Alexandre Rocha
São Paulo – Aumentou a fatia representada pelo Oriente Médio e pela África nas exportações do agronegócio brasileiro. "Vale a pena ressaltar o crescimento da participação do Oriente Médio (de 5,9% para 7%); e da África (de 4,1% para 5,4%)", diz relatório sobre os resultados da balança comercial do setor no primeiro semestre, divulgado na semana passada pelo Ministério da Agricultura.
No mesmo período, diminuiu a participação de clientes mais tradicionais como a União Européia (de 36,8 para 36,1%) e do Nafta (Estados Unidos e Canadá, sem o México), que caiu de 18,2% para 15,4%. No total, as exportações do setor somaram US$ 18,5 bilhões no semestre, contra US$ 13,6 bilhões no intervalo entre janeiro e junho do ano passado. Em junho, os embarques renderam US$ 4,4 bilhões, ante US$ 2,6 bilhões no mesmo mês do ano passado.
Para o Oriente Médio, as vendas de produtos agropecuários somaram US$ 1,297 bilhão nos primeiros seis meses do ano, contra US$ 804,3 milhões no mesmo período de 2003, o que significa um crescimento de 61,3%. Em junho, o aumento das receitas foi de 209,39%, passando de US$ 120,3 milhões para US$ 372,2 milhões.
Para fins estatísticos, o governo brasileiro considera como parte do Oriente Médio os países árabes Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Iêmen, Iraque, Jordânia, Líbano, Omã e Síria, além de Israel e Irã, que não são nações árabes. O Irã foi responsável pela maior parte das compras em junho (US$ 205,5 milhões).
Já para a África, as vendas aumentaram 76,14% no primeiro semestre, passaram de US$ 564 milhões para US$ 993,5 milhões. Em junho, os embarques brasileiros para o continente africano renderam US$ 215,8 milhões, contra US$ 102,8 milhões em junho do ano passado, o que representa um crescimento de 109,85%.
Na África estão localizados os países árabes Argélia, Egito, Líbia, Marrocos, Tunísia, Sudão, Somália, Mauritânia, Dijibuti e Ilhas Comores.
Fatores de influência
Na avaliação do vice-presidente de assuntos internacionais da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), Gilman Rodrigues, o sucesso do Brasil nesta seara se explica pela qualidade dos produtos, pelos preços competitivos e pelos problemas sanitários ocorridos em outros países fornecedores de produtos de origem animal, como os Estados Unidos.
Segundo ele, problemas como o mal da vaca louca ou gripe aviária, além de atingirem diretamente as criações de gado e frangos, aumentam a desconfiança dos importadores na compra de outros produtos do setor.
Além disso, em sua avaliação, o Brasil é reconhecido como grande fornecedor de produtos agrícolas em qualquer parte do mundo. "Temos o maior saldo comercial do mundo no setor agropecuário, isso nos torna o maior exportador líquido", disse.
No caso específico do Oriente Médio, Rodrigues disse que, como importador de petróleo, a tendência do Brasil é buscar equilíbrio na balança comercial com seus fornecedores, o que abre caminho para os produtos do setor.
"Além disso, o Brasil se tornou conhecido como um fornecedor fiel e, por outro lado, os países árabes são fiéis pagadores", afirmou.
Já o pesquisador do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Icone), Mário Jales, disse que compradores tradicionais do Brasil, como a União Européia e os Estados Unidos, impõem uma série de barreiras tarifárias e não-tarifárias às importações de produtos brasileiros. "Já os árabes aceitam estas mercadorias com maior facilidade", declarou.
Ele acrescentou que os árabes levam muito em consideração o contato pessoal na hora de negociar. "E o Brasil investiu muito nesse lado pessoal", declarou.
Na avaliação de Jales há um terceiro fator que contribuiu para o aumento da participação do Oriente Médio e da África nas exportações de alimentos do Brasil, que é o abate halal de bovinos e aves, feito de acordo com as exigências muçulmanas e praticado por vários frigoríficos do Brasil.
Outras estatísticas
O Icone tem suas próprias estatísticas sobre as exportações do agronegócio, cuja metodologia difere da adotada pelo governo brasileiro. O instituto adota as regras da Organização Mundial do Comércio (OMC), que não reconhece, por exemplo, pescados e derivados de borracha natural como produtos do setor agropecuário.
A divisão do mundo em blocos econômicos também é diferente. Para efeito de estudos, o instituto considera como parte do Oriente Médio os países árabes Marrocos, Argélia, Tunísia, Egito e Líbia, todos localizados na África, e o Iraque, Kuwait, Arábia Saudita, Bahrein, Catar, Emirados Árabes Unidos, Omã, Iêmen, Jordânia, Líbano e Síria, além dos não-árabes Irã, Israel e Turquia.
Adotadas essas regras, Jales disse que o Oriente Médio ficou em terceiro lugar em 2003 entre os blocos importadores de produtos do agronegócio brasileiro, atrás apenas da Europa e da Ásia, e na frente da América Latina e da América do Norte.
Pelos cálculos do instituto, as exportações do setor para o Oriente Médio saltaram de US$ 1,3 bilhão no ano 2000 para US$ 2,6 bilhões em 2003, um aumento de 100%.

