dias 29 de novembro e 3 de dezembro. Um dos principais objetivos era buscar contatos com distribuidores locais para tentar conquistar uma fatia do processo de reconstrução do Iraque.
Segundo Quirós, a participação na Big 5 gerou expectativas de negócios no valor de US$ 22,25 milhões para o próximo ano. Ele revelou que algumas empresas brasileiras vão participar de licitações que ocorrerão nos próximos quatro meses em países do Golfo Pérsico (também conhecido como Golfo Arábico).
“As empresas querem participar de novo em 2004, por isso já reservamos um lugar maior”, disse Quirós. O estande brasileiro na Big 5 tinha 171 metros quadrados. Segundo Paulo Atallah, a idéia é dobrar esse espaço no próximo ano.
Para o presidente da Apex, as empresas brasileiras de engenharia, materiais e equipamentos de construção têm chances reais de participar indiretamente da reconstrução do Iraque, apesar das restrições que o governo norte-americano tenta impor a companhias de países que não apoiaram a guerra. “Naturalmente eles vão acabar tendo que comprar de alguém e nada impede o Brasil de vender”, ressaltou. Ele acrescentou ainda que cerca de 200 empreendimentos imobiliários estão em desenvolvimento só em Dubai.
Ainda em relação aos países árabes, ele ressaltou que foram realizadas oito missões comerciais para região, além da viagem de Lula a cinco desses países. “O presidente fez o que tinha de ser feito, ele vendeu o Brasil de forma institucional. Ele é um vendedor profissional, agora nós vamos dar continuidade a esse trabalho”, declarou.
Ao divulgar os números das ações no Oriente Médio, Quirós rebateu as críticas à viagem de Lula, como as feitas pelo ex-chanceler Celso Lafer que contestou a eficácia da missão em termos comerciais e disse que o Brasil deveria priorizar os contatos com a China e com a Índia. Para Quirós, sem o apoio do governo as empresas brasileiras não teriam feito os negócios que fizeram nos países árabes.
2004
Para 2004 a Apex pretende organizar pelo menos o mesmo número de eventos deste ano. Já no primeiro semestre está programada a realização de feiras semelhantes à Semana do Brasil em Dubai em Xangai, na China, e em Bombaim, na Índia.
Está programada também a participação brasileira em 22 eventos nos Estados Unidos e outros tantos na Europa. “Pretendemos também montar uma estrutura para atender os países da América Latina e trabalhar no Leste Europeu”, disse Quirós. Além disso, a agência continuará a atuar em outros mercados emergentes, como a Rússia e a África do Sul. Quirós avalia que 9,2 mil empresas devem participar das ações da Apex no próximo ano.
A agência vai tocar também um “grande projeto” no setor de agricultura orgânica. Segundo Quirós, este ano ele esteve no Japão onde foram escolhidos 18 produtos que os japoneses têm interesse em importar. Em janeiro dois técnicos do país asiático virão ao Brasil mostrar as especificações técnicas para o cultivo desses vegetais. Ele disse que um projeto semelhante já está sendo feito em parceria com a Alemanha.
Prêmio
Ainda na sexta-feira, Quirós anunciou que o Brasil conquistou 18 prêmios no concurso internacional de design “IF Design Awards”, o “oscar do design” de acordo com ele, realizado em Hannover na Alemanha.
Segundo Quirós, as empresas vencedoras fazem parte do projeto “Design Excellence Brazil” desenvolvido pela Apex e pela Câmara de Comércio Brasil-Alemanha, que tem como objetivo levar ao exterior produtos de maior valor agregado produzidos no Brasil. “O design agrega maior valor final aos produtos”, afirmou.